sábado, 19 de outubro de 2013

Campanha A Juventude quer Viver: Pelo Fim dos Autos de Resistência

O projeto de Lei 4471/12 altera o Código de Processo Penal e acaba com o recurso dos ‘autos de resistência’, exigindo investigação em casos de mortes violentas e lesões corporais graves ocorridas em ações policiais. Trata-se de uma medida que impede que estes casos sejam classificadas como "autos de resistência" e estabelece regras claras para a investigação com vistas a coibir práticas de extermínio e de execução extrajudicial.


Entre os pontos que o projeto altera, estão a proibição do acompanhamento do exame de corpo de delito por pessoa estranha ao quadro de peritos, a obrigatoriedade de documentação fotográfica e coleta de vestígios em casos de morte violenta e exame interno do cadáver, sempre que a morte ocorra em com envolvimento de agentes do Estado. Reivindicações antigas do movimento social que podem ser transformadas em Lei pela decisão do Congresso Nacional.
No Brasil ao lado de uma  crescente onda de violência  há também um alto grau de descrença nas instituições policiais tanto pela percepção da violência praticadas por membros destas corporações quanto pelas várias pesquisas que revelam que é grande o número de pessoas – especialmente jovens negros e do sexo masculino – que são vítimas de execução praticada por policiais em ações obscuras e vítimas desaparecidas e cujas mortes jamais são investigadas. O caso do ajudante de pedreiro Amarildo, no Rio de Janeiro, é um exemplo nacional da tragédia cotidiana de milhares de brasileiros e brasileiras.
 
Neste sentido, nós, da Pastoral da Juventude, em consonância com diversas organizações religiosas e sociais do Brasil, apoiamos este projeto que extingue os “autos de resistência” e lutamos pela sua aprovação no Congresso Nacional. Sabemos que é preciso fortalecer o trabalho da defesa dos Direitos Humanos, no combate ao racismo e na luta pela superação de toda a forma de violência e por isso nos manifestamos claramente em defesa deste importante instrumento de combate às violações por parte de agentes do Estado.
 
As leis devem ser aplicadas de forma justa e transparente e as ações da Polícia investigadas como as de qualquer outro cidadão no Estado Democrático. A lisura na vigilância sobre nossos aparatos de segurança é um princípio para garantia do direito à vida e para a manutenção da dignidade humana.
 
Não desejamos uma Polícia opressora, especialmente em um país com diversas e complexas desigualdades sociais, que cobram do Poder Público ações de cidadania e não de violência. Nenhuma morte é apenas estatística. Em defesa da vida e contra o extermínio pedimos a aprovação do PL 4471/2012 e o fim dos autos de resistência já!
 
#FimDosAutosDeResistência
Autor/Fonte: A juventude quer viver!
Pastoral da Juventude

Igrejas pressionam Estados a isentar templos de imposto sobre água e luz

Uma ofensiva de bancadas evangélicas pelo país levou ao menos 11 Estados a criar ou a analisar a isenção de ICMS para igrejas em contas de luz, água e telefone.

Leis sobre o assunto já foram sancionadas em cinco Estados (Santa Catarina, Paraná, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul). As dos dois últimos são as mais recentes, neste ano.
 
As justificativas vão desde promover "maior eficácia à liberdade religiosa" a contribuir para o trabalho social das igrejas. Em algumas Assembleias, como a de São Paulo, a proposta ainda está sob análise dos deputados.

Entre os autores há parlamentares do PRB, partido ligado à Igreja Universal. Alguns projetos são "clonados" e têm trechos iguais em diferentes partes do país.

A Folha procurou os governos dos Estados onde a lei já existe e questionou sobre quanto deixa de ser arrecadado com a isenção. Apenas Santa Catarina fez uma estimativa: o governo afirma que há uma perda de R$ 2,8 milhões por ano com o benefício dado a 9.500 templos.

Em outros Estados mais populosos, como o Rio, primeiro a adotar a norma, o valor tende a ser superior. Nas contas de energia e telefone, o ICMS cobrado costuma ser de 25% do valor da despesa.
No Paraná, o governo local recorreu ao Supremo Tribunal Federal para derrubar a lei, mas perdeu a causa.
No julgamento, em 2010, os ministros consideraram que a Constituição garante imunidade a impostos a "templos de qualquer culto".

Em ao menos quatro Estados, governadores já vetaram leis desses tipo porque entenderam que a Constituição fala em isentar a tributação sobre renda e patrimônio, e isso não envolve um imposto de mercadorias e serviços.

Em Mato Grosso, a lei concedendo o benefício foi vetada no governo passado, mas a bancada evangélica voltou a tentar emplacá-la agora.

Deputados autores desses projetos afirmam que a cobrança de ICMS é ilegal e que não estão criando um benefício novo, mas regulando algo previsto na Constituição.

Editoria de Arte/Folhapress
O deputado estadual Gilmaci Santos (PRB-SP), autor de proposta sobre o assunto, diz que a ideia veio de grupos evangélicos com os quais tem contato. "Em igrejas maiores, com vários templos, as contas ficam lá em cima e pesam bastante", diz Santos, que é pastor da Universal.

O procurador do Estado do Paraná Cesar Binder, que atuou na causa no STF, afirma que, ao estabelecer uma lei como essa, o governo abre mão de receita e corre o risco de desrespeitar a Lei de Responsabilidade Fiscal.

"Pode levar ao descontrole. Se todas as aquisições [compras] são isentas ou não incidem tributo, vira o caos. Todo dia são realizadas milhares de operações por essas pessoas, templos e igrejas."
Em Estados como Pernambuco e Paraíba, a iniciativa não avançou no Legislativo.

O professor de sociologia da USP Ricardo Mariano, que pesquisa religiões, vê na iniciativa "corporativismo" da bancada evangélica, que coincide com o aumento do poder político desse grupo.
Ele afirma que os deputados eleitos como representantes de igrejas precisam mostrar serviço para fiéis e tentam obter privilégios, como financiamento público para suas atividades. "A isenção do ICMS é parte de um fenômeno mais amplo", diz.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/poder/2013/10/1359051-igrejas-pressionam-estados-a-isentar-templos-de-imposto-sobre-agua-e-luz.shtml

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Mães do Paraná, vamos nos unir pelos nossos filhos?

Vem aí MARCHA Zumbi dos Palmares - Campinas (20/11)

Quando sua mãe diz que é gorda.

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Por Kasey Edwards

Querida mãe,
Eu tinha sete anos quando descobri que você era gorda, feia e horrorosa.

Até então, eu acreditava que você era linda – em todos os sentidos da palavra. Eu lembro de fuçar os antigos álbuns e ficar um bom tempo olhando para fotos suas no deck de um barco. Seu maiô branco, tomara que caia, parecia glamuroso como o de uma estrela de cinema. Sempre que eu tinha a chance, tirava aquele maiô maravilhoso do fundo do seu armário e ficava imaginando quando é que eu seria grande o suficiente para vesti-lo, quando é que eu seria como você.

Mas numa noite, tudo isso mudou. Estávamos todos vestidos para uma festa e você me disse: “Olha para você, tão magra e bonita. E olha para mim, gorda, feia, horrorosa.”
De primeira, não entendi o que você quis dizer.

“Você não é gorda.” - eu disse, inocente e com sinceridade - ao que você respondeu, “Sim, eu sou, querida. Sempre fui gorda, desde criança.”

Nos dias seguintes, eu tive algumas revelações doloridas, que moldaram a minha vida toda. Concluí que:
1. você deveria ser mesmo gorda, porque mães não mentem.
2. gordo é sinônimo de feio e horroroso.

3. quando eu crescesse, seria como você e, portanto, seria gorda, feia e horrorosa também.
Passados alguns anos, eu revivi essa conversa e todas as centenas de outras que vieram depois e tive muita raiva de você. Por não se julgar atraente ou digna de atenção. Por ser tão insegura. Porque, como meu grande modelo de mulher, você me ensinou a agir assim também.

A cada careta que você fazia em frente ao espelho, a cada nova dieta do momento que iria mudar sua vida, a cada colherada culpada de “ai, eu não devia”, eu aprendia que mulheres deveriam ser magras para serem dignas e socialmente aceitas. Que meninas deveriam passar por privações porque a maior contribuição delas para o mundo era a aparência física.

Exatamente como você, eu passei a minha vida inteira me sentindo gorda – (nem sei quando foi que “gorda” se tornou um sentimento). E porque eu acreditava que era gorda, também me achava imprestável.
Mas os anos se passaram. Sou mãe. E sei que te culpar por minha péssima relação com meu corpo é inútil e injusto. Hoje entendo que você também é um produto de uma longa linhagem de mulheres que foram ensinadas a se odiar.

Olha só para o exemplo que a vovó te deu. Era uma vítima da própria aparência, e fez regime todos os dias da vida dela até morrer, aos 79 anos. Costumava se maquiar para ir ao correio, por medo de alguém vê-la de cara lavada.

Eu lembro do “suporte” que ela te deu quando você anunciou que papai tinha te deixado por outra mulher. O primeiro comentário dela foi, “Eu não entendo porque ele te deixaria. Você se cuida, usa batom. Entendo que você esteja acima do peso, mas não é muito.”
Papai também não te acalentava.

“Meu Deus, Jan”, uma vez ouvi ele te dizer. “Não é difícil. Calorias consumidas x calorias gastas. Se você quer perder peso, você só tem que comer menos.”

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Aquela noite, no jantar, eu assisti você implementar essa dica milagrosa de emagrecimento do papai. Você preparou um chow mein para o jantar (se lembra como, nos anos 80, no subúrbio da Austrália, essa combinação de carne moída, repolho e shoyu era considerada o melhor da culinária exótica?). A comida de todo mundo estava em um prato comum, mas a sua estava em um pratinho de sobremesa.

Enquanto você sentava em frente a sua patética porção de carne moída, lágrimas silenciosas escorriam pelo seu rosto. Eu não disse nada. Nem quando os seus ombros começaram a curvar por causa do seu incomodo. Ninguém te amparou. Ninguém te disse para deixar de ser ridícula e se servir um prato decente. Ninguém te disse que você já era amada, já era boa o suficiente. Suas conquistas e seu valor – como professora de crianças com necessidades especiais e mãe de três filhos – eram repetidamente reduzidos à insignificância quando comparados aos centímetros de cintura que você não conseguia perder.

Me despedaçou o coração testemunhar seu desespero, e sinto muito por não ter te defendido. Eu já tinha aprendido, àquela altura, que você ser gorda era culpa sua. Eu tinha ouvido papai falar de perder peso como um processo “muito simples” – coisa que, ainda assim, você não conseguia fazer. A lição: você não merecia comer e com certeza não merecia nenhuma compreensão.

Mas eu estava errada, mãe. Hoje eu entendo o que é crescer em uma sociedade que diz para as mulheres que a beleza delas é o que mais importa, e, ao mesmo tempo, define padrões estéticos absoluta e eternamente fora de alcance. Eu também entendo a dor que é internalizar essas mensagens. Nós acabamos nos tornando nossos próprios carcereiros e nos impomos punições sempre que não conseguimos chegar lá. Ninguém é mais cruel conosco do que nós mesmas.
Mas essa maluquice precisa acabar, mãe.

Acaba com você, acaba comigo. Acaba agora. Merecemos mais – mais que ter dias horríveis por pensamentos ligados a nossa péssima forma física, desejando que ela fosse diferente. E não é mais só sobre você e eu. É também sobre a Violet. Sua neta tem apenas 3 anos e eu não quero que esse ódio ao corpo tome conta dela e estrangule sua felicidade, sua confiança, seu potencial. Eu não quero que ela acredite que a aparência é o maior ativo que ela possui, e que vai definir o valor dela no mundo. Quando a Violet nos olha para aprender a ser uma mulher, precisamos ser os melhores modelos que pudermos. Precisamos mostrar para ela, com palavras e com as nossas ações, que as mulheres são boas o suficiente exatamente como são. E para ela acreditar, nós precisamos acreditar primeiro.

