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domingo, 9 de fevereiro de 2014

Índias, odaliscas, mulatas: a erotização do outro corpo feminino

Transformar os homens em escravos e as mulheres, em objetos sexuais, é prática comum ao longo da história no que diz respeito à dominação de um grupo por outro. Interessante é notar como, além de uma prática resultante de guerras e conquistas, a erotização do corpo feminino estrangeiro, o corpo da Outra, é incorporado à cultura dominante.

Traçando uma história do corpo, sobretudo no pensamento francês, Alain Corbin (2009) destaca que o imaginário erótico colonial, aquele que incide sobre os grupos colonizados, foi construído a partir de meados do século XIX, quando essa fantasia “toma corpo” – com o perdão do trocadilho. No caso da França, são os territórios da Argélia, do Norte da África e, mais amplamente, do Império Otomano, que desvelam as maiores fantasias e desejos do branco ocidental.
Odaliscas: a erotização que mistura traços da cultura oriental, da dança do ventre, com a cultura ocidental.

Pensamos, por um instante, nas imagens que marcam a nossa cultura. A imagem das odaliscas, a mulher sensual que encanta os homens pela dança do ventre, faz parte da representação erótica feminina do pensamento ocidental. E não me refiro a isso pelo fato da dança do ventre ser praticada também no Brasil. É mais que isso: os elementos desse tipo de dança foram incorporados no que podemos chamar de uma dança sensual. Reproduz-se parte da dança, mas em outros contextos e com outras finalidades.
Corbin (2009, p. 240) destaca que, aqui, “parecem ter-se misturado as imagens do harém e a do bordel, a possessão da dançarina egípcia e a da prostituta”. Vale destacar que essa erotização se dá de forma estereotipada, fruto da desejada ignorância do grupo dominante sobre a cultura subjugada.
 
Boas doses de xenofobia e racismo marcam essas concepções. Pensemos, agora, nas mulheres negras. Elas não precisam ser estrangeiras para ser O Outro. Em uma cultura que valoriza principalmente a cor branca, as mulheres negras (e os homens também) sofrem preconceito. Embora tenhamos uma população negra expressiva no Brasil, ainda convivemos com a caricatura da mulata, aquela mulher cuja sexualidade está sempre à flor da pele, a mulher “da cor do pecado”.

Mulatas: o corpo negro feminino cuja “cor do pecado” aponta para uma sexualidade sempre disponível.

Voltando no tempo, podemos pensar nas milhares de Iracemas que já tivemos: as mulheres indígenas que se envolviam sexualmente com os colonizadores.

O que as odaliscas, as mulatas e as índias têm em comum, para o que estamos analisando, é o fato de serem mulheres e, todas elas, fruto de intensa objetificação sexual. Evidentemente, são modelos que não condizem com a realidade, haja vista a diversidade de mulheres dentro de cada uma dessas categorias.
Ainda, tal erotização incide com força sobre o corpo feminino, mas não sobre o masculino. A imagem dos sultões, dos negros ou dos índios não nos remete diretamente à sexualidade. Se podemos falar de um homem que é desejado e cujo fenótipo é valorizado na cultura ocidental é exatamente a do homem ocidental, caucasiano, branco de olhos claros.

Na prática, o padrão de beleza hegemônico masculino ou feminino se pauta pelo modelo clássico dos brancos de olhos claros e cabelos lisos. Mas, para as mulheres dos grupos colonizados, há frequentemente um espaço no imaginário sexual. Tal erotização está relacionada à estereotipação desse outro corpo feminino e, consequentemente, da redução de possibilidade de empoderamento dessas mulheres.

Logo, percebemos que, se existem formas de dominação mediadas principalmente pelo uso da força, há outras exercidas sutilmente pela suposta valorização do corpo.

Fonte: http://ensaiosdegenero.wordpress.com/2012/06/06/indias-odaliscas-mulatas-a-erotizacao-do-outro-corpo-feminino/

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Quando sua mãe diz que é gorda.

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Por Kasey Edwards

Querida mãe,
Eu tinha sete anos quando descobri que você era gorda, feia e horrorosa.

Até então, eu acreditava que você era linda – em todos os sentidos da palavra. Eu lembro de fuçar os antigos álbuns e ficar um bom tempo olhando para fotos suas no deck de um barco. Seu maiô branco, tomara que caia, parecia glamuroso como o de uma estrela de cinema. Sempre que eu tinha a chance, tirava aquele maiô maravilhoso do fundo do seu armário e ficava imaginando quando é que eu seria grande o suficiente para vesti-lo, quando é que eu seria como você.

Mas numa noite, tudo isso mudou. Estávamos todos vestidos para uma festa e você me disse: “Olha para você, tão magra e bonita. E olha para mim, gorda, feia, horrorosa.”
De primeira, não entendi o que você quis dizer.

“Você não é gorda.” - eu disse, inocente e com sinceridade - ao que você respondeu, “Sim, eu sou, querida. Sempre fui gorda, desde criança.”

Nos dias seguintes, eu tive algumas revelações doloridas, que moldaram a minha vida toda. Concluí que:
1. você deveria ser mesmo gorda, porque mães não mentem.
2. gordo é sinônimo de feio e horroroso.

3. quando eu crescesse, seria como você e, portanto, seria gorda, feia e horrorosa também.
Passados alguns anos, eu revivi essa conversa e todas as centenas de outras que vieram depois e tive muita raiva de você. Por não se julgar atraente ou digna de atenção. Por ser tão insegura. Porque, como meu grande modelo de mulher, você me ensinou a agir assim também.

A cada careta que você fazia em frente ao espelho, a cada nova dieta do momento que iria mudar sua vida, a cada colherada culpada de “ai, eu não devia”, eu aprendia que mulheres deveriam ser magras para serem dignas e socialmente aceitas. Que meninas deveriam passar por privações porque a maior contribuição delas para o mundo era a aparência física.

Exatamente como você, eu passei a minha vida inteira me sentindo gorda – (nem sei quando foi que “gorda” se tornou um sentimento). E porque eu acreditava que era gorda, também me achava imprestável.
Mas os anos se passaram. Sou mãe. E sei que te culpar por minha péssima relação com meu corpo é inútil e injusto. Hoje entendo que você também é um produto de uma longa linhagem de mulheres que foram ensinadas a se odiar.

Olha só para o exemplo que a vovó te deu. Era uma vítima da própria aparência, e fez regime todos os dias da vida dela até morrer, aos 79 anos. Costumava se maquiar para ir ao correio, por medo de alguém vê-la de cara lavada.

Eu lembro do “suporte” que ela te deu quando você anunciou que papai tinha te deixado por outra mulher. O primeiro comentário dela foi, “Eu não entendo porque ele te deixaria. Você se cuida, usa batom. Entendo que você esteja acima do peso, mas não é muito.”
Papai também não te acalentava.

“Meu Deus, Jan”, uma vez ouvi ele te dizer. “Não é difícil. Calorias consumidas x calorias gastas. Se você quer perder peso, você só tem que comer menos.”

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Aquela noite, no jantar, eu assisti você implementar essa dica milagrosa de emagrecimento do papai. Você preparou um chow mein para o jantar (se lembra como, nos anos 80, no subúrbio da Austrália, essa combinação de carne moída, repolho e shoyu era considerada o melhor da culinária exótica?). A comida de todo mundo estava em um prato comum, mas a sua estava em um pratinho de sobremesa.

Enquanto você sentava em frente a sua patética porção de carne moída, lágrimas silenciosas escorriam pelo seu rosto. Eu não disse nada. Nem quando os seus ombros começaram a curvar por causa do seu incomodo. Ninguém te amparou. Ninguém te disse para deixar de ser ridícula e se servir um prato decente. Ninguém te disse que você já era amada, já era boa o suficiente. Suas conquistas e seu valor – como professora de crianças com necessidades especiais e mãe de três filhos – eram repetidamente reduzidos à insignificância quando comparados aos centímetros de cintura que você não conseguia perder.

Me despedaçou o coração testemunhar seu desespero, e sinto muito por não ter te defendido. Eu já tinha aprendido, àquela altura, que você ser gorda era culpa sua. Eu tinha ouvido papai falar de perder peso como um processo “muito simples” – coisa que, ainda assim, você não conseguia fazer. A lição: você não merecia comer e com certeza não merecia nenhuma compreensão.

