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domingo, 9 de fevereiro de 2014

"O direito à liberdade de expressão não inclui o direito à liberdade de fazer com ela o que quer que seja" - por Jânio de Freitas

Colunista afirma que a apresentadora Rachel Sherazade passou dos limites ao fazer apologia à violência e propor violações aos direitos humanos, no caso do jovem que foi acorrentado no Rio de Janeiro;  "O direito à liberdade de expressão não inclui o direito à liberdade de fazer com ela o que quer que seja. Se não fosse assim, a liberdade de expressão incluiria até a de pregar a extinção do regime que a mantém"

A liberdade de expressão não é absoluta e não pode ser usada para justificar crimes, como apologia à violência e violações de direitos humanos. É o que diz o jornalista Janio de Freitas, sobre comentário feito pela apresentadora Rachel Sherazade, do SBT, sobre um jovem que foi acorrentado e agredido por justiceiros no Rio de Janeiro.

Uso sem moderação
O direito à liberdade de expressão não inclui o direito à liberdade de fazer com ela o que quer que seja
O repúdio do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio ao que considerou apoio de Rachel Sheherazade, do jornal "SBT Brasil", aos que agrediram e acorrentaram nu a um poste um adolescente, por eles acusado de roubos, expressa bem a confusão de conceitos e de condutas que se dissemina, e degrada, quase sem resistência.

A apresentadora e seu parceiro, Joseval Peixoto, invocaram, como base institucional do seu argumento, a "absoluta liberdade de expressão". "E nós não abrimos mão desse direito", o que motiva os votos de que continuem ou passem a defendê-lo. Mas o que foi posto em questão não é aquela liberdade nem o respectivo direito.

A liberdade de expressão foi plenamente exercida pela apresentadora em seu comentário à agressão e ao acorrentamento do adolescente. No caso e em infinitos outros, o problema está no modo como essa custosa liberdade é usada. O direito à liberdade de expressão não inclui o direito à liberdade de fazer com ela o que quer que seja. Se não fosse assim, a liberdade de expressão incluiria até a de pregar a extinção do regime que a mantém. E, para não haver sequer vapor de dúvida a respeito, a Constituição adotou como cláusula pétrea, ou seja, irremovível e imutável, a absoluta proibição de qualquer ato contrário ao pleno Estado de Direito.

A nota do sindicato apontou, no comentário de Sheherazade, violação dos direitos humanos, do Estatuto da Criança e do Adolescente e apologia à violência. Tréplica da apresentadora: "O que eu defendi foi o direito da população de se defender quando o Estado é omisso, quando a polícia não chega. Isso está na lei". Não há nenhuma lei que conceda à sociedade, nem mesmo à polícia e a juiz fora de função, o direito de fazer pretensa justiça por conta própria. O que, é óbvio, se dá quando uma pessoa é surrada, posta nua e acorrentada a um poste na rua.

Fonte: http://www.geledes.org.br/em-debate/colunistas/23199-o-direito-a-liberdade-de-expressao-nao-inclui-o-direito-a-liberdade-de-fazer-com-ela-o-que-quer-que-seja-por-janio-de-freitas

"A religião na política fere o estado laico e não nos representa"


Religião na política acaba por estimular não apenas o preconceito (pela dificuldade de aceitar diferenças), como o ódio decorrente de sua demonstração pública – do que o crescimento da violência homofóbica é claro indício

Por Marcelo Semer, em seu blog
No afã de defender Marco Feliciano das críticas recebidas por amplos setores da sociedade, o blogueiro de Veja, Reinaldo Azevedo, disse que era puro preconceito o fato de ele ser constantemente chamado de pastor.

Infelizmente não é.

Pastor Marco Feliciano é o nome regimental do deputado, como está inscrito na Câmara e com o qual disputou as últimas eleições.

Há vários casos de candidatos que acrescentam a sua profissão como forma de maior identificação com o eleitorado, como o Professor Luizinho ou ainda a Juíza Denise Frossard.

Marco Feliciano não está na mesma situação –sua evocação é um claro chamado para o ingresso da religião na política, que arrepia a quem quer que ainda guarde a esperança de manter intacta a noção de estado laico.

A religião pode até ser um veículo para a celebração do bem comum, mas seu espaço é nitidamente diverso.

Na democracia, o bem comum é uma construção coletiva e, por natureza, includente. Quanto mais pessoas fazem parte da decisão, mais ela se legitima.

A religião é, por si só, excludente, e seus dogmas sobre o bem e o mal não estão sob escrutínio popular.
Suas ‘verdades absolutas’ não fazem parte do ambiente de negociação, próprio da atividade política. Esta busca, ainda, se amoldar à vontade social e não apenas forjá-la, como regras rígidas de um credo.