Quanto mais velhas ficamos, mais pessoas queridas perdemos, doentes ou em acidentes. A perda é sempre trágica, sempre muito precoce. Às vezes eu penso o que essas pessoas não dariam para ter mais tempo num corpo saudável. Um corpo que as permitisse viver um pouco mais. O tamanho das coxas ou os pés de galinha não importariam. Seria vivo, e portanto seria perfeito.
O seu corpo é perfeito.

Ele te permite desarmar todo mundo com seu sorriso, contaminar cada um com sua risada. Te dá seus braços para envolver a Violet e apertá-la até ela gargalhar. Cada momento que gastamos nos preocupando com a nossa forma física é um momento jogado fora, um pedaço precioso de vida que a gente não vai recuperar nunca mais.

Vamos honrar e respeitar nossos corpos pelo que eles fazem ao invés de desprezá-los pelo que eles são. Vamos manter o foco em viver vidas saudáveis e ativas, deixar nosso peso de lado e largar nosso ódio ao corpo no passado, que é onde ele merece ficar.
Quando eu olhava para aquela foto sua de maiô branco anos atrás, meus olhos inocentes de criança enxergavam a verdade. Eu via amor incondicional, beleza e sabedoria. Eu via a minha mãe.

Com amor,
Kasey.

NotaTexto original em inglês, escrito por Kasey Edwards e publicado no Daily Life. Traduzimos com a autorização da autora. Agradecemos.
Kasey Edwards passou mais de uma década escalando os degraus corporativos como consultora até acordar uma manhã e descobrir que não queria mais ir ao trabalho. Nunca mais. Mistura humor, irreverência e muita pesquisa para escrever sobre satisfação no trabalho, maternidade, FIV, auto-estima e imagem. Mora em Melbourne com seu marido e a filha, e é autora de quatro best-sellers

Fonte: http://blog.cinese.me/post/63559684186/quando-sua-mae-diz-que-e-gorda

Libertação imediata dos presos políticos de 15 de outubro de 2013 no Rio de Janeiro.

Libertação imediata dos presos políticos de 15 de outubro de 2013 no Rio de Janeiro. 

" No dia 15 de outubro de 2013, na cidade do Rio de Janeiro, a Polícia Militar deteve mais de 200 pessoas de forma aleatória ou porque estavam sentadas nas escadarias da Câmara Municipal. Destas, mais de 60 foram autuadas pela Polícia Civil e permanecem presas, a maioria foi acusada de formação de quadrilha. Exigimos a imediata libertação de todos os presos políticos! "

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Um terço dos usuários de planos de saúde recorre ao SUS ou paga consulta

Tantos são os problemas e dificuldades enfrentados com planos de saúde no país que 30% dos usuários recorrem ao SUS (Sistema Único de Saúde) ou ao atendimento particular para receber cuidado médico adequado. É o que mostra uma pesquisa da Associação Paulista de Medicina (APM), em parceria com o Datafolha, divulgada nesta quinta-feira (17), às vésperas do Dia do Médico.

O levantamento indica que houve um aumento de 50% na procura de usuários de convênios por atendimento particular ou pelo SUS em relação à apuração anterior, feita no ano passado. Em 2013, 22% das pessoas que têm plano de saúde tiveram que recorrer ao sistema público, contra uma proporção de 15% registrada no ano passado. E 12% tiveram que arcar com o atendimento este ano, contra 9% em 2012.

O maior crescimento na procura por outras opções de atendimento ocorreu principalmente na capital, entre as mulheres e entre os usuários com idade entre 25 e 34 anos.



Metodologia
A pesquisa foi realizada junto à população adulta do Estado de São Paulo que utilizou planos de saúde dos últimos 24 meses. Foram consultados homens e mulheres, com 18 anos ou mais, pertencentes a todas as classes econômicas, que possuem plano ou seguro saúde como titulares ou dependentes.

A amostra total é de 861 entrevistas, feitas em setembro deste ano. A margem de erro máxima é de três pontos percentuais, para mais ou para menos, considerando um nível de confiança de 95%.
Os entrevistados apontaram queixas como a dificuldade para marcar consultas e para realização de exames, cirurgias e procedimentos de maior custo, entre outros pontos.

Entre os usuários, 79% relataram problemas. A APM diz que, projetando-se a proporção para os 10,4 milhões de usuários, há 8,2 milhões de pessoas com queixas. Cada pesquisado apontou mais de quatro problemas referentes ao plano de saúde.

Queixas
Questionados sobre a utilização de serviços e a percepção de problemas, 66% dos entrevistados reclamaram de dificuldades em consultas médicas e 47%, na realização de exames. Já o pronto atendimento, terceiro em uso, é o serviço com maior índice de problemas: 80% dos usuários apresentaram queixas.
No item consultas médicas, demora na marcação (52%), médico que saiu do plano (28%), e demora na autorização da consulta (25%) são as queixas mais citadas pelos usuários.
Quando aos exames e diagnósticos, as queixas são recorrentes para demora para marcação (28%), poucas opções de laboratórios e clínicas especializadas (27%), e tempo para autorização do exame ou procedimento (18%).

Local de espera lotado é o principal problema apontado pelos usuários do pronto atendimento (74%).  Demora para ser atendido também é um aspecto importante, mencionado por 55% dos usuários. Outras reclamações citadas são demora ou negativa para realização de procedimentos necessários (16%), locais inadequados para receber medicação (13%) e negativa de atendimento (9%).
 
Internações
Quarenta e um por cento dos usuários que precisaram ser internados relataram problemas, o que foi projetado para um total de 800 mil pessoas. Do total, 30% reclamaram da falta de opções de hospitais; 12% de dificuldade ou demora para o plano autorizar a internação; e 8% da falta de vaga no hospital procurado.

Dos 16% de usuários que passaram por cirurgia, um quarto relatou problemas como a demora na autorização (17%) e falta de cobertura para materiais especiais (9%).

Entre os entrevistados, 15% já fizeram alguma reclamação, recurso ou notificação contra o plano de saúde. A negativa para cirurgia foi o motivo mais apontado pelos beneficiários que recorreram à Justiça.

Fonte: http://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2013/10/17/um-terco-dos-usuarios-de-planos-de-saude-recorre-ao-sus-ou-paga-consulta.htm



Como criar um filho gentil com tanta violência masculina contra mulheres?


"A ideia de ter um filho me assustou". Se a violência masculina é a maior ameaça às mulheres, como criar um filho gentil?

Por Christopher Zumski Finke, original em Yes! Magazine. Tradução de Isadora Otoni.
A ideia de ter um filho me assustou: Que tipo de homem ele se tornará quando crescer? Confira abaixo o que eu aprendi sobre como criar um homem com compaixão

Minha mulher e eu tivemos Rhodes, nosso primeiro filho, há quatro meses. Isso é o que eu mais me lembro daquela primeira semana: o cheiro de sua pele e sua respiração quando ele dormia no meu colo em nossa cama – pequeno, quentinho, e frágil, como um ovo. Eu respirava o cheiro da vida mais nova que já encontrei enquanto ele dormia.
Ele não era pequeno demais, mesmo assim eu ficava maravilhado por como esses novos seres humanos chegavam tão minúsculos. Nós, a criatura mais dominante da Terra, começamos a vida tão desamparados, e vermelhos, e bonitos. Sabia, enquanto ele descansava apertado contra meu coração, que faria qualquer coisa para protegê-lo, amá-lo, e apresentá-lo ao mundo.
Mês passado, quarto homens na Índia foram sentenciados a morte por estuprar e matar com tanta brutalidade que quase não acreditei. Na semana anterior, quatro jogadores de futebol americano da Universidade Vanderbilt foram acusados de estuprar uma mulher inconsciente (algo muito parecido como os eventos do último ano em Steubenville, Ohio). E durante a primavera anterior, pouco antes de Rhodes nascer, Ariel Castro foi preso em Cleveland por aprisionar três mulheres – sequestrada quando jovens – em sua casa durante dez anos.
Essas e outras histórias constantemente enchem nossas redes sociais, programas de tevê, jornais, mídias sociais, blogues… É quase impossível evitar histórias de violência, estupro, e dominação. Viver decentemente já é difícil suficiente sozinhos, e agora preciso criar um filho corretamente em um mundo que é, em parte, caracterizado pela violência masculina.
Louis CK resume isso melhor: “Não existe ameaça maior às mulheres do que os homens. Nós somos o número um em ameaça às mulheres. Globalmente e historicamente, nós somos o número um em danos e lesões às mulheres”. E eu me preocupo que ele esteja certo.
Agora que eu sou um pai, me deparo com essa questão constantemente: Como criar um filho com compaixão e dignidade? Um homem que respeita mulheres?

Menino ou menina?

No começo da gravidez, minha mulher e eu discutimos se preferíamos criar um menino ou uma menina. Isso estava totalmente fora do nosso controle, mas a conversa mexeu comigo: menino ou menina? Nós criamos um mundo de coisas belas assim como coisas terríveis. Eu submeteria um menino ou uma menina a isso?
Enquanto esperava nossa criança, minha preocupação quanto às notícias de violência sexual atingiram novos patamares, e influenciaram o que pensava sobre criar um menino ou uma menina.
criar filho pai
O autor do artigo com seu filho, Rhodes, em casa (Arquivo pessoal de Christopher Zumski Finke)
Uma menina, o primeiro pensamento que tive, poderia estar protegida. Me preocupei com sua segurança, mas pensei que poderia protegê-la das ameaças domésticas contra mulheres.
Mas um menino, isso realmente me assustou. Meninos são as ameaças domésticas contra mulheres. Se eu tivesse um menino, nós deveríamos criar um homem. E que tipo de homem ele seria?

Tenho dificuldades imaginando meu filho como qualquer outra pessoa diferente da criança inocente que ele é hoje. Minha hipótese é essa: Eu serei um bom pai e ele será um bom garoto. Mas eu não posso ver o futuro. Eu o amo e quero que ele ame aos outros, quero que ele seja gentil, seja responsável por suas ações, e trate as outras pessoas com respeito. Eu quero que ele aprenda com o homem que escolheu esse comportamento, e não o poder e abuso.

