quinta-feira, 11 de julho de 2013

Pesquisa em andamento sobre homens trans está sendo realizada pelo Nuh/UFMG

O Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania LGBT (Nuh) da UFMG está realizando pesquisa sobre acesso à saúde, dados de violência e outros direitos sociais na população de homens trans em Minas Gerais e São Paulo - em parceria com a Associação Brasileira de Homens Trans (ABHT). A pesquisa será realizada entre os anos de 2013 e 2014.

Resumo da pesquisa:
Projeto: Transexualidades/Transgenereidades e Saúde Pública no Brasil: entre a invisibilidade e a demanda por políticas públicas para homens trans 

Órgão financiador: CNPq
Equipe da UFMG:  Pesquisadores -  Érica Souza (Profa. Depto. Sociologia/Antropologia), Marco Aurélio Prado (Prof. Depto. Psicologia); Leonel Santos (doutorando), Rafaela Vasconcelos (mestranda); Sofia Repolês e Joicinele Pinheiro (bolsistas de graduação); Colaborador: Igor Monteiro (graduado) e Isadora França Lima (graduanda). Pesquisadora externa: Paula Machado (Profa. Depto. Psicologia UFRGS); Colaborador externo: Leonardo Tenório (Presidente da ABHT).
Resumo:
As/os transexuais e transgêneros são potencialmente agentes de deslocamentos em relação ao binarismo de gênero e à matriz heterossexual que são vivenciadas, corporificadas, na prática. Contudo, a patologização reduz essa experiência diversa a uma doença e busca adequar os corpos trans ao modelo binário heterossexual. Neste sentido, reitera a norma que pressupõe a relação causal e direta entre sexo e gênero. Nota-se que nos campos do direito, saúde, educação, trabalho, assistência social, segurança e direitos humanos iniciativas para a população trans ainda se encontram geminais no Brasil. No caso especificamente de homens trans, iniciativas relacionadas à direito, saúde, educação, trabalho, assistência social, segurança e direitos humanos ainda são menos difundidas. Ainda que no Brasil não haja um levantamento aprofundado sobre a população trans masculina, uma série de preocupações se faz presente concernente a essa população, principalmente relacionadas às consequências da  violência de gênero, com orientação sexual e identidade de gênero e o acesso limitado ao Sistema de Saúde.  Dentro desse contexto, a partir de estudos internacionais e de relatos de homens trans no Brasil, destacamos os vários tipos de violência sofridos, além do risco de morte nessa população. Nesse sentido, entendemos que o processo de transição deva ser uma escolha do sujeito, uma ação autônoma, garantido pelo Estado e com acesso indiscriminado à saúde. Em outras palavras, a vivência desse processo, marcado pela invisibilidade, num cenário de autonomia dos sujeitos trans, deveria estar desvinculada da patologização, pois é justamente essa ausência de legitimidade e reconhecimento da autonomia e da autodeterminação do sujeito trans, que reforça a vulnerabilidade dos homens trans em termos jurídicos, políticos e sociais. Neste projeto abordamos essa temática pouco problematizada com foco na carência de visibilidade e de acesso a políticas públicas de saúde integral e específica para homens trans. Nossa pesquisa centralizará no mapeamento exclusivo da população trans masculina no Brasil, em especial nos Estados de Minas Gerais e São Paulo.
Os principais objetivos são:
ü  Mapeamento de redes sociais, discussões e articulações políticas da população trans realizadas através da internet
ü  Mapeamento regional dos indivíduos e identificação do perfil socioeconômico de transexuais masculinos (moradia, renda, escolaridade, profissão, situação familiar, acesso à saúde);
ü  Perfil da transexualidade (fase em relação à transição, quais as aspirações/desejos em relação às etapas da transição, e sob quais circunstâncias e motivos pelos quais se submeteriam – ou não - às intervenções corporais; se já modificaram os documentos);
ü  Caracterização das violências e discriminações a que homens trans estão submetidos, em diversos aspectos: violências simbólicas, físicas e verbais, problemas com empregabilidade, dificuldades do uso do nome social e de acesso à saúde.
ü   Caracterização das principais formas pelas quais homens trans tem acesso aos equipamentos da rede de saúde pública, as insuficiências do serviço de saúde em atender tais indivíduos, problemas sofridos em função do não acesso aos tratamentos de saúde e quais suas principais demandas. 
Metodologicamente, propomos duas fases da pesquisa, além da observação participante e de uma reunião preliminar e presencial com homens trans de BH e região a fim de subsidiar a elaboração do questionário. Primeira fase: mapeamento através da internet (redes sociais) considerando o âmbito nacional e aplicação de questionários online em âmbito nacional; 2ª fase: entrevistas semiestruturadas em âmbito regional (Minas Gerais e São Paulo).
             A elaboração e aplicação de questionários será resultado do primeiro mapeamento via internet e visará a busca de dados fundamentais para conhecimento da população e em particular um mapeamento das principais demandas da área de saúde. A partir dos questionários, alguns sujeitos serão selecionados para a entrevista, a fim de aprofundar a discussão sobre as demandas e elaboração de políticas públicas no campo da saúde para o grupo em questão, além de dados que poderão subsidiar a formulação de políticas para a saúde, mas que, levando em conta a escassez de informações públicas sobre esses sujeitos, propiciarão a visibilidade de homens transexuais enquanto grupo com sérios entraves ao acesso a direitos básicos. A observação participante se dará através da participação em atividades presenciais por parte dos homens trans, mapeadas através das discussões online, negociadas com os responsáveis pela organização das atividades e mediadas pelo presidente da ABHT. Durante a observação, conversas informais e registro em diário de campo serão ferramentas básicas.

Espera-se que os resultados toquem em questões como: o respeito ao uso do nome social nesses serviços; os processos de mastectomia, hormonização, histerectomia, metoidioplastia, transgenitalização e técnicas de reprodução assistida visando à parentalidade (gravidez do homem trans, do parceiro ou da parceira), entre outras formas e demandas de intervenção nos corpos de homens trans. O levantamento contribuirá para o processo de reconhecimento das diversas demandas sociais, bem como o contexto de invisibilidade desse grupo no âmbito das políticas públicas. Procurar-se-á compreender tanto as especificidades demandas dos homens trans quanto as insuficiências do serviço de saúde para a população em questão a partir de uma perspectiva regional, porém situada num contexto nacional de invisibilidade sociocultural e política dos homens trans.

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