A definição da moral e a punição a quem dela se desvia, que pode ser até inerente ao religioso, quando consagrado à virtude, não tem espaço na vida republicana. Regrar os demais por uma concepção própria de vida não passa de um abuso de direito.

A religião na política acaba por estimular não apenas o preconceito (pela dificuldade de aceitar diferenças), como o ódio decorrente de sua demonstração pública – do que o crescimento da violência homofóbica é claro indício.
Se as leis de um Estado devem valer ao conjunto de seus cidadãos, as religiosas só alcançam aqueles que se entregam a fé. A catequese imposta, mesmo que por vias indiretas, como a de impingir a todos a crença de apenas alguns, é própria de estados teológicos.

Alimentado, todavia, por interesses partidários, dos mais variados matizes e ideologias, lobbies religiosos estão ganhando trânsito no governo e também na oposição, seduzidos uns e outros pelo volume de potenciais eleitores e pela enorme penetração nos meios de comunicação de massa.


O futuro nos espera, assim, em uma esquina sombria.

O caso Feliciano pode ser maior do que a questão religiosa, mas resumi-lo ao folclore de suas desastradas declarações, desprezando os riscos desta vinculação, seria uma tremenda imprudência.

É certo que o episódio vem desgastando os partidos, que relegaram a comissão de direitos humanos a um terceiro escalão.

Mas, ao mesmo tempo, também revelou uma sociedade mais madura, tolerante e engajada. Que reagiu às vezes com ira, às vezes com graça, mas quase uníssona em um daqueles momentos de defesa da liberdade que costumam deixar marcas.

No cálculo eleitoral, no entanto, analistas já preveem que o deputado deve ter mais votos no próximo pleito, e que todo esse desgaste, enfim, terá valido a pena para ele.

Pode ser até o mesmo cálculo que outros tantos famosos, como personagens do escândalo, colunistas do insulto ou humoristas da ofensa, costumam fazer quando investem pesado em uma grande polêmica.
Afinal de contas, já faz tempo que aquela regra cínica da política “falem mal, mas falem de mim”, foi transformada na máxima das celebridades em busca de atenção: “falo mal para que falem de mim”.

Fonte: http://www.pragmatismopolitico.com.br/2013/04/religiao-politica-estado-laico.html



sexta-feira, 21 de junho de 2013

"Será a volta do monstro", diz Gilberto Gil sobre protestos

 
 
O cantor baiano Gilberto Gil opinou nesta quarta-feira acerca das manifestações que tem ocorrido no país. No comentário, Gil revelou um misto de preocupação e ânimo.


“Tenho visto, acompanhado, com muita aflição, às vezes, muito susto. Será a volta do monstro daquela época?” — questionou o compositor, referindo-se à violência da repressão policial e à ditadura militar, que o levou ao exílio, em Londres, de 1969 a 1972.

“Na última segunda-feira, eu me senti fragilizado de novo, temeroso de novo. Parecia o dia em que eu fui para a Passeata dos Cem Mil, na Avenida Rio Branco, no dia do meu aniversário, aquele 26 de junho. Fui tomado pelo mesmo temor daquela época, agora em minha casa, acompanhando a TV e as redes sociais, já inserido neste hipertexto, neste hipercontexto”.

“ Mas, num segundo momento, eu me sinto aliviado por ver esta insurgência popular. Me dá indicação de que a transformação, o “Tempo rei” continua rei. Tudo transformando, transcorrendo, as coisas mudando, novas interrogações, novas questões, novas dificuldades analíticas. Eu estava vendo os protestos na TV ontem (terça-feira) e pensando: o que é isso? Essa manifestação junta a rave com o arrastão. São as duas coisas ao mesmo tempo. É a rave-arrastão. Pronto, é um verso, um condensado poético. As novas palavras de ordem juntam ao mesmo tempo a oração e a praga”, complementou.

Gil comentou ainda sobre a necessidade de artistas se manifestarem publicamente.

“No meu caso pessoal, não precisa. Eu fiz isso a vida toda, todo mundo sabe. “É preciso estar atento e forte, não temos tempo de temer a morte!” (cantarolou a música “Divino, Maravilhoso”). O encorajamento esta aí, podem usar! É só entrar no meu site, procurar, a música está aí!”, finalizou.



*Com informações de O Globo
Fonte:
http://correionago.ning.com/profiles/blogs/sera-a-volta-do-monstro-diz-gilberto-gil-sobre-protestos?xg_source=facebookshare

quarta-feira, 22 de maio de 2013

A hora é essa: assine a petição e ajude o projeto de lei que reconhece o casamento igualitário a avançar no Congresso Nacional.