Homens como Pacificadores

“Isso é endêmico.” Esse é Ed Heisler, diretor executivo da Homens como Pacificadores, falando sobre as estatísticas de violência sexual e abuso doméstico.
“Essa é o ar social que os jovens estão respirando enquanto crescem”, ele me disse. “A mídia, o ambiente esportista, o jeans, os adultos que vendem jeans, os pais, as professoras que temos nas escolas, os líderes religiosos – todos criam um ambiente que normaliza a dominação e o controle do homem.” Ele escolheu a palavra certa: endêmico. “É assim há algum tempo e permanecerá assim até que algo no ambiente social mude.”
A entidade Men as Peacemakers (Homens como Pacificadores, em tradução livre) foi fundada em Duluth, após a comunidade se chocar com uma série de assassinatos cometidos por homens nos anos de 1990. Quando os cidadaõs se reuniram para discutir o combate à violência em sua cidade, a maioria presente era de mulheres. Isso preocupou alguns dos homens, que convocaram um retiro de 55 homens da área para discutir seus papéis e suas responsabilidades para diminuir a violência. Uma das iniciativas que nasceu do encontro foi a Men as Peacemakers, cuja missão é ensinar alternativas não violentas a homens e garotos, e que a violência era inaceitável.
Procurei por Heisler com uma questão honesta: Como criar meu filho para ser um homem preocupado em fazer sua parte para mudar o ambiente social que subjuga as mulheres?
A entidade tenta mudar esse ambiente incorporando exemplos e mentores por toda a comunidade. Por exemplo, O Festeiro Exemplar, um programa coordenado com a faculdade College of St. Scholastica, tenta reformular a cultura de festas na América para uma que é segura e equitativa às mulheres. Eles fazem isso colocando mentores nas escolas, colégios, organizações juvenis, e outros lugares onde jovens podem ter uma conversa honesta sobre sexualidade e festas. E acontece que a linguagem e a conversa formam as atitudes de homens jovens em relação às mulheres.
Mencionei uma anedota da edição deste ano da Exposição de Entretenimento Eletrônico. Durante a apresentação da Microsoft do novo Xbox One, o jogador masculino e MC deu um beatdown virtual na jogadora antes da audiência ao vivo, dizendo a ela: “Apenas deixe acontecer. Terminará rapidinho.”
Em uma cultura em que o discurso de dominação e abuso são socialmente permitidos (videogames), essa é a linguagem dominante – e a linguagem que usamos importa. A língua pode tanto capacitar quanto objetivar. (Compare os resultados de “college women” e “college girls” na busca do Google Imagens, e aí você verá o meu ponto).
A Iniciativa dos Campeões, outro programa do Homens como Pacificadores, reúne atletas universitários com jovens e trabalha diretamente com as associações esportistas e treinadores para garantir que a prevenção da violência contra mulheres faça parte de suas missões.
Desde que a tentativa de estupro de Steubenville focou na cultura dos esportes e na violência sexual, Heisler acredita que esse ambiente é crítico. Ele usa o caso de Steubenville em um exercício de imaginação em que pede aos meninos para “pensar naquela jovem de Steubenville como um garotinho” e considerar como seu ambiente se parece: “De alguma forma aquelas crianças aprenderam o que seu senso de humor era e como aquela mulher era apenas um objeto de prazer para os homens – algo que não importa, no qual eles podem urinar, do qual eles podem usar, fazer o que eles quisessem e não se importar. Essa não foi a forma como nasceram.”
Então, talvez os homens são a pior coisa que já aconteceu para as mulheres, mas nós não nascemos assim. Nós aprendemos isso. Mesmo bem intencionados, jovens responsáveis são capazes de tomar decisões terríveis se são encorajados, preparados, ensinados a fazer o contrário.
Então, perguntei a Heisler diretamente: Você está falando com um recém papai. O que é mais importante, diga um conselho fundamental que você pode me dar para que eu tenha certeza de que as crianças que estou criando não serão um problema aos direitos humanos?
Sua resposta? Crie um ambiente inteiramente novo para o rapaz:
“Novos pais têm a oportunidade e responsabilidade de pensar proativamente em como moldar e providenciar um novo ambiente para uma criança, um que irá definir os papéis e expectativas de igualdade, dignidade e respeito entre homens e mulheres.”
Isso significa não só ser um exemplo em como tratamos as mulheres, as parceiras e as desconhecidas em público, mas também em o que achamos sobre o nosso lar e os lugares que frequentamos.
“Nós estamos tentando criar um mundo em que pais – homens – estejam dando um passo adiante e pensando de verdade sobre como criarão um novo ambiente que promova igualdade de gêneros e respeito a mulheres.” Heisler me disse. “Nós temos uma corrente nos puxando para a direção contrária. Exige muito esforço para criarmos um ambiente que influencie nossos jovens.”

Mudando a corrente

Uns dias antes, tomei uma cerveja com Todd Bratulich e Luke Freeman. Depois de toda a pesquisa sobre violência e dominação, eu queria me refrescar. Todd é um jovem pastor na Primeira Aliança (First Covenant), uma igreja comunitária urbana em Minneapolis; Luke, um professor de ensino médio. E mais importante: assim como eu, eles têm filhos pequenos.
Conversamos sobre como sermos bons homens que amam suas esposas, seus familiares e seus amigos, e como queríamos criar um ambiente agradável para nossos filhos crescerem. Nós todos nos sentimos bem por nos comprometermos com essas questões, pensando que estamos fazendo a nossa parte – nós não fazíamos parte da cultura de violência contra mulher.
E então, sentindo a nossa autossatisfação, Luke disse: “Nos apunhalamos pelas costas porque criamos muitas expectativas para nós mesmos, apenas vamos seguir em frente e aproveitar o nosso privilégio.”
E percebi, não tinha feito nem um pouco a minha parte. Não ainda. Tratar minha esposa com amor e gentileza é vital, claro. Mas também é o mínimo.
Nós devemos ser ativos, criativos, cheios de propostas para estender esse comportamento em todo momento de nossas vidas se queremos ser pacificadores, devemos nadar contra a corrente e criar o espaço necessário para criarmos nossos filhos com empatia e compaixão.
Nós três levantamos nossos copos para brindar o desafio, e voltamos para casa para ver nossos filhos.
via Revista Fórum

Fonte: http://www.pragmatismopolitico.com.br/2013/10/criar-filho-gentil-tanta-violencia-masculina-mulheres.html?utm_source=feedburner&utm_medium=feed&utm_campaign=Feed%3A+PragmatismoPolitico+%28Pragmatismo+Pol%C3%ADtico%29

Cansei de ser princesa: 24 fantasias que vão deixar as meninas ainda mais poderosas

Cabelos perfeitos, maquiagem, castelo, um drama e um príncipe encantado. Os contos de fadas fizeram parte da nossa infância e ainda permeiam a imaginação das crianças. Mas, o universo infantil feminino é muito mais do que esperar um final feliz.

Confira galeria de fotos que tira o rótulo de princesa frágil e delicada das meninas, e dá super-poderes, muita diversão e algumas lições de história para elas.

The pint-size Queen of Naboo.

Brave Amelia Earhart, all set to fly solo across the Atlantic Ocean.
Mini-Frida, complete with an unbelievably great unibrow.

A tiny TARDIS that proves the next Dr. Who should be a lady.

Bill's itty-bitty bride.







Doctor in training.






The future queen of hearts.

Fonte: http://catracalivre.com.br/geral/design-urbanidade/indicacao/cansei-de-ser-princesa-24-fantasias-que-vao-deixar-as-meninas-ainda-mais-poderosas/

Imagens: http://www.buzzfeed.com/erinlarosa/badass-halloween-costumes-to-empower-little-girls

O Grupo Cultural Jongo da Serrinha, um dos mais tradicionais grupos de Jongo do país, apresenta seu novo CD VIDA AO JONGO.

O gênero musical “JONGO”, considerado o pai do samba, é um ritmo conhecido nas canções de diversos artistas como Beth Carvalho, Clara Nunes, Nei Lopes, Wilson Moreira e Arlindo Cruz. O novo disco VIDA AO JONGO conta com a participação especial de grandes nomes Zeca Pagodinho, Sandra de Sá e Jorge Mautner.

Dedicado a tia Maria do Jongo, que fará sua participação especial aos 92 anos, o repertório conta com pontos de jongo tirados do seu “caderninho” onde ela anota suas memórias. O repertório é uma reunião de bambas da música popular carioca em homenagem ao ritmo que foi tombado pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) em 2005 como primeiro patrimônio imaterial da região sudeste.
Conhecido também como Caxambu, o Jongo é integrado por percussão de tambores, canto e dança.

Presente no Sudeste brasileiro, o Jongo fez o caminho do café e da cana-de-açúcar, praticado pelos negros de origem bantu, trabalhadores escravizados nas lavouras da região.

 Fonte: https://soundcloud.com/jongo-da-serrinha/sets/vida-ao-jongo


segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Chegamos á 7 Mil acessos!!!! Obrigada á todos

A Família Inzo Musambu Rainha das Águas Doce agradece todos pelo carinho e pelo acesso, que Mavambu, Nzila / Exu, Pombo Gira sempre esteja em nossos caminhos, Mãe Kisimbi / Oxum Apara sempre nos traga prosperidade, Pai Nzazi / Xango nunca deixe a injustiça cruzar nossos caminhos, que Matmba / Iansã traga ventos de amor e Wunji / Ere nunca deixe de faltar alegria em nossas vidas !

Ksimbi ê !



Professor que assumiu homossexualidade é apedrejado até a morte

A hipótese de crime homofóbico está sendo investigada pela polícia. Aluna contou que o professor era uma pessoa divertida e que amava o que fazia. "Ontem, durante a aula, ele estava tão alegre; falou que iria viajar, é inacreditável"

 

Foi encontrado morto no começo da manhã desta sexta-feira, 11, no fundo da Escola de Tempo Integral (ETI) Eurídice de Melo, no Jardim Aureny III, em Palmas, o professor Arione Pereira Leite, de 56 anos. Ele foi apedrejado na cabeça, sofreu afundamento craniano e morreu no local.

O corpo estava próximo ao carro da vítima, na Rua 26. Uma das três filhas de Arione foi até o local e fez a identificação do cadáver, uma vez que não foram encontrados documentos pessoais com o professor. De acordo com a Polícia Militar (PM), a pedra usada no crime tinha cerca de 15 cm de diâmetro.

O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionado e após a confirmação da morte do professor, o corpo foi encaminhado para o Instituto Médico Legal (IML) da capital. A lideração deve ocorrer nas próximas horas.

Natural da cidade de Novo Acordo, Arione morava na quadra 1.104 sul e dava aulas de português na Escola Municipal Aurélio Buarque, onde trabalhava há 5 anos. Segundo amigos, ele havia assumido a homossexualidade recentemente. A hipótese de crime homofóbico está sendo investigada pela Divisão de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP).

Abalada, Bethânya Gabrielle, que era aluna da vítima, contou, em entrevista à REDE TO, que Arione era uma pessoa divertida que amava o que fazia. “Ontem durante a aula, ele estava tão alegre; falou que iria viajar, é inacreditável”, disse.

professor homossexual apedrejado tocatins
Professor que havia assumido a homossexualidade recentemente é apedrejado até a morte (Foto: Dermival Pereira, Rede TO)
 
O presidente do Grupo Ipê Amarelo pela Livre Orientação Sexual, Henrique Ávila, afirmou que só este ano, foram três homicídios motivados por razões homofóbicas na capital tocantinense. “Estamos entristecidos com a notícia e isso só reforça a necessidade do governo em criar medidas emergenciais para o fim da homofobia em nosso estado, pois os crimes de ódio só estão aumentando e o governo não toma uma postura diante de tudo”, afirmou.

Fonte: http://www.pragmatismopolitico.com.br/2013/10/professor-assumiu-homossexualidade-apedrejado-ate-morte.html

 

Livro de Makota Valdina sera lançado em novembro e contara com apoio da sepromi


 
 
“Meu caminhar, meu viver” é o nome do livro escrito por Makota Valdina de Oliveira Pinto, que será lançado em novembro, mês da Consciência Negra, e contará com o apoio da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial do Estado da Bahia (Sepromi).

Aos 69 anos, Valdina Pinto, que ocupa o cargo religioso de Makota do Terreiro Tanuri Junsara, conta no livro sua própria história, desde a infância vivida no bairro onde nasceu, no Engenho Velho da Federação, até os dias de hoje, nos quais tem constantemente lutado contra o racismo, pela igualdade de direitos e por uma sociedade sem preconceitos.

Makota esteve, na quarta-feira (09/10) na Sepromi para apresentar uma edição de seu livro ao secretário estadual de Promoção da Igualdade Racial, Elias Sampaio, acompanhada da coordenadora de Ações Temáticas da Secretaria Estadual de Políticas para Mulheres (SPM), a ialorixá Jaciara Ribeiro, do terreiro Abassá de Ogum, em Itapuã.

Makota Valdina, durante conversa com o secretário, relatou que o livro era uma cobrança antiga dos amigos e familiares, mas a decisão só foi tomada há dois anos, quando seu irmão completou 70 anos. A decisão de lançar o livro em novembro tem o objetivo de fortalecer o mês da Consciência Negra, no entanto, ela fez questão de ressaltar que a Consciência Negra deve ser fortalecida todos os dias e anos.
O livro, além de reunir sua história de luta, é uma forma de  mostrar a importância da memória cultural do povo brasileiro e da valorização do ensino da cultura afro-brasileira e africana.

O secretário Elias Sampaio confirmou o apoio que será dado ao lançamento do livro de Makota e parabenizou pelo trabalho bem elaborado, bem escrito e ilustrado.

Foto: Ascom/SPM

JOÃO ZINCLAR, A IMAGEM MILITANTE no MIS- Campinas

Exposição JOÃO ZINCLAR, A IMAGEM MILITANTE
Abertura: 15 de outubro (terça-feira) – 19 h
Visitação: 16 de outubro a 17 de novembro, de terça a sexta-feira, das 10h às 17h e sábados, das 10h às 16h.