Mas eu estava errada, mãe. Hoje eu entendo o que é crescer em uma sociedade que diz para as mulheres que a beleza delas é o que mais importa, e, ao mesmo tempo, define padrões estéticos absoluta e eternamente fora de alcance. Eu também entendo a dor que é internalizar essas mensagens. Nós acabamos nos tornando nossos próprios carcereiros e nos impomos punições sempre que não conseguimos chegar lá. Ninguém é mais cruel conosco do que nós mesmas.
Mas essa maluquice precisa acabar, mãe.

Acaba com você, acaba comigo. Acaba agora. Merecemos mais – mais que ter dias horríveis por pensamentos ligados a nossa péssima forma física, desejando que ela fosse diferente. E não é mais só sobre você e eu. É também sobre a Violet. Sua neta tem apenas 3 anos e eu não quero que esse ódio ao corpo tome conta dela e estrangule sua felicidade, sua confiança, seu potencial. Eu não quero que ela acredite que a aparência é o maior ativo que ela possui, e que vai definir o valor dela no mundo. Quando a Violet nos olha para aprender a ser uma mulher, precisamos ser os melhores modelos que pudermos. Precisamos mostrar para ela, com palavras e com as nossas ações, que as mulheres são boas o suficiente exatamente como são. E para ela acreditar, nós precisamos acreditar primeiro.

Quanto mais velhas ficamos, mais pessoas queridas perdemos, doentes ou em acidentes. A perda é sempre trágica, sempre muito precoce. Às vezes eu penso o que essas pessoas não dariam para ter mais tempo num corpo saudável. Um corpo que as permitisse viver um pouco mais. O tamanho das coxas ou os pés de galinha não importariam. Seria vivo, e portanto seria perfeito.
O seu corpo é perfeito.

Ele te permite desarmar todo mundo com seu sorriso, contaminar cada um com sua risada. Te dá seus braços para envolver a Violet e apertá-la até ela gargalhar. Cada momento que gastamos nos preocupando com a nossa forma física é um momento jogado fora, um pedaço precioso de vida que a gente não vai recuperar nunca mais.

Vamos honrar e respeitar nossos corpos pelo que eles fazem ao invés de desprezá-los pelo que eles são. Vamos manter o foco em viver vidas saudáveis e ativas, deixar nosso peso de lado e largar nosso ódio ao corpo no passado, que é onde ele merece ficar.
Quando eu olhava para aquela foto sua de maiô branco anos atrás, meus olhos inocentes de criança enxergavam a verdade. Eu via amor incondicional, beleza e sabedoria. Eu via a minha mãe.

Com amor,
Kasey.

NotaTexto original em inglês, escrito por Kasey Edwards e publicado no Daily Life. Traduzimos com a autorização da autora. Agradecemos.
Kasey Edwards passou mais de uma década escalando os degraus corporativos como consultora até acordar uma manhã e descobrir que não queria mais ir ao trabalho. Nunca mais. Mistura humor, irreverência e muita pesquisa para escrever sobre satisfação no trabalho, maternidade, FIV, auto-estima e imagem. Mora em Melbourne com seu marido e a filha, e é autora de quatro best-sellers

Fonte: http://blog.cinese.me/post/63559684186/quando-sua-mae-diz-que-e-gorda

domingo, 21 de julho de 2013

Muito Bom... Vídeo inverte papéis entre homens e mulheres para questionar a cultura da violência na propaganda

Sarah Zelinsky, aluna do grupo de estudos de gênero da Universidade de Saskatchewan, no Canadá, se uniu a outros dois colegas para criar o vídeo ‘Representations of gender in advertising’ (‘Representações de gênero na propaganda’), que propõe reproduzir anúncios publicitários com uma troca de papéis entre homens e mulheres.
Com o objetivo de chocar e engajar o público, o filme mostra como a publicidade, muitas vezes, pode ser perversa com as mulheres.
“Algumas campanhas retratam a mulher como altamente sexual e submissa. E o homem, como dominante e agressivo”, destaca Sarah Zelinsky.
Confira:





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Fonte:
https://www.acontecendoaqui.com.br/estudantes-do-canada-criam-video-que-inverte-papeis-entre-homens-e-mulheres-para-questionar-a-cultura-da-violencia-na-propaganda/

terça-feira, 25 de junho de 2013

O FEMINA – Festival Internacional de Cinema Feminino é um evento dedicado

 

O Projeto
O FEMINA – Festival Internacional de Cinema Feminino é um evento dedicado majoritariamente a filmes dirigidos por mulheres, com o objetivo de incentivar a entrada da mulher no mercado de trabalho audiovisual, especialmente na direção cinematográfica, destacar a presença feminina no cinema, na arte e na cultura, e debater questões de gênero.

O Femina acontece anualmente na Caixa Cultural Rio de Janeiro com sessões a preços populares.
Também exibe em sessões especiais filmes co-dirigidos por homens e mulheres, e dirigidos por homens com temática feminina.

O Femina é estruturado em três blocos principais:
1- Mostras Competitivas – apenas para filmes dirigidos por mulheres, independente da temática;
2- Sessões e Programas especiais – onde os filmes são divididos por temática ou gênero;
3- Atividades paralelas- Seminário, Debates, Homenagens, e outras.

Em 2013, o Femina realizará sua 10ª edição!
Precisamos de sua ajuda para realizarmos uma edição super especial!
No momento para fazermos a nossa 10ª edição estamos com um prejuízo de 30 mil.

Patrocínios já confirmados

A 10ª edição do Femina em 2013 já conta com os patrocínios:
- da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República;
- da CAIXA, através da CAIXA Cultural Rio de Janeiro.
Estamos sendo prejudicados pela realização de grandes eventos no Rio de Janeiro, como a Copa das Confederações e a Jornada Mundial da Juventude, que fizeram os preços de hotéis e outros serviços dispararem. Sendo assim , mesmo com o patrocínio estamos com dificuldades de pagar esses serviços.

Vamos usar o dinheiro arrecadado no Catarse para pagar o hotel para as diretoras dos filmes exibidos, confeccionar os prêmios das mostras competitivas, para produzir os kits (Bolsa, bloco e camiseta) e para conseguir remunerar nossa equipe pelos trabalhos feitos no festival.

Equipe
Direção e curadoria
Eduardo Cerveira e Paula Alves
Produção Executiva
Paula Alves
Programação
Eduardo Cerveira
Coordenação de Produção
Caroline Moreira
Assistente de Programação
Eduarda Oliveira
Projeto Gráfico
Gianna Larocca
Programação Site
Estevão Sarcinelli – Pantalones
Fotógrafa
Duda Tavares
Vinheta, Edição de Vídeos e Making Of
Guilherme Guerreiro

QUER SABER MAIS SOBRE O FEMINA?
Histórico
O FEMINA surgiu em 2004 e foi o primeiro festival de filmes dirigidos por mulheres no Brasil e América Latina. Desde então, acontece anualmente, na cidade do Rio de Janeiro, e é referencia para outros festivais do gênero criados posteriormente em países da América do Sul inspirados em nossa realização.
Todo ano o Festival faz uma homenagem a mulheres que fazem ou fizeram parte do cinema brasileiro. Durante as 10 edições o Femina já homenageou as atrizes Betty Faria, Helena Ignez e Zezé Motta, as cineastas Tizuka Yamasaki, Ana Carolina, Carla Camurati, Beth Formaggini, Margreth Olin, Helena Solberg, a escritora Rose Marie Muraro, a fotógrafa Cláudia Ferreira e a produtora Alice Gonzaga.

O Femina também faz parcerias com festivais femininos em outras partes do mundo e apresenta uma mostra especial com curadoria do festival parceiro. O Femina já apresentou mostras dos festivais: Cannes e Films de Femmes, França; Femme Totale, Alemanha; Immagine Donna, Itália; La mujer y el Cine, Argentina; Mujer es Audiovisual, Colômbia.