 

O PSC, partido do deputado Marco Feliciano, acaba de entrar com uma ação no Supremo Tribunal Federal para suspender a resolução do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que autoriza o casamento civil para casais do mesmo sexo.

Enquanto o casamento pra todos e todas não estiver na lei, o PSC e outros opositores da igualdade continuarão insistindo em derrubá-lo - mas nós podemos encerrar essa história.


A hora é essa: assine a petição e ajude o projeto de lei que reconhece o casamento igualitário a avançar no
Congresso Nacional.

domingo, 19 de maio de 2013

Amelinha Teles sobre Ustra



Maria Amélia Almeida Teles foi presa com o marido César no DOI-CODI, em São Paulo, nos anos 70. Os filhos de 5 e 4 anos de idade foram levados para ver os pais sob tortura. A família Teles foi a primeira a mover uma ação de responsabilidade civil bem sucedida contra o homem que comandou o centro de tortura durante 4 anos, o então major Carlos Alberto Brilhante Ustra. Amelinha, como é conhecida, hoje integra a Comissão da Verdade do Estado de São Paulo “Rubens Paiva”, que investiga os crimes da ditadura militar.

Na entrevista acima, Amelinha se refere a Danielli, Carlos Nicolau Danielli, morto sob tortura no DOI-CODI; e à sede da 36a. delegacia, que fica na rua Tutoia, em São Paulo, sede do mais conhecido centro de tortura do Brasil.


Fonte: 
Assistam o video em:

“Raça” estreia no Brasil em circuito nacional



“Raça” estreia no Brasil em circuito nacional

O documentário longa-metragem “Raça”, do cineasta brasileiro Joel Zito Araújoe da documentarista norte-americanaMegan Mylan, ganhadora de Oscar®, chega às telas brasileiras em maio. Além da pré-estreia paulista agendada para o próximo dia 13, para convidados, o filme estreiaem circuito nacional no dia 17 de maio – em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.


Numa parceria inédita, os diretores da película doarão a renda obtida pela bilheteria do filme ao Fundo Baobá, entidade voltada à promoção da equidade racial da população negra brasileira e ao apoio a projetos nessa área. “Juntos trabalharemos para que o filme promova uma reflexão nacional sobre a desigualdade racial e a identidade racial do país” – afirma Joel Zito Araújo.