Documentário JOÃO ZINCLAR, A IMAGEM MILITANTE
Lançamento: 18 de outubro (sexta-feira) – 19h30 na abertura da 6ª Mostra Luta

ENTRADA FRANCA

MUSEU DA IMAGEM E DO SOM – CAMPINAS
Palácio dos Azulejos
Rua: Regente Feijó, 859 - Centro


Samba-Enredo 2014 da Mangueira fala da Diversidade

"CHEGANDO A TERRA DA GAROA UM ARCO ÍRIS DESPERTOU
ORGULHO, RESPEITO, IGUALDADE
TREMULA A BANDEIRA DA DIVERSIDADE" ♪♫

A Estação Primeira Primeira definiu, na madrugada deste domingo, seu samba-enredo para o Carnaval 2014. Após uma finalíssima com três obras, a diretoria consagrou a parceria de Lequinho, Junior Fionda, Paulinho de Carvalho e Igor Leal como a grande campeã. Foi a oitava vitória de Lequinho na verde e rosa. Fionda faturou pela sétima vez, enquanto Igor Leal celebrou sua quarta conquista.

Parceria campeã na Estação Primeira de Mangueira
Foto:  Raphael Azevedo / Agência O Dia


A escolha foi a primeira realizada pela gestão do presidente Chiquinho da Mangueira, que assumiu em abril após o mandato de Ivo Meirelles. O enredo de 2014 é "A festança brasileira cai no samba da Mangueira" e está sendo desenvolvido pela carnavalesca Rosa Magalhães. Será a estreia da veterana na agremiação de Cartola.

Lequinho dedica vitória ao filho
Bastante emocionado com o resultado, Lequinho dedicou à vitória ao filho, Alexander Filho, que nasceu na última sexta-feira. "Já venci várias vezes, mas dessa vez está sendo diferente. Estou vivendo um momento muito especial na minha vida por causa do nascimento do meu filho. Ele veio no sábado, no mesmo dia do aniversário de mestre Cartola. Foi um presente duplo vencer a disputa", festejou.
Para o compositor, o hino escolhido "tem tudo para explodir na Sapucaí." "O enredo tem a cara da Mangueira e acho que pode levar a escola ao título. A letra é poética e os refrões são muito fortes", analisou.

Compositor Lequinho celebra vitória com presidente Chiquinho da Mangueira
Foto:  Henrique Matos / Divulgação


O parceiro Júnior Fionda fez coro e destacou a força do samba junto à comunidade. "Preferimos fazer uma coisa mais leve, mas sem deixar de ter a cara da escola. A letra é bastante abrangente e conta bem o enredo. E ainda fala desse novo momento da Mangueira, da importância de todos estarem unidos em busca do melhor".
Ao todo, a parceria gastou aproximadamente R$ 60 mil até a final. Na quadra, a composição foi defendida pelo intérprete Tinga. A quadra ficou lotada a noite inteira e teve os portões fechados por volta das 2h.
'Mangueira está fazendo dois carnavais', diz presidente
Após a disputa, a verde e rosa agora foca no barracão para chegar competitiva ao desfile. Segundo o presidente Chiquinho da Mangueira, as dificuldades são grandes, mas a expectativa para o desfile é a melhor possível.
"O trabalho no barracão está fluindo muito bem e temos a certeza que a escola vai fazer bonito na Sapucaí. A Mangueira está fazendo dois carnavais, um só pagando as dívidas e o outro pensando em 2014. Mas as coisas estão caminhando bem. Com a ajuda de muitos amigos e parceiros estamos conseguindo parcelar as pendências e quitar os compromissos antigos", afirmou o dirigente. O montante da dívida da agremiação é de aproximadamente R$ 8 milhões.

Quadra da verde e rosa ficou lotada durante a finalíssima
Foto:  Henrique Matos / Divulgação


Confira a letra do samba campeão
Enredo: A festança brasileira cai no samba da Mangueira
Autores: Lequinho, Junior Fionda, Paulinho de Carvalho e Igor Leal
VEM OUVIR A VOZ DO POVO A CANTAR
AO LONGE TODO MUNDO ME CONHECE
O MEU SAMBA É UMA PRECE
DESÇO O MORRO PRA MOSTRAR
A FESTA MANGUEIRA, COMEÇOU
CONTA A HISTÓRIA QUE CABRAL
CHEGOU DE PORTUGAL E O ÍNDIO ENTÃO DANÇOU
DE NORTE A SUL A ALEGRIA SE ESPALHAVA
VILA RICA SE ENFEITAVA, PRO CONGADO COROAR
ÔÔÔ... LÁ EM SÃO SALVADOR
VOU LAVAR A ESCADARIA NA FÉ DO NOSSO SENHOR
FAÇO UM PEDIDO A RAINHA IEMANJÁ
ILUMINE A PASSARELA PRA MINHA ESCOLA PASSAR
 
PEGUE SEU PAR, DANÇE QUADRILHA
SIMBORA PRO MEU SERTÃO
VEM PULAR FOGUEIRA VIVA SÃO JOÃO!!!
COM SANFONA E ZABUMBA
TEM FORRÓ A NOITE INTEIRA
NO ARRAIÁ DA ESTAÇÃO PRIMEIRA

 
SOU BRASILEIRO, VOU FESTEJAR
MEU PALCO É A RUA E A LUZ O LUAR
NO CORAÇÃO DA FLORESTA MAGIA QUE ENCANTA
"GARANTO" QUE VAI "CAPRICHAR"
CHEGANDO A TERRA DA GAROA UM ARCO ÍRIS DESPERTOU
ORGULHO, RESPEITO, IGUALDADE
TREMULA A BANDEIRA DA DIVERSIDADE
UM NOVO TEMPO NASCERÁ, EXPLODE EM CORES PELO AR
É CARNAVAL ESTOU AQUI DE NOVO LÁ VEM MEU POVO A DESFILAR
NA "SUPER CAMPEÃ" DA MAIOR FESTA DA CULTURA POPULAR
 
OBA, OBA, EU QUERO VER QUEM VAI
CAIR NA FOLIA SAMBAR COM A MANGUEIRA
É BOM SE SEGURAR, LEVANTA POEIRA
É VERDE E ROSA A FESTANÇA BRASILEIRA




Fonte:  http://odia.ig.com.br/diversao/carnaval/2013-10-13/parceria-de-lequinho-fionda-e-igor-leal-vence-de-novo-na-mangueira.html

Projeto leva ensino da cultura africana para escola de comunidade quilombola no Maranhão



No Ceqfaam, o projeto deve continuar sendo desenvolvido nos próximos anos. (Marcello Casal Jr / Agência Brasil)
 
Codó (MA) - No Centro Quilombola de Alternância Ana Moreira (Ceqfaam), o projeto Coisa de Preto leva a linguagem, dança, culinária e religiosidade africana para a sala de aula. O colégio funciona há quatro anos na comunidade quilombola Santo Antônio dos Pretos, na área rural de Codó, no interior do Maranhão, a 300 quilômetros de São Luís. Coisa de Preto é o primeiro projeto desenvolvido voltado para a cultura afro-brasileira. Embora não tenha sido criado com esse propósito, o projeto marca os dez anos da Lei 10.639/03 que torna obrigatório no currículo escolar o ensino da história e cultura africana.


“Vamos aproveitar o mês da consciência negra [novembro] para fortalecer e valorizar a cultura afro. Serão várias apresentações que vão envolver as cidades e as comunidades próximas”, disse o idealizador do projeto o professor Solon da Nóbrega.

“As nossas raízes foram se perdendo”, declarou Francisco Carlos da Silva, uma das lideranças da comunidade quilombola Centro do Expedito. “A Lei 10.639 diz que se deve trabalhar dentro das disciplinas a questão da importância e valorização da história da África. Mas, infelizmente, isso não acontece. Se você pesquisar as comunidades quilombolas, não só em Codó, mas no Brasil, é uma raridade ver o jovem quilombola envolvido na questão cultural, na questão da sua identidade”, declarou.

No Ceqfaam, o projeto deve continuar sendo desenvolvido nos próximos anos. “Os alunos que não moram em uma área quilombola não levam muito a sério isso. Mas nós, que moramos, levamos. Para mim é importante, e eu sei que vai ajudar no meu desenvolvimento tanto como pessoa como na comunidade”, disse a estudante do 3º ano do ensino médio, Francisca Aldaísa da Silva.

No fim do ano, Aldaísa conclui a formação básica e tem um plano: estudar para ser aprovada em uma faculdade, e cursar pedagogia. “Quero ser professora e ensinar na comunidade. Eu vejo que a comunidade precisa de professores para ensinar os próprios alunos”. Silva concorda com Aldaísa. Segundo ele, a falta de formação e o preconceito, tanto de professores que vêm de fora, como dos próprios moradores, principalmente religiosos, fazem com que a Lei 10.639 não seja cumprida. As religiões cristãs têm ganhado espaço nas comunidades quilombolas, fazendo com que religiões como a umbanda tenham menos adeptos.
De acordo com a secretária de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (Secadi) do Ministério da Educação (MEC), Macaé Maria Evaristo dos Santos, a formação de professores é preocupação do MEC, “Estamos falando de comunidades quilombolas, que têm uma história diferenciada, que têm aspectos culturais próprios e que devem ter essa história, memória e tradições orais garantidas no currículo dessas escolas”, ressaltou.

Maria Evaristo disse que a pasta tem feito investimentos específicos para a formação de professores de comunidades quilombolas e que, além disso, está implementando em 43 universidades o curso de licenciatura para educação no campo. Foi feito um edital em 2012 e foi autorizada pelo Ministério do Planejamento a contratação de professores. Ainda não há data definida para que os cursos comecem a funcionar. “Vamos construir uma rede potente no Brasil que vão produzir, além da formação de professores, novas pesquisas, novos olhares sobre a questão. Durante muito tempo essas pessoas [do campo] não foram pensadas na perspectiva do direito”, destacou.

Sobre o cumprimento da Lei 10.639/03, a secretária do MEC declarou que ainda é preciso avançar muito na produção de conteúdos, não só para a formação de professores, mas para que poder desenvolvê-los em sala de aula. Apesar disso, ela avaliou que houve avanços. “A lei trouxe uma mudança de paradigmas, se antes havia uma negação do racismo em sala de aula, hoje temos uma demanda por formação em história e cultura africana e afro-brasileira e educação para as relações étnico-raciais”, concluiu.

Edição: Aécio Amado
Fonte: http://www.ebc.com.br/educacao/2013/10/projeto-leva-ensino-da-cultura-africana-para-escola-de-comunidade-quilombola-no

domingo, 13 de outubro de 2013

Daniela Mercury se casa com Malu Verçosa em Salvador

Foi celebrado neste sábado o casamento civil da cantora Daniela Mercury e da jornalista Malu Verçosa. Cerca de 200 convidados assistiram à cerimônia na casa das duas, em Salvador.
À moda antiga, além das alianças, o casal também trocou os sobrenomes. "Daniela agora é minha esposa, minha família, minha inspiração para viver. Malu Mercury", escreveu a jornalista em foto postada no instagram.

Sem parar para falar com a imprensa, os pais de Daniela, Liliana e Antônio, foram os primeiros a chegar. Cristiane, irmão da cantora, disse que a união era um direito delas e que estava ali para comemorar com o casal.






 
Jornalista Malu Verçosa publica fotos de seu casamento com a cantora Daniela Mercury em seu perfil no Instagram
"Conheço Malu há muito tempo e vim aqui trazer meu abraço para ela", disse o também convidado prefeito de Salvador, ACM Neto. A jornalista já trabalhou na Rede Bahia, da família do político.

Os vestidos usados pelo casal foram comprados em viagem recente à Europa. Inicialmente, a tarefa de vestir Daniela e Malu seria do estilista Alexandre Herchcovitch, mas não houve tempo para provas.
Os filhos da cantora baiana participaram do casamento. Gabriel Póvoas, 26, que é músico, cantou. Márcia, 15, Analice, 12, e Ana Isabel, 3, foram damas. O DJ Zé Pedro ficou encarregado da música.

A lua de mel será em Fernando de Noronha. No entanto, como Daniela tem show marcado em São Paulo, a estadia deve durar apenas quatro ou cinco dias.