O Femina também faz mostras especiais dirigidos por mulheres com o recorte em um país, já foram feitas mostras especiais dos países: Portugal, Irã, Áustria e Dinamarca.
Até hoje em 9 edições, o Femina já exibiu cerca de 900 filmes para 23 mil espectadores aproximadamente.
Atividades do projeto


A 10ª edição do FEMINAFESTIVAL INTERNACIONAL DE CINEMA FEMININO estima receber um público de 3.000 pessoas. Serão exibidos cerca de 100 filmes, entre curtas, médias e longas, de todos os gêneros, divididos entre as seguintes atividades:

- Abertura:
Durante a abertura será exibido um longa-metragem nacional ou estrangeiro, dirigido por uma realizadora, precedido de apresentação com a presença de representantes dos patrocinadores;

- Mostra Competitiva Internacional:
Composta de sessões com filmes selecionados dentre os inscritos pelo site do festival. Para a seleção de 2013 o festival já recebeu mais de 800 inscrições. Serão selecionados filmes nacionais e estrangeiros, de todos os gêneros e qualquer duração, dirigidos por mulheres, realizados a partir de 2011. Além dos filmes recebidos para consideração, os curadores do projeto convidam trabalhos vistos em importantes festivais, tais como Roterdã, Clermont-Ferrand, Berlim, Films de Femmes, Frauenfilmfestival, entre outros. Os filmes selecionados serão apresentados na Mostra Competitiva Internacional e avaliados por um júri durante a semana do festival, composto por especialistas (técnicos, diretores, produtores, críticos ou pesquisadores), que premiará os filmes nas categorias: Grande Prêmio Femina Internacional, Prêmio Especial do Júri Internacional, Melhor Direção Internacional e Melhor Destaque Feminino Internacional;

- Mostra Competitiva Nacional:
O processo seletivo é semelhante ao da competitiva internacional. Serão selecionados filmes brasileiros recebidos para seleção e/ou vistos em outros eventos brasileiros como o Festival do Rio, Festivais de Curtas de São Paulo e do Rio de Janeiro, Festival Brasileiro de Cinema Universitário, entre outros, de todos os gêneros e qualquer duração, dirigidos por mulheres, realizados a partir de 2011, que serão avaliados por um júri especialista durante o período do festival que premiará os filmes nas categorias: Grande Prêmio Femina Nacional, Prêmio Especial do Júri Nacional, Melhor Direção Brasileira e Melhor Destaque Feminino Nacional;

- Homenagem:
Todos os anos o Femina presta tributo a uma personalidade feminina do cinema brasileiro com exibição de um filme marcante em sua carreira;


- Programas Infantis:
Seleção de filmes de curta-metragem especialmente realizados para o público infanto-juvenil, de animação e ficção, para atrair crianças e formar público crítico;

- Sessão Dividindo a Conta:
Exibição de um programa de filmes co-dirigidos por homens e mulheres;

- Sessão Masculino-Feminino:
Exibição de filmes dirigidos por homens com temática ou protagonismo feminino;

- Sessão Eu gosto é de mulher:
Exibição de um programa de filmes com temática lésbica dirigidos por mulheres;


- Seminário FEMINA:
Realizado em parceria com instituições de promoção da igualdade de gênero, composto por debates, palestras e encontros, conta com a participação de convidados como cineastas, produtores, pesquisadores, professores, jornalistas e outros profissionais que debatem com o público temas desde a produção audiovisual feminina, até a participação da mulher na política e nos empreendimentos econômicos e sociais;

- Formação de Platéia:
Realizamos um trabalho junto a instituições de ensino, atendimento à mulher e a jovens, disponibilizando ônibus para alunos, professores e diretores da rede pública, mulheres e jovens de associações, cooperativas e projetos de geração de renda, periferias e cidades do interior, que dificilmente teriam acesso a filmes ou debates.

 

- Outras Sessões Especiais:
Programa Experimental, Cineclube LGBT, Programa Especial Nacional, Programa Especial Internacional, entre outros;

- Retrospectiva 10 anos de Femina:
Exibição de alguns filmes que se destacaram na história do Femina e de grandes diretoras.


Justificativa
O empoderamento das mulheres é crucial para o exercício de seus direitos humanos e para a igualdade entre os gêneros, que tem como metas a participação plena e igual das mulheres na vida civil, cultural, econômica, política e social.

Os meios de comunicação e formas de arte têm papel fundamental nesse processo, sensibilizando a sociedade sobre a desigualdade entre os gêneros. As imagens de gênero, produzidas social e culturalmente, determinam, em grande parte, as oportunidades e a forma de inserção de homens e mulheres no mundo do trabalho, na educação, na família, na política, na vida social.

O Femina contribui neste processo ao promover um maior conhecimento da participação feminina na cinematografia nacional e estrangeira. Além de lançar e divulgar produções recentes, o festival destaca a produção de curtas-metragens e trabalhos de diretoras oriundas de escolas de cinema, incentivando, o surgimento de novas realizadoras, a entrada das mulheres no mercado de trabalho do cinema e a produção de filmes com temática feminina.

O FEMINA foi o primeiro evento do gênero no Brasil e influenciou a criação de outros festivais femininos em países da América do Sul. Além de expor o trabalho das diretoras brasileiras, aumentando sua visibilidade e abrindo espaço para o cinema brasileiro feminino no exterior, traz para o Brasil a produção estrangeira e convidados internacionais.

Exibe cerca de 100 filmes por ano, entre longas, médias e curtas, de todos os gêneros (ficção, documentário, animação, experimental), dos quais cerca de metade é brasileira. A seleção de filmes oferece ao público uma programação de qualidade, levando em consideração a temática e a representatividade regional. Em 2012 o festival teve recorde de inscrições de filmes para seu processo seletivo e exibiu filmes de todas as regiões do Brasil e de 24 países diferentes.

Além de apresentar uma programação de qualidade o Femina também destaca-se por promover a igualdade de gênero. Através da exibição de filmes conjugada a debates, contribui para uma mudança de conscientização da sociedade em relação à presença da mulher no cinema e na cultura.

É importante destacar que em outros países onde surgiram festivais de filmes dirigidos por mulheres, a produção de filmes de diretoras aumentou. Comumente recebemos em nosso processo seletivo filmes realizados especialmente para o Femina. Desta forma, esperamos e acreditamos que o Femina possa também servir de estímulo para as jovens diretoras e a produção de filmes dirigidos por mulheres e com protagonismo feminino.

Atrai um público heterogêneo com atividades diversificadas, possibilitando o acesso de estudantes, jovens, crianças e associações de mulheres através do trabalho de formação de plateia. O público é formado ainda especialmente por cientistas e pesquisadores sociais, jornalistas, estudantes e profissionais de ciências sociais e humanas, cinema, artes, produção cultural, comunicação e áreas afins, donas de casa e terceira idades. O Femina se preocupa com o acesso e a comodidade de pessoas com necessidades especiais, e em atrair crianças e formar público crítico.

Um aspecto importante do evento é o Seminário Femina no qual são discutidos diversos temas importantes das pautas de gênero, como a presença da mulher na política, no mercado de trabalho e na cultura. O Seminário Femina possibilita jovens, estudantes, donas de casa, associações de mulheres a interagirem diretamente com diretores, produtores, pesquisadoras, professores, representantes de instituições governamentais e internacionais, jornalistas, e outros convidados. Além disso, o Seminário Femina sensibiliza os profissionais da comunicação para as pautas de gênero, valoriza a participação da mulher no cinema, na arte e na cultura, conscientiza sobre a importância do empoderamento das mulheres para o desenvolvimento da sociedade, e o papel do audiovisual na igualdade de gênero e na representação positiva e não estereotipada da mulher.

O Femina já se estabeleceu e é um evento importante no calendário de festivais de cinema no país, já conta com o respeito da classe cinematográfica, que participa enviando filmes para seleção, participando dos debates, júri e demais atividades, assim como de instituições de promoção da igualdade de gênero e direitos humanos e de instituições culturais que nos apoiam e participam do festival. Está em sintonia com projetos do governo federal de promoção da igualdade de gênero e com os objetivos do milênio.


Contrapartidas Sociais
- Com a realização de edições anuais, o Femina promove a igualdade de gênero, destacando e expondo o trabalho das mulheres no cinema e na cultura, divulgando e estimulando as diretoras brasileiras e aumentando sua visibilidade no exterior;

- As mostras competitivas incentivam a inserção da mulher no mercado de trabalho audiovisual, especialmente na direção, estimulando jovens cineastas e a realização de filmes com temática feminina, a comprovação disso é que comumente recebemos em nossas seleções filmes realizados especialmente para o Femina;

- Traz para o Brasil a produção e convidados internacionais;

- O trabalho de formação de plateia em conjunto com instituições de ensino, atendimento à mulher e a jovens, permite levarmos ao festival alunos, professores e diretores da rede pública, mulheres e jovens de cooperativas e projetos de geração de renda, periferias e cidades do interior, que dificilmente teriam acesso a filmes ou debates, com disponibilização de transporte e alimentação;

- Atrai um público heterogêneo abrangente, de todas as faixas etárias através de atividades diversificadas, com programação infantil, jovem e adulta, lgbt e seminários, exibição de filmes conjugada a debates, participação de convidados especializados nos temas abordados, programação de alta qualidade técnica e artística, levando em consideração a temática do filme, e a representatividade regional para que possamos exibir filmes de todos os formatos, gêneros, duração, de diferentes Estados brasileiros e países, divulgando culturas diversas;

- Através da programação infantil chama atenção do público infanto-juvenil para as questões de gênero e os temas abordados nos filmes, além de formar público crítico;

- O Seminário é realizado em parceria com instituições de promoção da igualdade de gênero, que nos ajudam a escolher os temas mais pertinentes no momento e voltados para os diferentes públicos que frequentam o festival, englobando desde a produção audiovisual feminina até a participação da mulher na política e sociedade;

- A partir de suas últimas edições, o Femina passou a adotar algumas medidas como contrapartidas ambientais à sua realização, como: utilização de matéria prima reciclada na produção de parte de seu material de divulgação (cartazetes, convites, postais, credenciais e folders foram produzidos em 2012 com papel reciclado, sacolas e camisetas foram produzidas com fio pet), coleta de lixo diferenciada e distribuição de mudas de árvores para o público. Em 2013, manteremos ou ampliaremos essas medidas.

Fonte:
http://catarse.me/pt/femina10anos



sexta-feira, 7 de junho de 2013

Uruguai: governo diz que número de abortos diminuiu após descriminalização

Segundo o governo, os dados preliminares apontam entre 300 e 400 abortos por mês no país

Antes da aprovação da lei, o Uruguai registrava mais de 30 mil abortos por ano  Foto: AP
Antes da aprovação da lei, o Uruguai registrava mais de 30 mil abortos por ano 
Foto: AP
O Uruguai realiza por mês entre 300 e 400 abortos legais desde a promulgação, em outubro do ano passado, da lei que descriminalizou a prática até a 12ª semana de gestação. A informação foi divulgada pelo subsecretário de Saúde Pública, Leonel Briozzo, nesta terça-feira.


Em entrevista à rádio Universal, Briozzo disse que, com esse número, o Uruguai chagaria a 4 mil abortos por ano, cifra inferior a estimativa anterior à aprovação da lei, de 33 mil. Na opinião dele, leis como a aprovada no ano passado “fazem com que diminua a quantidade de abortos”.


“A prática da despenalização diminui o número de abortos e abate a mortalidade materna, ou seja, faz com que o aborto seja seguro”, afirmou. Para ele, o referendo proposto pelo deputado nacionalista Pablo Abdala para consultar a população sobre o tema “não é a melhor forma de fixar o tema”.


Com informações do jornal El Observador.

Fonte:

domingo, 2 de junho de 2013


“Do you know what it feels like for a girl?
Do you know what it feels like in this world?”

Madonna
Aconteceu ontem. Saio do aeroporto. Em uma caminhada de dez metros, só vejo homens. Taxistas do lado de fora dos carros conversando. Funcionários com camisetas “posso ajudar?”. Um homem engravatado com sua malinha e celular na mão. Homens diversos, espalhados por dez metros de caminho. Ao andar esses dez metros, me sinto como uma gazela passeando por entre leões. Sou olhada por todos. Medida. Analisada. Meu corpo, minha bunda, meus peitos, meu cabelo, meu sapato, minha barriga. Estão todos olhando.
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Aconteceu quando eu tinha treze anos. Praticava um esporte quase todos os dias. Saía do centro de treinamento e andava cerca de duas quadras para o ponto de ônibus, às seis da tarde. Andava pela calçada quase vazia ao lado de uma grande rodovia. Dessas caminhadas, me recordo dos primeiros momentos memoráveis desta violência urbana. Carros que passavam mais devagar do meu lado e, lá de dentro, eu só ouvia uma voz masculina: “gostosa!”. Homens sozinhos que cruzavam a calçada, olhavam para trás e suspiravam: “que delícia.” Eu tinha treze anos. Usava calça comprida, tênis e camiseta.
Agora, multiplique isso por todos os dias da minha vida.
Sei que para homens é difícil entender como isso pode ser violência. Nós mesmas, mulheres, nos acostumamos e deixamos pra lá. Nós nos acostumamos para conseguir viver o dia a dia.
Esses dias, estava sentada na praia vendo o mar, e dele saiu uma moça. Passou por um rapaz que disse algo. Ela só saiu de perto e veio na minha direção. Dei boa noite, ela falou que a água estava uma delícia, e conversamos um pouco. Perguntei se o cara havia lhe falado alguma besteira. Ela disse, “falou, mas a gente tá tão acostumada, né?, começa a ignorar automaticamente”.
O privilégio é invisível. Para o homem, só é possível ver o privilégio se houver empatia. Tente imaginar um mundo onde, por cinco mil anos, todos os homens foram subjugados, violentados, assassinados, podados, controlados. Tente imaginar um mundo onde, por cinco mil anos, só mulheres foram cientistas, físicas, chefes de polícia, matemáticas, astronautas, médicas, advogadas, atrizes, generais. Tente imaginar um mundo onde, por cinco mil anos, nenhum representante do seu gênero esteve em destaque, na televisão, no teatro, no cinema, nas artes. Na escola, você aprende sobre a história feita pelas mulheres, a ciência feita pelas mulheres, o mundo feito pelas mulheres.
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No seu texto “Um teto todo seu”, Virgínia Woolf descreve por que seria impossível para uma hipotética irmã de Shakespeare escrever de forma genial como ele. Woolf diz:
“quando lemos sobre uma bruxa sendo queimada, uma mulher possuída por demônios, uma mulher sábia vendendo ervas… acho que estamos olhando para uma escritora perdida, uma poeta anulada.”
Desde o início do patriarcado, há cinco mil anos, as mulheres não tiveram liberdade suficiente para serem cientistas ou artistas. Woolf explica:
“liberdade intelectual depende de coisas materiais. … E mulheres foram sempre pobres, não por duzentos anos, somente, mas desde o início dos tempos.”
Esse argumento não serve somente para mulheres: negros, pobres e outras minorias não poderiam ser geniais poetas pois, para isso, é necessário liberdade material.
(Para uma análise mais completa, recomendo: “Um teto todo seu” de Virgínia Woolf: A produção intelectual e as condições materiais das mulheres.)
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Embora o mundo esteja em processo de mudança, ainda existem menores oportunidades e reconhecimento para mulheres e minorias exercerem qualquer ocupação intelectual. Leitores de uma página do facebook sobre ciências ainda supõem que o autor seja homem e comentaristas de televisão não consideram manifestações culturais que vêm da favela como cultura de verdade.
É verdade: hoje, a vida é muito melhor, principalmente para a mulher ocidental como eu. Mas, mesmo sendo uma mulher livre e bem-sucedida vivendo em uma metrópole ocidental, ainda sinto na pele as consequências destes cinco mil anos de opressão. E, se você quiser ver essa opressão, não precisa ir nos livros de história. É só ligar a televisão:
Rio de Janeiro, 2013. Um casal é sequestrado em uma van. As sequestradoras colocaram um strap-on sujo, fedido de merda e mofo, e estupraram o rapaz. Todas elas, uma a uma, enfiavam aquela pica enorme no cu do moço, sem camisinha e sem lubrificante. A namorada, coitada, tentou fazer algo mas foi presa e levou chutes e socos.
Ao ver esta notícia, você se coloca no lugar da vítima (que sofreu uma das piores violências físicas e psicológicas existentes) ou no lugar de quem assistiu? Naturalmente troquei os gêneros: a violência real aconteceu com uma mulher.
Quantas violências eu sofro só por ser mulher?
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Na infância, fui impedida de ser escoteira pois isso não era coisa de menina. Fui estuprada aos oito anos. (Eu e pelo menos dois terços das mulheres que conheço e que você conhece sofreram um estupro e provavelmente não contaram para ninguém.) Sofri a pré-adolescência inteira por não me comportar como moça. Por não ter peitos. Por não ter cabelos longos e lisos. Desde sempre tive minha sexualidade reprimida pela família, pela sociedade, pela mídia. Qualquer coisa que eu pisasse na bola seria motivo para ser chamada de vadia. Num dos primeiros empregos, escutei que mulheres não trabalham tão bem porque são muito emocionais e têm TPM. Em um outro emprego, minha chefe disse que meu cabelo estava feio e pagou salão para eu ir fazer escova e ficar mais apresentável pros clientes. Decidi que não quero ser escrava da depilação e sou olhada diariamente com nojo quando ando de shorts ou blusinha sem mangas. Já usei muita maquiagem, só porque a televisão e os outdoors mostram mulheres maquiadas, e portanto é muito comum nos sentirmos feias de cara limpa. Você, homem, sabe o que é maquiagem? Tem um produto para deixar a pele homogêna, um pra disfarçar olheiras, outro para disfarçar manchas, outro para deixar a bochecha corada, outro para destacar a sobrancelha, outro para destacar os cílios, outro para colorir as pálpebras, outro para colorir os lábios. Quantas vezes você passou tantos produtos na sua cara só porque seu chefe ou seu primeiro encontro vai te achar feio de cara limpa? Quando estou no metrô preciso procurar um cantinho seguro para evitar que alguém fique se roçando em mim. Você faz isso? Quando vou em reuniões de família, me perguntam por que estou tão magra, e o que fiz com o cabelo e quem estou namorando. Para o meu primo, perguntam o que ele está estudando e no que está trabalhando. Na televisão, 90% das propagandas me denigrem. Quase nenhum filme me representa ou passa no teste de Bechdel. Todas as mulheres são mostradas com roupas sexy, mesmo as super heroínas que deveriam estar usando uma roupa confortável para a batalha. As revistas me ensinam que o meu objetivo na cama é agradar o meu homem. Enquanto você, menino, comparava o seu pau com o dos amiguinhos, eu, menina, era ensinada que se masturbar é muito feio e que se eu usar uma saia curta não estou me dando o respeito. Quanto tempo demorei para me desfazer da repressão sexual e virar uma mulher que adora transar? Quanto tempo demorei para me soltar na cama e conseguir gozar, enquanto várias das minhas colegas continuam se preocupando se o parceiro está vendo a celulite ou a dobrinha da cintura e, por isso, não conseguem chegar ao gozo? Quanto tempo demorei para conseguir olhar para um pau e transar de luz acesa? Quantas vezes escutei, no trânsito, um “tinha que ser mulher”? Quantas vezes você fechou alguém e escutou “tinha que ser homem”? Tudo isso para, no fim do dia, ir jantar no restaurante e não receber a conta quando ela foi pedida pois há cinco mil anos sou considerada incapaz. E tudo isso, porra, para escutar que estou exagerando e que não existe mais machismo.
Isso é um resumo muito pequeno do que eu sofro ou corro o risco de sofrer todo dia. Eu, mulher branca, hetero, classe média. A negra sofre mais que eu. A pobre sofre mais que eu. A oriental sofre mais que eu. Mas todas nós sofremos do mesmo mal: nenhum país do mundo trata suas mulheres tão bem quanto seus homens. Nenhum. Nem a Suécia, nem a Holanda, nem a Islândia! Em todo o mundo “civilizado” sofremos violência, temos menos acesso à educação, ao trabalho ou à política.
Em todo o mundo, somos ainda as irmãs de Shakespeare.
* * *
E você, leitor homem? Quando é abordado de forma hostil por um estranho na rua, pensa “por favor, não leve meu celular” ou “por favor, não me estupre”?
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Fotos: autorretratos por Claudia Regina.