Fonte: http://f5.folha.uol.com.br/celebridades/2013/10/1356022-daniela-mercury-se-casa-com-malu-vercosa-em-salvador.shtml

sábado, 12 de outubro de 2013

I Seminário Mulher e Empreenderorismo - Fazendo as Ideias Acontecerem




Americano diz ter sido bloqueado do Facebook por postar foto beijando homem

Essa não é a primeira vez que a rede remove conteúdos ou bloqueia temporariamente perfis.



Foto: Reprodução
 
Jesse Jackman teve a foto acima removida e a conta suspensa do Facebook por 12 horas.
O americano Jesse Jackman disse que teve sua conta suspense temporariamente do Facebook após ter postado uma foto. Jackman, que é ator pornô e gay, publicou uma imagem na qual ele beija outro homem em seu perfil na rede social. O ator teve a foto excluída e ficou sem poder acessar sua conta por cerca de 12 horas. As informações são do site americano "The Huffington Post".

A imagem foi postada na terça-feira (8) e teve centenas de comentários – inclusive, alguns ameaçando de morte o dono do perfil no Facebook. A foto foi tirada do ar e, na sequência, Jackman recebeu a notificação de suspensão.

A possível causa para que o perfil de Jackman tenha sido tirado do ar temporariamente é que vários usuários devem ter marcado a imagem como imprópria. Um porta-voz do Facebook, consultado pelo site americano "The Huffington Post", disse que a empresa está analisando o ocorrido.

A razão para a remoção do conteúdo, segundo a mensagem recebida por Jackman, foi que ele violou as regras da rede social, porém não foi especificada qual norma que foi descumprida. Nos termos de serviço, a rede social diz que proíbe imagens fortes, de nudez e gente que compartilha conteúdos pornográficos.

Essa não é a primeira vez que a rede remove conteúdos ou bloqueia temporariamente perfis. De acordo com o "Huffington Post", em 2011 a rede social removeu a foto de um beijo gay durante uma manifestação pelos direitos LGBT. Após analisar o caso, a empresa pediu desculpas pelo erro e restaurou a imagem.

Houve ainda outro caso de uma ilustração de dois homens se beijando. "A foto em questão não viola os termos de uso da rede e sua remoção foi um erro", informou a rede social na época, pedindo desculpas pelo ocorrido.

Fonte: http://www.gay1.com.br/2013/10/americano-diz-ter-sido-bloqueado-do.html#.UlonORCE69Z

Cristiane F. atualiza sua biografia em Frankfurt aos 51

Christiane F., que já teve 13 anos e foi "drogada e prostituída", como narrou na sua autobiografia de 1978, chegou aos 51 e resolveu contar o que andou fazendo nesse tempo.

Para tal, escreveu outro livro e participou de debate na Feira do Livro de Frankfurt. Centenas de pessoas se amontoaram para ouvir a ex-adolescente Christiane Felscherinow. Segundo livro "Christiane F. - Mein Zweites Leben" (Christiane F. - Minha Segunda Vida), lançado esta semana na Alemanha e na França, os anos posteriores à publicação de seu relato de juventude não foram fáceis.

"Nao há vida fácil para uma junkie", disse ela. Foi uma de suas poucas frases no evento, dominado pela discussão de políticas de apoio a viciados na Alemanha.


Daniel Roland/AFP
Christiane Felscherinow, também conhecida como Christiane F., durante a Feira de Frankfurt
Christiane Felscherinow, também conhecida como Christiane F., durante a Feira de Frankfurt

Christiane hoje tem hepatite C. Ela diz no livro que não conseguiu se afastar totalmente das drogas. "Há 20 anos me trato com metadona, mas tenho eventuais recaídas."
Ela debateu com um jornalista alemão, dois especialistas em política antidrogas e a jornalista Sonja Vukovic.
Foi esta quem persuadiu Christiane a contar sua vida uma vez mais. "Passei um ano e meio tentando convencê-la", diz à Folha Vukovic, co-autora. O livro será lançado no Brasil pela Bertrand, no primeiro semestre de 2014.

F. conta na nova biografia que, após o sucesso do primeiro livro, lançado em mais de 30 países e com 5 milhões de exemplares vendidos só na Alemanha, ela até chegou a voltar para a escola e ficar "limpa". Durou pouco. Evitou a heroína por um tempo, mas viciou-se em cocaína.

Segundo Patrice Hoffmann, diretor da editora francesa Flammarion, o novo livro esgotou na primeira semana. "Na Alemanha, a editora começou com 30 mil; antes de chegar às lojas já imprimiu outros 100 mil."

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2013/10/1355303-cristiane-f-atualiza-biografia-em-frankfurt-nao-ha-vida-facil-para-uma-junkie-diz.shtml

'Quero mais é que meu neto me chame de vovô', diz a psicanalista transgênero Letícia Lanz


“Rejeito qualquer tipo de rótulo”, declarou a psicanalista Letícia Lanz durante a participação no programa Na Moral, da TV Globo, em que discutia a vivência transgênero ao lado de outras personalidades trans. Na atração, Letícia – que se definiu ao jornalista Pedro Bial como simplesmente “gente” - revelou as pelejas de se assumir trans depois de 50 anos, um enfarto, um casamento hétero de 27 e três filhos.
Hoje, casada há 37 anos com a mesma mulher, a arquiteta e psicologa Angela Dourado, ela declara que o apoio da família foi 100% responsável para a nova etapa. Mesmo assim, ainda é chamada de pai pela filha e de avô pelo neto. Desconforto para algumas da comunidade trans e sinônimo de verdadeira transgressão para Letícia, que rejeita as identidades binárias.

“Pode me chamar de Geraldo, diz que sou marido... Mas também pode me chamar de Letícia, uma diva...”, sugere ela [ou ele] com bom humor para a abertura da entrevista. Segundo Letícia, a luta não é por uma identidade de gênero – ou por um tratamento congruente ao gênero apresentado, comumente associado às reivindicações trans – mas por direitos
Abaixo, ela revela com muita sinceridade a diferença das lutas, os males dos rótulos e os problemas que reproduzimos sem questionamentos. Uma entrevista transformadora, com reflexões contemporâneas e que promete embaralhar as normas e dar luz a pensamentos importantes sobre nós mesmos. Eu, pelo menos, saí totalmente modificado após o bate-papo. Confira:
- No programa Na Moral, você revelou ter levado cinco décadas para entender e assumir a condição de pessoa transgênera. Isso quer dizer que nesses 50 anos suas questões de identidade ficaram em suspenso, sem se manifestar em momento algum?
Não levei cinco décadas para me descobrir, mas para me libertar da fortíssima repressão a que fui submetida desde a infância. Foram cinquenta anos para reunir os meios de me expressar com dignidade, sem medo, sem culpa e tendo orgulho de ser a pessoa que eu sou.  Aos três anos, já havia percebido que era diferente do rebanho . Eles queriam que eu brincasse com bola e caminhãozinho, mas eu queria mesmo era brincar de boneca, brincar de casinha. Apesar de quase iletrada, a única pessoa que compreendeu e respeitou o meu desejo foi minha avó materna. Contra a vontade de todos, ela me deu uma boneca, e com isso arranjou uma boa briga com meus pais.
Depois, o processo que vivi foi de muita repressão , mas é importante ressaltar que não foi uma repressão violenta ou sacana. Toda vez que meu pai me apanhava ou era informado pela minha mãe que eu tinha repetido uma cena de travestismo, ele não me batia, mas conversava. Através de longas preleções morais, tentava mostrar que o que eu estava fazendo não era adequado para um menino e que eu sofreria muito ao longo da vida se eu não me corrigisse, de modo a fazer o que a sociedade espera de um verdadeiro homem.  Não era um discurso mau. Era como ele via as coisas e ele não estava nem um pouco errado. A sociedade é cruel com quem transgride seus rótulos de gênero.
O resultado da bondosa “ditadura moral” do meu pai foi que fazer de mim o meu próprio ditador, não só me impedindo e sabotando meus esforços para me assumir, como permanentemente me policiando, nos mínimos detalhes de conduta, para que ninguém percebesse que eu era uma pessoa diferente. Porém,  mesmo com tanta repressão e auto-repressão meus conflitos de gênero não desapareceram. Ao contrário, continuaram me aterrorizando esse tempo todo. E não pense você que uma pessoa transgênera “armarizada” sofre menos do que uma pessoa transgênera assumida. A dor é a mesma. Só muda a modalidade do sofrimento enfrentado, ou seja, o sofrimento de ficar no armário ou o sofrimento de sair dele. Não acho que eu tenha sido covarde por só conseguir me expressar muito mais tarde em minha vida. Eu só fiz aquilo que eu dei conta, na hora que eu dei conta.

- Além da questão transgênero, também existe o fato de você gostar de mulheres... Isso te livra de algum preconceito?
Sempre fui heterossexual. Além de querer ser mulher, sempre desejei as mulheres. Mas não acho que por causa disso eu esteja menos sujeita aos preconceitos. Na verdade, além de ser considerada “transgressora de gênero” pela sociedade, ainda sofro muita discriminação dentro do próprio meio transgênero, justamente em virtude da minha orientação heterossexual. Um dos fundamentos dessa nossa sociedade heteronormativa é a vinculação do sexo ao gênero e à orientação sexual. A regra é: "se você é homem, é obrigado a sentir desejo por mulher. Se você é um homem que quer ser mulher, tem que querer se relacionar com homens".  Evidentemente, esse não é o meu caso, como não é assim que as coisas funcionam na vida real: - há mulheres que gostam de mulheres e homens que gostam de homens.  Por que não haveria mulheres transgêneras que gostam de mulheres? 
- Você diz que os rótulos de identidade atrapalham a vida das pessoas. É possível pensar em um mundo sem eles?
O rótulo tende a se agarrar, a ficar colado para sempre na testa das pessoas, fazendo com que elas terminem sendo o próprio rótulo que as identifica, acabem se transformando no personagem que representam, como na peça de Pirandello, “Seis personagens à procura de um autor”. Quando se trata de gênero, então, essa é uma verdade incontestável. Em 1949, na sua obra “O segundo sexo”, Simone de Beauvoir [escritora, filósofa e feminista francesa] afirmou que "ninguém nasce mulher: - aprende a ser". Por extensão, ninguém nasce homem, também aprende a ser. Ela estava querendo dizer que  a pessoa nasce como um organismo biológico sexuado (macho ou fêmea) e que é mediante a um aprendizado intenso, permanente e contínuo que esse organismo adquire tanto um “corpo” quanto um “gênero”.
Quando o bebê nasce, o médico ou a parteira olham para o meio das suas pernas e, se ele tem pinto, imediatamente dão-lhe um rótulo que vai valer para a vida inteira: - "é homem". E esse não é um rótulo qualquer, que você pode remover facilmente ou a qualquer momento: - trata-se do seu próprio destino neste mundo, destino que já está construído muito antes de a gente chegar a esse mundo. O bebê “homem” vai ganhar um nome masculino, quartinho azul, brinquedo do Batman e uma trajetória de vida completamente pré-definida por rígidos códigos de conduta sociopolíticos e culturais.
- Você quer dizer que o rótulo de identidade funciona como uma espécie de freio para a inesgotável criatividade de nós, seres humanos?
Exatamente. Os rótulos limitam incrivelmente as possibilidades de uma pessoa ser e expressar-se nesse mundo, além de funcionarem como uma “camisa de força” dos nossos desejos.  Apesar de eu ter nascido macho, ou seja, com um pênis, eu não estava interessada em receber treinamento para ser homem. Mas, ao mesmo tempo, eu não poderia me candidatar a receber treinamento para me tornar mulher, já que eu não tinha nascido fêmea, ou seja, com uma vagina.  É grotesco pensar que a sociedade, baseada com num simples órgão genital, determina toda a trajetória de vida  de uma pessoa nesse planeta, definindo em detalhes o que você pode ou não fazer.Mas como a parte não define o todo, o pênis ou a vagina também não representam um destino inexorável. 
E nós, pessoas transgêneras, demonstramos através da nossa própria existência, que há muitas outras possibilidades para os seres humanos além do mixado binário masculino-feminino. Somos a prova viva de que é totalmente falsa a relação direta entre sexo biológico, gênero e orientação sexual. Que não se trata de uma relação natural, determinada pela natureza, mas de uma norma de conduta que nos foi arbitrariamente imposta pela sociedade heteronormativa. Nossas vidas transgêneras anunciam e denunciam permanentemente a existência de infinitas outras combinações possíveis entre esses elementos.  