Fonte:
http://papodehomem.com.br/como-se-sente-uma-mulher/

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Mulheres se unem contra violência de gênero no Facebook

Grupos feministas forçam a rede social a revisar sua política contra conteúdos ao pressionar anunciantes a retirar propagandas do site
por Gabriel Bonis publicado 29/05/2013 16:17, última modificação 29/05/2013 16:33  
 
Foram poucos dias até que o Facebook cedesse à pressão de um viral espalhado pela internet na última semana. Uma carta aberta à cúpula da maior rede social do mundo, com 1 bilhão de usuários, gerou a campanha FBrape e acumulou mais de 60 mil tweets de apoio. A ação aglutinou 100 movimentos de mulheres e organizações de justiça social de todo o mundo em torno da exigência da retirada de conteúdos que denigrem as mulheres e retratam estupros e violência de gênero de forma positiva.

A repercussão da carta, assinada pelas entidades Women, Action & the Media (WAM), The Everyday Sexism Project e pela ativista Soraya Chemaly, e reproduzida no Brasil pelo blog Cem Homens, forçou o Facebook a encarar um problema há muito tempo denunciado por usuários e organizações civis. Após a pressão das ativistas, o site assumiu um compromisso de remover rapidamente conteúdos com discurso de ódio de gênero.

O grupo encorajou os usuários da rede social a entrarem em contato com anunciantes cuja publicidade aparecesse próxima “a conteúdos que colocam mulheres como alvo de violência”. O objetivo era pedir que as empresas retirassem seus anúncios do Facebook até que o site banisse conteúdos que incitassem o ódio de gênero. “Muito já havia sido feito para encorajar o Facebook a agir contra esse tipo de conteúdo. Houve diversas petições e conversas, mas nada pareceu funcionar. Então, queríamos tentar uma nova abordagem", conta Jaclyn Friedman, diretora-executiva da WAM, a CartaCapital.

Além dos milhares de tweets, os usuários enviaram ao Facebook cerca de 5 mil emails criticando a postura do site. Em separado, uma petição online reuniu mais de 225 mil assinaturas. Resultado suficiente para fazer anunciantes relevantes entrarem na campanha, como a montadora Nissan. “Por causa da frustração em obter uma posição do Facebook, decidimos perguntar aos anunciantes o que eles achavam destes conteúdos, se achavam aceitável”, explica Laura Bates, criadora do The Everyday Sexism Project.

Segundo Bates, provocar os anunciantes a suspender suas propagandas foi importante para atrair a atenção do site, mas o apoio dos usuários teve papel crucial. “Centenas de milhares de pessoas se envolveram na campanha, escreveram para os anunciantes, para o Facebook e mostraram se importar com o assunto e que não iriam recuar. É um tributo à ação comunitária colaborativa.”

O grupo de ativistas exigiu que o Facebook não tolerasse mais conteúdos com “discurso que trivializa ou glorifica violência contra mulheres” e que treinasse seus moderadores para reconhecer e remover discurso de ódio de gênero. Destacou ainda páginas que “explicitamente compactuam ou encorajam o estupro ou violência doméstica contra mulheres”. Entre os exemplos estão: “Dando Voadoras no Útero de Vagabundas” e “Estuprando Violentamente sua Namorada só de Brincadeira”.

Páginas como essas são constantemente mantidas no ar sob a alegação do respeito à liberdade de expressão. Um conceito criticado por usuários, pois o site permite milhares de postagens com fotos de mulheres espancadas e feridas, enquanto remove imagens de mães amamentando. “É uma visão de moral contraditória e que fere as mulheres”, diz Friedman.

A repercussão da campanha levou o Facebook a apagar a maior parte das páginas criticadas pelas ativistas, mas o site precisou reconhecer falhas em seus sistemas de moderação, em um comunicado de terça-feira 28.

A rede social ressaltou estar trabalhando para agilizar a resposta às denuncias de violações de políticas do site e assumiu o compromisso de revisar as suas regras sobre discurso de ódio. O site também solicitará o apoio de especialistas legais e representantes da coalizão de mulheres da campanha, além de outros grupos historicamente discriminados, para solucionar o problema. “Precisamos melhorar. E vamos melhorar.”

A rápida reação do Facebook surpreendeu as idealizadoras do protesto. Eles [representantes do Facebook] ficaram assustados. É um assunto que tem sido jogado para debaixo do tapete por muito tempo e as pessoas se recusam a levar a sério em muitas esferas, não apenas no mundo virtual”, diz Bates. “Empresas pequenas nos escreveram para dizer que estavam tirando seus anúncios do Facebook porque isso importava para eles. Então, é tocante a extensão que as pessoas nos apoiaram.”
 
Fonte:

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Cultura do estupro, medidas paliativas do governo e as redes sociais como espelho da sociedade

Muito tem se falado de cultura do estupro. E muito tem se negado sua existência. É comum ver o discurso de que mulheres precisam “se dar o respeito”, “vestir-se decentemente” ou “não se portar como uma vagabunda” para evitar o crime. Essa é a famosa culpabilização da vítima, um dos recursos mais usados e bem aceitos na cultura do estupro.
A questão é que estupros acontecem em países em que mulheres vestem burcas. Estupros acontecem no exército e na marinha, com mulheres uniformizadas respeitando normas rigidas. Com mulheres que acabaram de sair da igreja. E pesquisadores dizem que o estuprador tem desejo por poder, não só pelo corpo feminino. O sexo é um detalhe, a subjugação é o clímax.

A cultura do estupro se dá quando a mídia, por exemplo, exibe anúncios em que mulheres são violentadas como se isso fosse algo normal. O site Business Insider lista, regularmente, anúncios que estimulam ou desqualificam a violência contra a mulher. Em um deles, do governo do Egito, representa a mulher por meio de um pirulito com plástico e outro sem, sendo atacado por moscas (representando o homem), com a seguinte frase: "Você não pode parar (as moscas), mas pode proteger-se".



Ao mesmo tempo que grupos lutam para discutir o exemplo social dado a meninos e a cultura que desqualifica a liberdade feminina e dá liberdade para que o homem acredite que nunca poderá receber um não como resposta, o número de casos de estupro, em São Paulo, por exemplo, bateu recordes com uma média de 37 casos por dia. TRINTA E SETE mulheres sofrem abuso sexual POR DIA. Assustador, não?




Resolver o problema não é simples. É necessário mudar uma cultura ligada a interesses financeiros e de controle de massa. Uma cultura que prefere deixar as pessoas ignorantes, odiando umas as outras, para que não se importem com problemas grandes de interesse comum. Mas enxergar o problema e começar trabalhos para transformar a realidade é a saída.
No entanto, ao invés de mostrar que o estupro é errado e que estupradores serão punidos severamente, o governo de São Paulo resolveu criar uma cartilha para que a mulher se proteja. É claro, a vítima deve ser responsável para evitar seu abuso – que em grande parte dos casos é feito por pessoas conhecidas e do seu convívio. Quão maluco é tudo isso?
Imagine que você está atravessando a rua, na faixa e com o farol de pedestres verde, é atropelado. Jogado a uma distância assustadora, tem diversos ossos quebrados e sequelas para o resto da vida. As autoridades dizem, diretamente a você, enquanto você ainda sente as dores, ali, no chão, que o motorista que fez isso está errado, mas que você deveria ter prestado mais atenção antes de passar por ali. É assim que é tratada uma mulher vítima de estupro.
A tal cartilha terá ainda um perfil do homem que estupra, criado a partir de estudos. O que me soa bastante perigoso, já que você, homem correto, pode se parecer com um estuprador e passar a ser alvo de medo feminino.
Nós, mulheres, sabemos como nos proteger. Sabemos que andar por uma rua escura e sozinha não é aconselhado por especialistas em segurança. Mas quem vai nos buscar no ponto de ônibus depois da faculdade? Quem vai passar a noite toda, na balada, ao nosso lado, impedindo que babacas nos puxem pelo braço ou pelo cabelo? Devemos aprender a lutar para agredir quem fizer isso? Deixar nossos estudos, trabalhos e diversão de lado? Nos tornar violentas, agressivas e desconfiadas porque a sociedade prefere isso a tirar os privilégios que seus homens têm? Não é o que queremos.
Em uma sociedade igualitária homens e mulheres têm os mesmos direitos e deveres, as mesmas liberdades, o mesmo respeito. Isso a gente quer. A gente quer não ter medo. Queremos poder andar o caminho para casa pensando na vida e não no momento em que alguém vai aparecer do nada e nos assediar.
Nos últimos dias postei aqui na coluna uma pesquisa que diz que homens enxergam mulheres de biquini como objetos. Os comentários, assustadores como de costume, diziam que se a mulher está mostrando o corpo é assim mesmo que será vista, mas poucos se atentaram para a parte mais assustadora do texto: ele diz que quando certos homens veem a pele feminina passam a ignorar seus direitos e vontades, acreditando que ela é apenas um objeto para satisfazer seus desejos e fantasias. Essa é a base da cultura do estupro sendo inserida no cérebro das pessoas. A ideia de que suas vontades são superiores a vontade do outro. É aí que nasce o estuprador.
Quando falamos sobre esse assunto muita gente diz que é exagero, mas se formos ver o que acontece nas redes sociais, o espelho da nossa sociedade na internet, ficamos assustados. O Facebook, rede mais popular do mundo, tem passado por retaliações sem fim. Sua política de deletar conteúdo ofensivo ignora totalmente apologias ao estupro.
Na última semana um vídeo que mostra uma garota de 12 anos sendo estuprada por três adolescentes ficou na rede por um bom tempo antes que a enxurrada de e-mails conseguisse convencer a equipe de Zuckerberg o quão impróprio o ofensivo era aquilo.
Nesse meio tempo, pessoas de todo o mundo, compartilharam as imagens ofensivas com as quais têm sido bombardeadas diariamente, sem pedir. Os anúncios da rede colocam páginas que glorificam a violência contra a mulher ao lado de grandes empresas que lutam por seu bem-estar. As empresas já começaram a pressionar o Facebook para que imagens desse tipo sejam tiradas do ar o mais rápido possível e que a vista grossa sobre elas acabe.
Banalizar o discurso da violência é o mesmo que glorifica-lo. É mostrar que, no mundo real ou virtual, você não será punido ao violentar – sexualmente ou não – uma mulher. A liberdade de expressão não abre precedente para que o discurso de ódio seja aceito, eles são coisas bastante diferentes. Assim que sua liberdade passa a ofender e machucar outra pessoa, ela se torna crime.
Enquanto aceitarmos que a luta contra a violência seja desqualificada nos meios de comunicação, que as punições sejam em relação a vítima, que é cerceada de seus direitos, e que os projetos contra estupro e abuso sejam focados no comportamento das vítimas ao invés de educar e punir os culpados, estaremos apostando em uma sociedade em que o ódio é a moeda de troca aceita.


Nós precisamos de ações concretas e não pedaços de papel nos dizendo que as culpadas somos nós, por viver em uma sociedade hipersexualizada e que torna os desejos sexuais do outro mais importantes do que nossa vontade e direitos.

Fonte:


terça-feira, 28 de maio de 2013

Depoimento sobre saúde sexual e reprodutiva


Lyah Correa é Psicóloga Transexual, Participante do Grupo de Trabalho  de Gênero e Diversidade do Conselho Regional  de Psicologia – 10.  Militante do MLGBT do Pará.  Servidora na Secretaria Municipal de Saúde- SESMA.  Sua narrativa dos processos de subjetivação apresenta algumas dores e suportes internos para tornar-se quem é.

Estou longe de fazer um tratado científico sobre gênero ou debater academicamente a questão. Dane-se! Cansei da “aristocracia do diploma” (e também dos diplomatas)! Quero apenas poetizar sobre mim a partir de minhas múltiplas maneiras de imaginar e escrever livremente.