- De alguma maneira homens ou mulheres cisgêneros também sofrem com questões de identidade de gênero?
Certamente que sim. Ninguém escapa de ser vítima das identidades de gênero. O “terrorismo de gênero” nos persegue o tempo todo, sejamos homens, mulheres, transexuais, travestis, crossdressers, drag-queens, andróginos e o escambau. Tanto pessoas transgêneras quanto cisgêneras são alvo do controle social exercido através dos rótulos de gênero.  Há uma permanente vigilância para que você não saia dos limites da identidade em que foi classificada ao nascer. Como essa vigilância é exercida da forma mais sutil e “natural” possível, a maioria não se dá conta de que está sendo vigiada e, consequentemente, aterrorizada, para que se mantenha dentro das normas sociais de conduta de gênero. 
Para um homem que vai urinar no mictório coletivo de um banheiro público, por exemplo, surge sempre a pergunta: "será que meu pinto é do tamanho adequado?". Isso é dramático desde os tempos da escola! E eu pergunto: para quê isso? O quê o tamanho do pinto acrescenta na construção do sujeito? É um controle social que não serve para nada a não ser para atormentar as pessoas e mantê-las “reféns” da identidade de gênero que receberam ao nascer.  Atributos de gênero são construções sociais, não são determinações biológicas. 
A natureza não tem nada a ver com essa história de que mulher tem que ser suave, tem que ser terna, tem que cuidar, tem que se produzir, se maquiar... Não se trata de determinação genética, mas de contingências históricas. Em outras palavras, ninguém é homem ou mulher porque a natureza fez assim, mas porque, desde que nasceram, foram – e continuam sendo ao longo de toda a vida – duramente “desaconselhados” e reprimidos a fim de que se comportem de acordo com os códigos de conduta de gênero que a sociedade criou respectivamente para o homem e para a mulher. Identidade de gênero é um atraso, os talentos humanos não estão veiculados aos rótulos...
- Certa vez, entrevistei uma cientista social que diz que as identidades são importantes para nos dizer o lugar que ocupamos no mundo pois, se não conseguimos colocar em palavras aquilo que somos, a nossa própria existência estaria colocada em cheque. O que você diz sobre isso?
Estaria mentindo se dissesse que as identidades não são importantes, mas estaria mentindo igualmente se dissesse que são.  Em princípio os rótulos têm a função de identificar pessoas e coisas e desse ponto de vista são extremamente úteis. “Um mal necessário”, como os chamou Judith Butler, uma das maiores críticas das identidades de gênero. Imagine você dentro de um supermercado onde os produtos não trazem nenhum rótulo ou procurando por um dentista num edifício onde não há placas de identificação nas portas das salas. Mas o rótulo que diferencia é também fonte para a criação de sérias desigualdades entre as pessoas.  Onde existem rótulos, sempre haverá a possibilidade de comparação, de criação de “hierarquias” e de sistemas de dominação. Portanto, a identidade “desnecessária” é a identidade que serve de motor para a criação e manutenção de desigualdades entre as pessoas. 
O fato de ser “mulher” não pode implicar de maneira nenhuma em salários mais baixos do que os que são pagos aos homens, assim como o fato de ser homem não pode servir de base para a prática do estupro, em nome de um suposto “desejo da natureza” pela procriação. Enfim, enquanto as identidades servem para informar qual é o nosso “lugar de fala” nesse mundo, elas são muito bem vindas. Enquanto as identidades são um campo confortável para a expressão de cada pessoa como ser humano neste mundo, elas são muito bem vindas. Eu adoro me apresentar socialmente como mulher; é a persona que mais diz a respeito da pessoa que eu sinto ser. O problema é quando as identidades se tornam base para a produção e manutenção de desigualdades, de hierarquias, de privilégios. Nesse caso elas são totalmente indesejáveis, totalmente mal vindas, inimigas dos direitos humanos que devem ser fortemente repelidas e combatidas.

- Sendo uma pessoa que critica duramente as identidades, como é que você equacionou a questão de identidade feminina e o exercício de papeis masculinos em sua própria vida?
Durante muito tempo em minha vida, considerei que ser mulher, ser marido, ser pai e ser avô eram coisas totalmente incompatíveis. De acordo valores de uma sociedade patriarcal-machista-heteronormativa-careta, para exercer minha identidade feminina eu teria que abrir mão do papel de marido, de pai e de avô. Esse era o núcleo central de todos os meus conflitos e do sofrimento existencial que vivi até me dar conta de que era possível, sim, conciliar todas essas manifestações, que eram afinal manifestações do meu único ser. Mas foi uma luta árdua eu conseguir fazer minha identidade feminina dialogar livremente, sem medo e sem culpa, com os papeis masculinos que livremente assumi ao longo da vida. A vantagem é que, sem presunção nenhuma, sempre procurei ser um ótimo marido, um ótimo pai e um ótimo avô . Adoro minha família e não sei nem se daria conta de continuar vivendo se, para viver a minha identidade feminina, eu tivesse que abrir dela.
- Como a família apresentou a sua figura para os seus netos, por exemplo? Eles te chamam de “vovó” ou de “vovô”?

Me chamam de vovô, claro! Eu não sou a vovó deles; eu sou o vovô! Outro dia mesmo, no supermercado, meu netinho de 3 anos pegou um kinder ovo e pediu: "compra para mim, vovô?". A moça do caixa corrigiu: "É vovó...". E ele insistiu: "Vovó nada, é meu avô, viu!". Para ela – como para a galera em geral e como foi para mim mesma, durante tanto tempo –  é uma contradição uma senhora ser avô.  Mas ela ouviu de uma criança que eu era o avô dela, um papel tradicionalmente masculino. Eu acho essa quebra de rótulos genial [risos]. Mas se você perguntar a ele: “seu avô é menino ou menina?” Ele responde no ato: “Menina!”. 
Como meus netos ainda não foram socializados eles entendem intuitivamente que identidade de gênero pode muito bem ser uma coisa e papeis sociais, outra, e que uma coisa não conflita com a outra. Fico pensando que a escola, em nome da “educação”, vai acabar deformando essa visão tão pura e objetiva que meu neto tem da realidade. Com certeza, um bando de gente preconceituosa e arrogante vai fazer de tudo para lhe empurrar normas de conduta de gênero “goela abaixo”, a fim de fazer dele um adulto bobo, travado e preconceituoso. Bobagens do tipo: "Você tem um pinto/ você é homem / só homens podem ser avôs, etc, etc" que só servem para promover o terrorismo de gênero a que já me referi.
- Embora não goste de rótulos, você certamente deve ter procurado algum grupo com o qual se identificou. Como foi essa trajetória de se sujeitar a um grupo e tornar-se sujeito?
Minha trajetória sempre foi muito solitária, única, e eu diria até muito especial. Nunca gostei de futebol, que é o que os meninos são estimulados a fazer em suas horas vagas e quando me vi impedida de dançar balé, que era uma coisa que me atraía muito e que ainda hoje é considerada uma atividade tipicamente feminina, restou-me estudar, ler, tentar compreender o mundo, as pessoas... A maior parte da minha vida eu tenho sido como os judeus foram, ao longo da história. Eles se tornaram filósofos e críticos porque eram marginalizados e excluídos da sociedade. Então, tinham oportunidade de examinar as coisas de fora, exercendo o seu juízo crítico com total independência e rigor. 
Eu nunca me vinculei a nenhum grupo específico. No início dos anos 2000, filiei-me a um grupo virtual que tinha sido recém criado aqui no Brasil e que foi a porta de saída do armário para a maioria das pessoas transgêneras de classe média/média alta. Mas eu acabei saindo do clube, pois não encontrei muito respaldo ali, nem para o meu perfil de pessoa transgênera, nem para as ideias que eu defendo a respeito de sexo, gênero e orientação sexual. Pra falar a verdade, sempre tive muita dificuldade em estabelecer amizades duradouras, principalmente com homens. Com pouquíssimas exceções, meu círculo de amizades sempre foi formado quase que inteiramente por mulheres.  
Ao mesmo tempo, em termos de aparência pessoal,  os outros sempre me viram como uma pessoa ambígua, meio andrógina e muito, muito, inconclusiva. Apesar de não ter sido uma criança efeminada, talvez pela excessiva repressão a que fui submetida desde cedo, nunca precisei fazer força para ter cara de menina, pois eu já nasci com cara de menina. Se eu tivesse que fazer força, era para parecer homem – e como fiz força pra isso, quase não tendo pelos e sem ter “pomo de adão”. Minhas namoradas gostavam de mim muito mais como amigo, pois eu não correspondia ao modelo de homem que elas queriam, apesar de eu ser heterossexual e amar tanto as mulheres ao ponto de querer ser uma. 
Quando o Bial perguntou ao meu filho [Rafael] "Como é ter um pai assim?", ele respondeu "Normal, ele sempre foi assim. Quando eu era criança, me perguntavam se o meu pai era viado". Com a cabeça boa que ele sempre teve, resolveu a questão super-bem, me compreendendo e aceitando como um viado que não tinha orientação homossexual, mas cujo comportamento era muito semelhante ao de pessoas que carregam o rótulo de homossexual. A resposta dele não foi ao ar, acho que por falta de tempo do programa. 

- Como foi revelar-se trans para sua mulher e sua família? Ela se espantou com as suas transformações?
Minha mulher e meus filhos são pessoas incríveis e eu não queria que nenhum deles sofresse por minha causa. Por isso foi um momento de muito desespero na minha vida. De um lado, eu não queria envolver ninguém da minha família numa questão que eu julgava ser só minha. De outro, eu não queria perder nem a relação com a minha mulher, nem a família que nós duas formamos com tanto amor e dedicação. Por isso, no início dos anos 2000, quando vi que me assumir trans tinha se tornado uma questão de vida ou morte, a primeira coisa que fiz foi sair de casa. Aí foi a vez da minha mulher desesperar-se. Ela me telefonava, implorando que eu lhe contasse o que estava acontecendo. Eu me silenciava, me recusando a dizer, com medo do que veria pela frente.
Até que decidi conversar com ela: 'Eu sempre quis ser mulher, gosto de me vestir como mulher e gosto de mulher e isso tudo sempre foi muito complicado em minha vida”. Ela virou pra mim com muita delicadeza: “Ah, mas é só isso?”. Mas é claro que naquela hora ela não percebeu, nem poderia ter percebido, toda a extensão do meu conflito e suas repercussões, na vida familiar, social, no trabalho, na relação com os nossos filhos, com o trabalho, com nossos amigos... Hoje eu sei que era muita tolice e muito egoísmo da minha parte eu imaginar que a minha questão de gênero poderia ser só minha: ela era uma questão familiar. E é como família que nós temos enfrentado e até hoje superado todos os entraves sociais que se colocaram diante de nós, dificultando a nossa em comum mas, ao mesmo tempo, fortalecendo cada vez mais os nossos laços, na medida em que nos convidam – nos obrigam - a lutar para permanecer juntas.
- Li em sua página que vocês quase se separaram... Foi por conta da sua mudança? Deve ser conflitante em um primeiro momento ser "hetero" e ter um marido "mulher"...
A gente chegou a se separar por uns dias no final do ano passado e... Foi terrível! O peso das pressões sociais e os compromissos de vida quase conseguiram nos afastar uma da outra. Foi barra! Mas a gente conseguiu continuar juntas e ainda mais fortalecidas. Eu sempre soube que jamais teria paz de espírito e conforto psíquico se não assumisse viver integralmente a minha condição de pessoa transgênera. Mas o maior de todos os meus temores era imaginar que isso me impossibilitaria de continuar representando o papel de marido. Esse era um bloqueio que me deixava louco, pois eu  não queria abrir mão de uma relação belíssima, riquíssima, com essa mulher com quem eu vivo há 37 anos e que me ensinou muito do que eu sou... [Respira e se emociona].
E aí está certamente a maior de todas as desconstruções que tive que promover em minha própria vida: assumir-me como mulher trans e continuar a ser o marido da minha mulher. Quando eu me assumi, a reação veio da sociedade: "Mas como vocês continuam juntos? E dormem na mesma cama?". "Não, não pode!". Foi uma luta enorme, um teste de sobrevivência do amor entre duas pessoas, até a gente descobrir que podia, sim, e que se danasse quem achava que não pode. Tivemos que crescer muito, como nunca tínhamos feito em toda a nossa vida em comum, até compreender que somos gente e que nos amamos como pessoas - não como “identidades de gênero” ou como construções socioculturais de marido e mulher. Somos gente, pessoas de carne e osso, que sentem, sofrem, riem e que desejam simplesmente continuar juntas nessa caminhada. Pouco nos importa o rótulo que a sociedade nos deu. Gostamos uma da outra, da mesma forma intensa que sempre gostamos e pouco nos importa se cada uma de nós for homem ou mulher.  
Mas hoje ela percebe que eu continuo sendo a mesma pessoa, que a Letícia é um “upgrade” do Geraldo.