Quando criança, minha bola de futebol representava as formas como poderia girar pela minha rua, pelos meus pensamentos. Isso era mais que um arranjo matemático de probabilidades, eram combinações de “n” possibilidades existenciais.

Não foi diferente com as bonecas que habitavam meu sofá. Elas eram tão lindas que me tornava insignificante diante de tanta beleza. Talvez, eram as únicas damas de honra às quais se permitiam me acompanhar pelos corredores da infância.

Em meio aos sabores da ludicidade, meus pais confabulavam meu futuro, prediziam minhas metas desde minha época intra-uterina. Ao contrário da Promessa em Azul e Branco, conferida à infância de Eneida de Moraes, fiquei no muro das indecisões a espera de um lugar social.

Para meu pai, eu seria uma ótima bailarina chamada Natália. Já para minha mãe, seria um imperfeito artesão por nome João. Nesse duelo de (im) possibilidades, continuava a destrinchar meu mundo imaginário com batons que utilizava para pintar a parede do meu quarto ou com os carrinhos que se despedaçavam em acidentes de trânsito no quintal da minha casa.

Foi nessa fase da vida que percebi que os jardins nem sempre são floridos e que nem sempre conseguia completar a contagem das estrelas. Lembro-me da exata tarde na qual meu pai colocou a última mala em um carro qualquer, deu-me um beijo no rosto e partiu. Minhas pernas sempre foram finas e longas, porém, não tão ágeis para alcançar o veículo o qual transportava, para sempre, meu super-herói, meu parceiro de brincadeira, meu contador de histórias.

A mim, restaram as agruras de enfrentar os deboches por ser considerada um complexo edipiano mal resolvido e também de enfrentar uma mãe fálica com potencialidades de me reduzir a estados de não-ser.
E o tempo passou como passavam as chuvas que me banhavam aos finais de tarde. Reconfigurei minhas possibilidades de existir. Minha bola de futebol e bonecas? Sumiram no tempo e espaço, porém, seus simbolismos se corporificaram em mim. Passei a transfigurar, ao mesmo tempo, o garoto de alma feminina e a garota ultrajante de modos masculinos.

Talvez meu processo de socialização tenha me garantido o pleno aval de construir meus castelos e casebres reais, bem como destruí-los na medida em que desejasse ter a lua como teto. Além de desfrutar, sobre meu corpo, de outros corpos capazes de me fazer delirar em loucas serenatas.

Não lembro mais da cor do carro que levou meu pai, contudo, minhas pernas continuam finas e longas. Minha mãe já não é mais tão fálica assim, mas conseguiu me conservar no estado de não-ser das imperfeições existenciais.

Nas várias possibilidades de me reinventar, apaixonei-me mais de mil vezes pelo espelho em tentativas narcísicas de me idealizar, assim como perdi as contas de quantos quebrei por não aceitar meu reflexo.
Hoje, não me tornei a bailarina ou o artesão profetizado pelos meus pais. Também não assumi a conveniência social de me tornar um rapaz comportado ou uma moça transgressora, apenas me permiti a relembrar meu passado bucólico pintando a parede do quarto com batom ou me aventurado no louco trânsito do quintal da minha casa.role de Endemias.

Fonte:
http://fenomenologiadasolidariedade.wordpress.com/2013/05/24/depoimento-sobre-saude-sexual-e-reprodutiva/

Quebre o silêncio!!!

28 de Maio - Dia Internacional de Luta pela Saúde da Mulher

Taxa de negros empregadores passa de 22,84% para 30,19% em dez anos

Entre as mulheres negras o desemprego caiu de 18,2% para 7,7%, revela estudo de economista

por Clarice Spitz







Estilista Marah Silva, dona do Ateliê Cor Sincretismo, diz que herdou da mãe a veia empreendedora
Foto: FOTO: Daniela Dacorso
Estilista Marah Silva, dona do Ateliê Cor Sincretismo, diz que herdou da mãe a veia empreendedora FOTO: Daniela Dacorso

RIO — Ainda desigual, mas com avanços. Nos últimos dez anos, negros experimentaram uma melhora nas taxas de emprego e de renda. Aumentou participação de negros entre os empregadores, a categoria mais bem paga do mercado de trabalho: em 2003, representavam 22,84% do total de empregadores; em 2013, já são 30,19%, revela estudo do economista Marcelo Paixão sobre empreendedores negros. É bem verdade que, quando estão em postos de comando, os negros estão predominantemente em atividades de mais baixo rendimento, sobretudo, no comércio e serviços em geral, como cabeleireiros, donos de armarinhos, designers e trabalhadores da construção civil, onde a presença deles é maioria. Entre as mulheres negras, grupo com maior dificuldade de inserção no mercado de trabalho, o desemprego caiu de 18,2% para 7,7%.
Segundo o coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo, a melhora na economia propiciou a ascensão profissional. Com renda maior, o negro que trabalhava por conta própria pôde incrementar seu negócio e passar a contratar um funcionário, tornando-se um empregador.
— É um salto expressivo. O mercado de trabalho está menos desigual. Ainda se encontram as mazelas de gênero, de cor, de jovens, mas mais amenizadas — afirma Azeredo.
As desvantagens de empregadores negros passam por uma poupança menor. Com menos capital que os brancos, eles costumam ter negócios no setor de serviços, em que os investimentos são mais baixos. Mas a análise dos últimos dez anos mostra que a renda de empregadores negros subiu 42,59%, enquanto a dos empregadores brancos, 20,46%.
Enquanto em 2003, um empregador negro recebia o equivalente a 49,37% do rendimento de um empregador branco, hoje, ele ganha 58,43%. De acordo com Paixão, a redução dessas assimetrias no mercado de trabalho são explicadas, em parte, pela valorização do salário mínimo e de programas de transferência de renda.
— O rendimento de pretos e pardos, proporcionalmente, elevou-se mais que o dos brancos no mesmo intervalo, e tal cenário pode ter contribuído para esse movimento. O mesmo pode-se dizer da escolaridade média. Por outro lado, não se deve descartar por inteiro o fenômeno do crescimento relativo de pretos e pardos no conjunto da população, o que também inclui o grupo dos empregadores — afirma.
Paixão está em campo com uma pesquisa encomendada ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que investiga a discriminação no acesso ao crédito no país.
— Se o empregador não tem recursos, perde uma oportunidade muito grande. Tia Ciata passou a vida inteira com um tabuleiro, quando ela deveria ter uma barraquinha — ilustra.
Para o economista Marcelo Néri, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e ministro-chefe interino da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência, o aumento da escolaridade é o fator fundamental para que negros obtenham um posto de comando.
Segundo Néri, embora o lucro de empreendedores sem instrução tenha sido 74,9% menor que o de pessoas com 11 anos ou mais de estudo, entre 2003 e 2013, o rendimento deles subiu 29,7% no período. A educação de um negro, em termos de anos de estudo, representa 80% da de brancos, segundo dados do Censo de 2010.
— A fotografia ainda é favorável a quem tem estudo, mas a novidade é o filme que mostra redução da desigualdade — afirma.
O presidente do Ipea avalia que contribuíram ainda para a ascensão de negros no mercado de trabalho o maior orgulho da raça, que se traduziu em mais pessoas se autodeclarando negras nas novas gerações. Segundo ele, apesar de ainda ser cedo para ver um efeito das cotas, a chance de alguém nascido nos anos 80 de se reportar como negro é 61% maior que a de um nascido nos anos 1940. Já em 2011, a chance de alguém se reportar como negro era 36% maior do que em 1998.
— Entre 2003 e 2011, 40 milhões de pessoas entraram na nova classe média e três quartos são pretos e pardos, quase a população negra sul-africana. Essa nova classe média é fruto do orgulho e do aumento da renda — resume Néri.
A empresária Lia Vieira diz que não foram poucas as vezes em que viu pessoas se surpreenderem com o fato de ela ser dona de uma agência de viagens. Com clientes predominantemente afrodescendentes e faturamento acima de R$ 200 mil mensais, Lia diz que a formação foi fundamental para que ela chegasse aonde chegou:
— Eu prezo muito a qualificação. O mercado é muito competitivo, e só há espaço para aqueles que investem em si mesmos. A grande dificuldade do empresário negro é que não temos poupança acumulada, não temos herança de família.
A estilista Marah Silva diz que herdou da mãe, baiana de acarajé, a veia empreendedora. Depois de trabalhar com produção de eventos e comida, ela saiu da informalidade em 2006, quando abriu um ateliê de moda na Lapa, centro do Rio. No mês passado, foram 480 peças, um feito para o tamanho do empreendimento.
— Para o empreendedor negro, infelizmente a cor ainda é um percalço, mas a postura não é. Eu sento com meu gerente de banco e vejo o primeiro olhar e o último. Ele nota que tenho conhecimento do que estou falando — diz Marah.
O empresário Josué Elias e a família trabalham com uma pequena empresa de acessórios e bijuterias em couro na casa onde também moram, em Cascadura. Para ele, mais que dificuldades de raça, os microempresários como ele sofrem com a burocracia.
— Acredito na força do trabalho. Com qualidade, tenho quebrado muitas barreiras. Já houve discriminação, mas não foi o mais importante.
A rede Instituto Beleza Natural, com 13 salões de beleza em três estados, nasceu quando a ex-empregada doméstica Heloísa Assis, a Zica, criou uma fórmula para relaxar cabelos crespos. Ao lado do marido Jair, do irmão dela, Rogério Assis, e da amiga Leila Velez, Zica criou uma rede especializada em cabelos crespos. Hoje, são uma média de 90 mil clientes por mês e um faturamento que subiu 27% entre 2011 e 2012.
— A cada instituto que abrimos geramos mais de cem empregos diretos — orgulha-se Zica.