- Você diz que luta por direitos e não por identidades de gênero. Por que então mudar o nome, as roupas, o cabelo, o discurso? Isso não é uma forma de reafirmação de gênero?
Porque eu tenho imaginação.  Já viu esses meninos que praticam RPG, cosplay e crossplay, que se vestem imitando personagens de filmes, de mangás...? É mais ou menos assim que vejo a coisa. Adoro ser uma personagem feminina! O desejo de viver como uma mulher surgiu quando me mostraram o que era ser feminina, me dizendo ao mesmo tempo que eu não poderia ser, exatamente por causa da identidade de gênero – homem – que me deram ao nascer e que também me disseram ser “imexível”, já que estava vinculada ao meu sexo biológico – macho. Acontece que eu podia sim! Bastava eu detonar com essa coisa de identidade e me tornar o personagem da minha preferência.É assim que hoje me tornei uma mulher muito legal para a minha idade, certo? 
Mas eu só fui me dar conta de que precisava detonar com a identidade de gênero, totalmente castradora da minha criatividade, quando tive um enfarto, cinco décadas depois de ter descoberto a minha predileção por personagens femininas. A questão é que não precisamos de gênero para nos identificar - e ser – uma personagem. E se nos faltar imaginação, é só pegar, por exemplo, uma peça qualquer de Shakespeare ou uma revista de mangás. Há milhões de personagens a espera de alguém que queira representa-las.  A personagem é inteiramente lúdica, totalmente prazerosa, intensa, viva e verdadeira. Ao contrário, a identidade de gênero – lembrando que só existem duas: masculino e feminino ou homem e mulher – é uma construção sociocultural morta, pronta e acabada, à qual cada pessoa deve se ajustar em função do seu órgão genital. 
Você vive uma personagem por escolha própria. Ao contrário, a identidade de gênero é algo que lhe é imposto; uma carga cultural da qual ninguém pode se omitir. A personagem é uma plataforma que nos permite criar e variar a representação o tanto quanto a gente queira; a identidade de gênero é uma lista de atributos e papeis que a sociedade nos impõe a fim de sermos reconhecidos nessa identidade. Enfim, enquanto a personagem liberta, a identidade prende e neurotiza cada vez mais.
- O que acha dos conceitos e das regras que definem o que é ser crossdresser, travesti, transexual...?
Uma grande tolice, se quer saber. São variações em torno do mesmíssimo tema. A matriz de todas essas identidades é absolutamente a mesma, ou seja, a discordância e o desvio da norma binária de gênero: masculino e feminino. A única diferença é a intensidade da discordância e a profundidade do desvio. Não é a toa que  muitas transexuais se consideram no topo da pirâmide transgênera  afirmando, com certa arrogância e desdém, que travestis são transexuais que ainda não tiveram a coragem de se operar e que crossdressers não passam de homens vestidos de mulher... 
Também é curioso o fato de que a maioria dos membros desses três grupos não se reconheçam como transgêneros, termo criado para abrigar todas as identidades gênero-divergentes. Aliás, internacionalmente, o “t” da sigla LGBT representa todas as categorias transgêneras, exceto no Brasil, onde muitas vezes a sigla é apresentada com três “tês”: LGBTTT, travestis, transexuais e Transgêneros... Só não pergunte o que são Transgêneros: dificilmente alguém vai lhe responder de maneira convincente... Como também não é nem um pouco convincente as definições do que é transexual, travesti ou crossdresser.
Na maioria dos casos, são verdadeiras ficções, construídas muito mais para dar sustentação a alguma ONG, a algum programa do governo ou a ambos... Eu já vi coisas escritas do seguinte teor: “transexual é uma mulher presa num corpo de homem (ou vice-versa, no caso dos transhomens)” ou “travestis não desejam passar por cirurgia de transgenitalização” ou “crossdressers são homens que se vestem de mulher como hobby de fim-de-semana”... Sem falar nos disparates que muitas ONGs e Grupos de Apoio são capazes de listar como “atributos” próprios da identidade de gênero que representam e que devem ser atendidos pelos seus associados a fim de que sejam reconhecidos como detentores de tal identidade. Como afirmou Judith Butler na sua obra “Problema de Gênero”, as entidades representativas de categorias de gênero acabam produzindo as identidades que se propõem representar...
Quando Diana Maria criou o BCC na Internet, no final dos anos noventa, foi a tábua de salvação da população transgênera de classe média/alta no Brasil, até então sem nenhum canal de expressão ou comunicação pública. Mas ela se baseou no modelo norte-americano do Tri-Ess, copiando de lá as mesmas regras e idiossincrasias - somos héteros, nos vestimos de mulher por puro prazer... Ela sabia que tudo isso era história da carochinha, mas até hoje prevalece esse discurso inocente, inconsequente e totalmente alienado. Atualmente,  de 10 crossdressers históricos (eu inclusive...), 11 estão vivendo como mulher em tempo integral mais da metade passou por cirurgia de reaparelhamento genital... 
- Existe também o peso do que cada palavra significa? 
Dificilmente iremos entender a falsidade e a falência conceitual das categorias transgêneras no Brasil sem fazermos uma leitura incluindo a varável classe sócio-econômica. Em outras palavras, as grandes diferenças entre as categorias transgêneras no Brasil sofrem um importante viés de natureza sócio-econômica, como de resto tudo o mais no nosso país. Travesti é sinônimo, sim, de prostituição, de rua, de pobreza, Madame Satã... Transexual carrega o fortíssimo perfil de patologia a ser urgentemente tratada. E crossdresser é homem de classe média/alta cujos vínculos e compromissos familiares, profissionais, políticos e econômicos não recomendam uma exposição pública aberta, considerando a natureza patriarcal machista da nação brasileira.
Por isso, muitas "travestis", quando melhoram um pouco de vida, começam a se identificar como "transexuais". A Roberta Close foi assim: se apresentava como travesti, fazia programa, foi assim que ficou conhecida. Depois que ficou famosa passou a apresentar-se como transexual, assumindo a patologia. Toda diferenciação produz desigualdade. Como pessoas transgêneras, em vez de pensarmos em defender rótulos de identidade, precisamos pensar em obter a nossa plena inserção na sociedade, em resgatar os nossos direitos de cidadania.
- Mas existem diferentes maneiras de se enxergar, não? Tem transexual que se considera "mulher de verdade", tem travesti que se diz "dois em um", tem até quem queira apagar inteiramente o seu passado depois da cirurgia de redesignação sexual...
A respeitadíssima APA (American Psychological Association) define identidade de gênero como sendo o senso interno da pessoa quanto ao seu pertencimento ao gênero masculino ou ao gênero feminino. Trata-se, assim, de um conceito altamente subjetivo: apenas a própria pessoa pode dizer se pertence ou não a esse ou àquele gênero. O problema é que, na contramão dessa definição, a sociedade se reserva o direito de definir o gênero de cada pessoa a partir da genitália exibida pelo bebê ao nascer. E esse é apenas um dos muitos problemas que cercam a questão da identidade de gênero. Há, por exemplo, o caso de pessoas que se atribuem um determinado gênero em estado de delírio e, portanto, não podem ser levadas a sério. Certas psicoses também produzem falsas identidades de gênero, assim como personalidades cindidas.  
Acho, por exemplo, muito psicótico o discurso: 'sou uma mulher presa em um corpo de homem'.  Primeiro, a pessoa não nasce mulher, torna-se mulher, como já disse antes. Ser mulher é muito mais uma questão sociopolítico-cultural do que uma determinação biológica. Segundo, ser fêmea biologicamente falando é menstruar, é poder gerar filhos... Todos sabem que a trajetória de uma pessoa não pode ser apagada com uma cirurgia de reaparelhamento genital. Como psicanalista, digo que a história de vida de uma pessoa é a base de construção do sujeito e negar a própria história é um claro sinal de psicose. Rejeitar o passado ou é doença mental da pesada ou então é mau-caratismo. Prefiro acreditar que é doença...  
O território do seu corpo é seu por definição e você pode brincar com ele como quiser. Se acha que mudar o nome dos documentos vai te deixar feliz, mude. Se quer fazer a cirurgia, faça... Mas não é legal negar a própria história. Afinal, por que não assumir a identidade transgênera? Será que a identidade trans serve apenas como ponte para mudar o corpo de modo a tornar-se uma pessoa perfeitamente enquadrada em um dos dois gêneros oficiais? Ou bem a pessoa é transgênera ou está mais para uma “cisgênera enrustida”, como escrevi recentemente em um dos editoriais do meu site leticialanz.org. Será que as pessoas não vêm que, ao tentar desesperadamente tornar-se indivíduos do outro sexo, estão apenas confirmando e contribuindo para aumentar ainda mais a força do sistema de gêneros que é, paradoxalmente, a fonte de todos os seus tormentos? 
Eu quero ser mulher, sim, mas fora de um sistema de gêneros que é basicamente misógino, que acua e violenta as mulheres, que é patriarcal-machista e heteronormativo. Mas, infelizmente, muitas pessoas transgêneras afirmam que seu desejo é “lavar a cueca” dos seus bofes... Num claro retrocesso à igualdade de direitos da mulher na sociedade, conquistada a tão duras penas e que ainda nem está consolidada. Esta é uma atitude totalmente machista e cisgênera. Não tem nada de transgênera e muito menos de libertária. 