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/economia/taxa-de-negros-empregadores-passa-de-2284-para-3019-em-dez-anos-8506118#ixzz2UcPkJ7cs
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"TV Folha" acompanha ensaio fotográfico que mostra o "nu orgânico"

Mulheres de verdade!!!


quarta-feira, 22 de maio de 2013

Gordofobia: um assunto sério

por: Jarid Arraes
Foto do flickr de Laura Lewis, alguns direitos reservadosO policiamento dos corpos e a imposição de um padrão de beleza é um problema que atinge todas as pessoas. A indústria dos cosméticos está sempre em busca de expandir seus horizontes, procurando bombardear cada vez mais características físicas como sinônimo de feiura. As regras variam tanto de modo quanto intensidade de acordo com a idade, gênero ou raça da pessoa: diz-se indesejável a presença de rugas, espinhas, cicatrizes, celulites ou estrias; são oferecidos serviços de depilação a laser, implante capilar ou até clareamento de pele nas partes mais inimagináveis do corpo. Uma das características tidas como mais abomináveis para a manutenção da aparência é a gordura: a magreza excessiva é incentivada desde a mais tenra idade e a intolerância contra pessoas gordas é um problema sério.
Foto do flickr de Laura Lewis, alguns direitos reservados.
Não é necessário nenhum esforço extraordinário para compreender a gordofobia; a própria palavra sugere um acentuado desconforto e sentimento de repulsa contra pessoas gordas. Tal postura é tão enraizada em nossa cultura que a maioria das pessoas imediatamente remete pensamentos gordofóbicos às mais variadas imagens e situações: por exemplo, acham inaceitável uma mulher gorda vestir roupas justas ou frequentar a praia de biquíni; sentem desprezo por um homem obeso que come prazerosamente na praça de alimentação do shopping. Há um vasto leque de imagens negativas que demonstram como pessoas gordas são percebidas na sociedade, quase sempre representadas como desagradáveis e repulsivas.
Para as mulheres, é excepcionalmente difícil ser gorda em meio ao culto dos corpos magros sem odiar a si mesma ou ser odiada. Não gostar de si mesma já é praticamente uma exigência social para toda mulher, cujo valor é inteiramente atribuído à sua aparência; o que dizer então para as mulheres gordas. São aconselhadas uma infinidade de modificações corporais e recomendadas centenas de dietas especiais. Para aquelas que sempre foram "gordinhas" desde a infância, é incrivelmente comum crescer com ódio internalizado de si mesma: são muitos anos de bullying e cobranças sociais, que acontecem não apenas no ambiente escolar, como também na televisão, nas revistas, nos círculos sociais de amizades ou no núcleo familiar. Dificilmente uma criança gorda não ouvirá de seus próprios parentes que é preguiçosa, come demais e precisa "se cuidar". A pressão para emagrecer é gigantesca de tal modo que é muito improvável uma pessoa gorda não ter um histórico de transtornos alimentares ou problemas psicológicos causados pela autoestima severamente prejudicada.
As pessoas gordas vivem cercadas de barreiras extremamente fechadas pela viligância alheia, sempre atenta ao que devem vestir, comer ou como devem se comportar. O número na balança é quase diretamente proporcial à quantidade de proibições; os cerceamentos são tantos que, não raramente, as pessoas gordas passam a acreditar que são essencialmente inferiores e incapazes. Atividades simples como sair de casa, nadar, dançar ou fazer compras, bem como tantas outras atividades prazerosas do dia a dia, são deixadas de lado por humilhação e vergonha. Se relacionar afetivamente se torna uma missão quase impossível; sexualmente, então, nem pensar.
gordofobia 2Foto do flickr de Laura Lewis, alguns direitos reservados
Mesmo para quem rejeita o ódio internalizado, a batalha diária travada contra tantos estigmas e repúdio da sociedade é árdua. É culturalmente inimaginável que uma pessoa obesa possa demonstrar o menor sinal de auto-aceitação ou amor próprio. A mídia e a indústria não só dá às pessoas a sensação de direito de inferiorizar pessoas obesas ou fora do padrão, como também instiga o ódio internalizado; tudo sob a pretensão de "preocupação com a saúde". Toda refeição é transformada em oportunidade para constranger pessoas gordas, que são lecionadas sobre o que elas têm direito de comer para ficarem magras – o que é presumivelmente o maior objetivo da vida de toda pessoa gorda.
A maior quantidade de gordura não significa necessariamente menos saúde; há até mesmo pesquisas atuais que sugerem o efeito contrário em algumas situações (leia aqui, em inglês). É importante observar que sedentarismo e má alimentação não estão necessariamente associados à obesidade, havendo uma infinidade de pessoas gordas ativas e saudáveis, além de pessoas magras com a saúde potencialmente debilitada por diversos fatores. Além disso, muitas pessoas não percebem a falta de coerência quando dizem se preocupar com a saúde alheia, a começar pelo fato de que não existe um medidor universal de saúde. Há infinitas dificuldades médicas que uma pessoa pode enfrentar e não existe fórmula mágica pra calcular com exatidão a "quantidade", ou mesmo a "qualidade" da saúde de alguém. Enquanto manter uma alimentação saudável e praticar exercícios físicos pode ser uma boa medida para prevenir ataques cardíacos, humilhar uma pessoa não vai atenuar em nada sua saúde psicológica ou emocional. O único modo de verificar a saúde de alguém é realizando exames extensivos e tendo os resultados avaliados por alguém profissional, que deverá dizer onde exatamente a saúde está falhando. Não se pode concluir o estilo de vida de uma pessoa baseando-se unicamente no seu corpo, ou mesmo deduzir que esse seja uma representação da sua saúde ou qualidade de vida.
É também papel do feminismo combater esse discurso de ódio e má fé disfarçado de preocupação com o bem estar; é necessário lutar contra a imposição de padrões, seja de aparência, roupas ou comportamentos. Cuidar de si mesma e amar outras pessoas significa não constrangê-las e envergonhá-las. Ninguém jamais deveria impôr à outra pessoa, não importa quem seja, nenhum tipo de roupa, alimentação ou comportamento. Faz-se extremamente necessário o empoderamento das pessoas gordas na sociedade e é nosso papel, como seres humanos, colaborar com o importante processo de valorização e reconstrução de autoestima que elas merecem. Todas as pessoas devem ter o direito de viver plenamente.


Fonte: Blogueiras Feministas
Retirado do site:
http://www.geledes.org.br/areas-de-atuacao/questoes-de-genero/180-artigos-de-genero/15721-gordofobia-um-assunto-serio#facebook_comments