- O que você está querendo dizer é "Parem com esse discurso de vitimização”?
Uma das maiores pragas no meio transgênero é o discurso de vitimização, que eu apelidei de “coitadismo de mim”. Não é fácil ser uma pessoa diferente em uma sociedade onde todo mundo tem obsessão por ser igual. Mas transformar as nossas dificuldades de aceitação pela sociedade em um processo de auto-piedade neurótica é uma péssima estratégia de inserção social. O discurso de que eu sou excluída, preterida, marginalizada, de que me faltam oportunidades de trabalho, de realização profissional e até de realização afetiva só reforça o modelo binário de gênero que foi imposto e com o qual eu tenho profundas divergências. Na verdade, muita gente se regozija ao ouvir o rosário de penas de uma pessoa trans: “É merecido passar por isso; foi você que procurou com suas próprias mãos! Pare com isso e você não será mais molestada”. 
Para a nossa sociedade heteronormativa-cisgênera, "se você foi molestada, você é quem provocou".   A vítima é transformada no seu próprio algoz; descaradamente responsabilizada pela violência que sofreu.  Penso que é necessário mostrar à sociedade que existe uma outra face das pessoas transgêneras. Que somos capazes de viver uma vida produtiva, que somos capazes de realizações, que somos pessoas inteligentes e competentes.  Porque pessoas transgêneras que deram certo não são mais massageadas pelo próprio meio trans? Porque elas recebem menos cobertura do que os terríveis assassinatos que acontecem todos os dias no nosso meio e que, naturalmente, precisam ser divulgados e denunciados? Mas, da mesma forma, precisamos botar a boca no trombone e mostrar que nós podemos ser “incensadas”, em vez de ser “assassinadas”. 
Muitas vezes o preconceito está no nosso próprio olho. Quase sempre a dificuldade que enfrentamos no mundo exterior tem raízes dentro da gente e este é um ponto que precisamos e devemos trabalhar. Até onde a repulsa vem da comunidade e não de nós mesmas? Até que ponto a gente não arma a cena do crime e vive esperando o momento em que também seremos vítimas de rejeição, de exclusão e de maus-tratos? 
- Mas você não acha que é fácil dizer isso sendo uma pessoa que já tem uma base financeira estável, uma família que te apoia, uma profissão autônoma e, de certa maneira, vive uma vida totalmente independente da sociedade, muito diferente de uma pessoa trans que tem 14 anos, que não tem emprego, que foi expulsa de casa, que sofre bullying na escola, que precisa se prostituir para sobreviver...?
Você está inteiramente certo. Mas também está inteiramente errado. Onde você está certo: a guria de 14 anos precisa imensamente de ser acolhida e protegida pois, evidentemente, está vivendo numa situação-limite, de risco permanente. Casos como o dela precisam ser  levantados e exaustivamente divulgados. Onde você está errado:  pessoas transgêneras bem sucedidas como eu, ou até muito mais do que eu, costumam desfiar rosários e rosários de tormentos e aflições, em vez de expor publicamente os seus êxitos pessoais, mostrando que pessoas trans podem dar certo como qualquer pessoa cisgênera bem sucedida. 
Será que essas pessoas transgêneras bem-sucedidas não compreendem que, ao vender uma imagem de sofredoras e perdedoras, em vez de lutadoras e vencedoras, acabam contribuindo para piorar ainda mais a vida da pobre guria trans de 14 anos? Afinal de contas, pra que a sociedade deve proteger e dar apoio a uma menina trans de periferia se até uma trans de classe média/alta diz que tudo pra ela deu errado na vida? Numa sociedade como a nossa, que só valoriza quem tem dinheiro e faz sucesso, e que despreza a choradeira dos perdedores, é uma péssima estratégia tentar afirmar a identidade trans a partir do que ela tem de pior, de mais sofrido, de mais sombrio, de mais doentio.
Pode ser, também, que essa necessidade mórbida das pessoas trans reforçarem suas tristezas, fracassos e perdas nos seus discursos, em vez de falarem das suas vitórias, alegrias e êxitos,  resulte da culpa que sentem em sentir prazer. Um prazer em geral que está muito além e muito acima das possibilidades de sentir prazer a que a média das pessoas têm acesso.    
Realizar-se como uma pessoa trans produz um grau de prazer muito grande. As travestis, por sua vez, são capazes de alcançar elevadíssimos graus de prazer sexual. Então o discurso de coitadinho pode ser muito bem uma forma de se penitenciar pela culpa, porque vivemos numa sociedade onde somos educadas a nos sentir envergonhadas e culpadas todas as vezes que sentimos prazer. É a nossa criação cristã, que desqualifica, desvaloriza e até pune as manifestações de prazer, particularmente de prazer sexual. Mas o prazer é que tem que ser valorizado! Nunca o sofrimento, a vergonha e dor.

Respeito à identidade de gênero e o uso de artigo feminino para uma travesti e transexual são importantes?
“É muito importante!”, responderia a maioria das pessoas trans, numa cantilena ensaiada, muito comum no nosso meio trans. Já vi transgênero sair para as vias de fato porque não usaram corretamente o artigo ao dirigir-se a ela. Provavelmente disseram “o” travesti  ou “o” transexual e isso, para muitas, representa uma agressão da pior espécie.  Eu sinceramente acho uma perda de tempo brigar pelo uso correto do artigo ou pronome. Acho que é gastar a pouca munição que temos num alvo totalmente equivocado. Reforçar o emprego “correto” do artigo e do pronome para nominar identidades trans implica num indesejável reforço do modelo binário de gênero. 
Ao contrário, o uso incorreto do artigo e do pronome obriga a sociedade a pensar fora da caixinha do gênero. Como eu já disse, em vez de ser chamada de vovó, por ser uma mulher, eu quero mais é que meu neto me chame de vovô, a fim de marcar ainda mais uma suposta contradição entre a minha identidade de gênero – feminina – e o papel de gênero – masculino – que estou vivendo em perfeita harmonia. Isso sim, contribui para desconstruir gênero, para detonar com a ditadura do binário de gênero masculino-feminino.  
Classicamente, as travestis se posicionam fora binário oficial, afirmando que não são “nem homem, nem mulher, mas travesti”. Já as transexuais têm em geral um discurso de reconhecimento e aprovação do binário de gêneros, ao afirmar que são “verdadeiramente mulheres”. Eu pouco me importo com o jeito que alguém vai me chamar ou em que categoria de gênero vai me posicionar. O importante é estar sendo a pessoa que eu sou; isso é a única coisa que para mim realmente conta. Quanto ao modo como a pessoa me chama, digo sempre que eu me chamo de eu e que os outros podem me chamar como acharem melhor. Pra mim, você pode me chamar de Geraldo no seu texto, pode dizer que eu sou marido de uma mulher como pode me chamar de Letícia, uma verdadeira diva...[risos] Na verdade, Letícia é o nome que eu mais gosto, mas me chamar de Geraldo não vai me fazer menos mulher, menos diva, menos poderosa do que sou. Como me chamar de Letícia não faz de mim uma super-fêmea, porque isso eu já sou [risos]. 
- Você não acha que as pessoas que não respeitam a identidade de gênero estão querendo dizer que aquela trans, na verdade, é um homem?
Se alguém eventualmente me tratar no masculino de forma desrespeitosa ou pejorativa, eu vou mandar ele pra puta que o pariu [risos]. Agora, não é porque alguém me chamou de cachorra que eu vou sair por aí latindo [risos]... Poxa! Só vamos nos sentir mulher se formos tratadas pelo artigo feminino? Se for usado o artigo masculino, vamos nos sentir mal, vamos sapatear, vamos surtar? Eu quero mais é que as pessoas me vejam fora da lógica binária dos gêneros, como alguém que transgrediu as normas de gênero com muita satisfação e prazer. Eu não quero pactuar de maneira nenhuma com esse sistema binário de gêneros, machista, patriarcal, sacana e violento. Não dá para ter controle do que as pessoas pensam de nós; o que você pensa de mim não é da minha conta. 
E se alguém me chamasse de homem vestido de mulher (como alguém já chamou, em off, aqui mesmo, dentro do próprio gueto...), eu diria simplesmente: "Tá vendo? Mesmo sendo homem consigo ser esse show de mulher que você está vendo [risos]". Isso sim, é motivo de glória.
Quando alguém diz que você parece mulher cisgênero, como fica a sua vaidade?
Não vou dizer que não gosto desse elogio. Ele é muito melhor de se ouvir do que um xingamento. Mas pra mim é indiferente. Não vou me modificar em nada em função desse feedback. Estou consciente de quem eu sou e de como eu sou, como conheço muito bem as minhas possibilidades e limitações. Acima de tudo, eu tenho autocrítica. Mas olha, chegar a essa posição levou muuuito tempo [risos].
- Acredita que os gays têm medo das trans?
Não são todos, é claro. Tenho excelentes interlocutores e defensores da causa transgênera entre os gays. Mas há uma parcela grande e muito representativa de gays que não compreendem, não aceitam e repudiam qualquer tipo de expressão transgênera. Essa expressiva parcela de pessoas traduzem a nítida tendência de se buscar, cada vez mais, uma ampla “sanitização” do movimento gay, de modo a livra-lo da praga das “bichas-loucas”, pobres, feias e indiscretas. Nesse processo de “limpeza étnica-socio-polítca-cultural”  as pessoas transgêneras tornam-se, naturalmente , o alvo preferencial da crítica e da exclusão. A coisa é tão séria que muitos gays hoje em dia que, longe de representarem “ameaça às famílias”, deveriam ser aplaudidos de pé pelos fundamentalistas de plantão, como valorosos defensores da moral e dos bons costumes...
De um modo geral, há muita desinformação entre as pessoas G-L-B sobre o que é a condição transgênera. A maioria expressa a mesma opinião da massa mal-informada de que transgênero não passa de viado metido a besta, gente aparecida e “espetaculosa” que compromete a inclusão definitiva dos gays na sociedade heteronormativa.  E o pior é que não vou negar que no próprio meio transgênero também haja uma pá de gente que se veja dessa forma. Mas identidade transgênera é algo inteiramente distinto de orientação homossexual. 
Dados epidemiológicos da Organização Mundial de Saúde, por exemplo, dão conta que a incidência de orientação homossexual na população transgênera tem as mesmas proporções que na população em geral (cisgênera). Ou seja, ser transgênero não implica necessária e automaticamente em possuir orientação homossexual, como é a crença generalizada. A letra “T” está sobrando na sigla LGBT, mesmo porque somente uma parcela dos Transgêneros estaria sendo representada nas demandas L e G.  Aliás, no Brasil, graças à política de captação e esvaziamento dos movimentos sociais, promovida pelo Governo Federal, o movimento LGBT tem sido praticamente um balcão de demandas G - no máximo G-L, inteiramente subordinado e submisso .
Não acho, portanto, que seja só medo: há raiva, há desdém, há menos-valia, há desinteresse, há rejeição, há muita violência simbólica. Ainda mais nesse momento em que assistimos um triste reaquecimento de conservadorismos altamente refratários e reacionários às conquistas dos direitos humanos. Tenho um irmão homossexual que não me aceita, que não gosta de mim e é um dos meus críticos mais mordazes. Entretanto, ele é também uma das pessoas mais enquadradas que conheço. Ele se veste como um macho alfa, comporta-se como tal e, graças à doutrinação da igreja católica, com quem ele mantém fortes vínculos, mantém um discurso de homossexual culpado pela sua própria condição homossexual. Debaixo do sólido rótulo de homossexual conservador, que ele escolheu como forma de abrigo e defesa, eu sei que é muito difícil para ele entender e aceitar a minha liberdade de expressão. Escrevi um livro que será lançado brevemente, assim que aparecer uma editora interessada: “Quem tem medo de Letícia Lanz”, em que faço esse tipo de constatação e denúncia.
Conta um pouco como é o seu dia a dia...
Leio, reflito, escrevo, exponho, polemizo, debato, refuto, revejo, me posiciono politicamente. Essa sempre foi a função de uma intelectual na sociedade.  Mas também sonho, compartilho e me relaciono com todo tipo de pessoas. Adoro conversar, contar casos, conhecer histórias. Acho que também por isso eu me tornei psicanalista: a psicanálise é uma produtora de sentidos, a partir de narrativas de vida, colchas de retalhos pacientemente tecidas a quatro mãos... E sou muito família. Assumo meu papel de marido, pai e avô como se fosse um ritual dedicado ao Universo. E assumo não apenas os filhos que ajudei a parir, mas um monte deles que fui adotando ao longo da vida. Por último, adoro me produzir. Gosto de me sentir bonita, por dentro e por fora, quando me olho no espelho. E sou uma perua assumidérrima. Minha referência é a Hebe Camargo [risos]. Agradeço à Deusa Mãe, todos os dias, por estar viva e atuante, engajada nas lutas do meu tempo e feliz de ser sem medo.  
Diante de toda a nossa conversa e das questões levantadas, qual é o seu maior sonho?

Meu sonho é mudar o mundo. Li em algum lugar que só pessoas muito loucas acham que conseguirão mudar o mundo – e que são elas que realmente conseguem. Sou suficientemente louca para estar nesse empreendimento [risos].  Quando comecei a usar a palavra 'transgênero', há cerca de dez anos, quase fui defenestrada dos meio trans! Ainda hoje sou repudiada por isso.
Mas agora, que a palavra está sendo mais aceita como um termo guarda-chuva, eu já parti para o discurso queer. São lutas muito importantes, de resgaste de direitos, de respeito à construção de si próprio a partir do que cada pessoa pensa e quer de si mesma. De defesa incondicional de toda e qualquer expressão de gênero, de combate ostensivo aos rótulos de identidade, tacanhos, restritivos, castradores, que só servem para produzir desigualdade e violência. De respeito incondicional ao território do corpo, que pode e deve ser explorado e desfrutado de acordo com o livre desejo de expressão de cada individuo, sem nenhuma regulamentação por parte do Estado ou de religiões. 
Meu sonho, enfim, é ver sociedade livre de injustiças e de preconceitos, baseada na lógica elementar da verdade e na lógica, totalmente sem lógica, do amor.