O filme é resultado da amizade entre Joel Zito Araújo e Megan Mylan iniciada na década de 1990. Mas foi em 2004 que surgiu a ideia de dirigirem um filme juntos. Assim surgiu a coprodução “Raça”, entre Brasil e Estados Unidos, filmada de 2005 e 2011.
A obra capta o debate sobre a busca da superação da desigualdade racial no Brasil com cenas inéditas dos bastidores do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal no início deste século. Para registrar esse momento histórico em que o debate racial se tornou constante na mídia e no discurso público, os diretores acompanharam de perto três personalidades negras que estavam – cada uma a sua maneira – na linha de frente dessa batalha pela igualdade.Entre elas, está o senador Paulo Paim  – com seu esforço para sancionar a lei do “Estatuto da Igualdade Racial” no Congresso Nacional, em Brasília. Paim é autor do projeto original que demorou quase uma década para ser aprovado.
O documentário também apresenta a luta de Miúda dos Santos – neta de africanos escravizados e ativista quilombola – pela posse das terras e pelo respeito às suas tradições ancestrais da Comunidade Quilombola de Linharinho, no Espírito Santo. Junto com os moradores da região, Miúda briga contra um gigante do ramo da celulose, a empresa Aracruz.
“Raça” mostra ainda os bastidores da trajetória do cantor, apresentador e empresário Netinho de Paula durante todo o processo de criação e tentativa de consolidar seu canal TV da Gente. Fundado em 2005, no interior de São Paulo, o canal formado majoritariamente por profissionais negros foi idealizado pelo artista.
O filme teve sua primeira exibição como Hors Concours na Mostra Première Brasil,durante o Festival de Cinema do Rio de Janeiro, em outubro de 2012.
*Trailer:http://www.RacaFilme.com/trailer.html
Sobre os diretores
Megan Mylan– Documentarista norte-americana baseada em Nova York (EUA), Megan já recebeu prêmios como o Academy Award, Independent Spirit e o Guggenheim. Produziu e dirigiu o filme “Smile Pinki” ganhador do Oscar de 2008.  Seu filme premiado “Lost Boys of Sudan” foi exibido em cinemas em 70 cidades americanas e selecionado com o melhor da crítica do New York Times. Seus filmes têm sido exibidos mundialmente na televisão, incluindo nos canais HBO, PBS, BBC, Arte, NHK e HBO Latin America. A cineasta é inovadora pelo impacto social dos seus filmes.  Seus documentários têm girado milhões de dólares e mobilizado milhares de voluntários para causas sociais. Antes de trabalhar com cinema, Megan trabalhou no Brasil e nos Estados Unidos com a Ashoka, uma organização filantrópica internacional. Graduada pela Universidade Georgetown, Megan obteve o título de mestre em Jornalismo e Estudos Latino-Americanos pela Universidade da Califórnia em Berkeley (EUA), onde também foi professora-visitante na faculdade de pós graduação em jornalismo.
Joel Zito Araújo– Premiado cineasta brasileiro, há vinte anos produz documentários e filmes de ficção sobre temas sociais relevantes para o país, especialmente aqueles ligados à população afro-brasileira. Seu primeiro longa-metragem “A Negação do Brasil”, sobre a história do negro nas telenovelas brasileiras, ganhou o prêmio de melhor documentário no festival É Tudo Verdade, além de ter sido também premiado no Festival de Recife em 2001. O longa-metragem de ficção “Filhas do Vento” reuniu o maior elenco negro da história do cinema brasileiro e ganhou oito kikitos no Festival de Gramado, além de ter sido o filme vencedor do Festival de Tiradentes, em 2006. O longa-metragem de documentário “Cinderelas, Lobos e um Príncipe Encantado”, sobre o turismo sexual no país, foi exibido no Brasil e no exterior. Joel, que tem dois livros publicados, escreve extensamente sobre a mídia e a questão racial no país. Joel é PhD em Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP) e foi professor-visitante na Universidade do Texas, em Austin (EUA), onde fez seu pós-doutorado.
Sobre o Baobá
Criado em 2011 e com sede em Recife (PE), o Fundo Baobá para Equidade Racial é uma organização sem fins lucrativos e tem como objetivo mobilizar pessoas e recursos no Brasil e no exterior para apoiar projetos pró-equidade racial de organizações da sociedade civil (OSCs) afro-brasileiras. O Fundo Baobá também promove uma agenda para estimular a filantropia para a justiça social no país, baseada nos princípios de efetividade, transparência e ética. A Fundação Ford e a Fundação Kellogg são as duas mantenedoras da entidade. A Fundação Tides, o Synergos e o Africare também são parceiros do Fundo Baobá.
A ideia que deu origem ao Fundo Baobá surge em 2008 com a decisão da Fundação Kellogg em deixar o Brasil até 2012.  Intelectuais e ativistas afro-brasileiros foram convidados pela Fundação para discutir alternativas para a sustentabilidade das OSCs afro-brasileiras e a criação de um legado, a ser deixado pela Fundação, para apoiar o trabalho destas organizações no país.
O Fundo Baobá fez sua primeira doação ao Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert) para ampliar os impactos do prêmio “Educar para a Igualdade Racial”, uma iniciativa que valoriza professores que incentivam o ensino da história e cultura afro-brasileira e da África nas escolas públicas e privadas. O Fundo Baobá também atua junto à Rede de Fundos Independentes, uma coalisão de organizações doadoras brasileiras cujo objetivo é consolidar, ampliar os impactos e promover a atuação dessas organizações no Brasil.
Para mais informações, acesse:www.baoba.org.br
Ficha Técnica – Raça
Documentário
Ano de produção: 2012
104 min/Cor/Scope 2:35/Som stereo 5.1
Realização
Principe Productions e Casa de Criação Cinema
Apresentando
Elda Maria dos Santos (Miúda)
Jose de Paula Neto
Paulo Paim
Diretores e Produtores Executivos
Joel Zito Araújo
Megan Mylan
Assistente de direção
Luis Carlos Alencar
Editores
Jordana Berg
Megan Mylan
Câmera
Alberto Bellezia
Cleumo Segond
Michael Chin
Pedro Urano
Som
Megan Mylan
Produtor de campo
Mario Furloni
Produtor de finalização
Marcelo Lessa
Apoio/Patrocínio
Fundo Baobá para Equidade Racial
Ford Foundation
Ancine
Petrobras
WK Kellogg Foundation
AGENDA – PRÉ-ESTREIAS E ESTREIAS
Pré-estreias – apenas para convidados(as):
13 de maio – São Paulo
15 de maio – Brasília
20 de maio – Porto Alegre
22 de maio – Salvador

Estreias nas salas do Grupo ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA:
17 de maio de 2013
Rio de Janeiro
São Paulo
Brasília
24 de maio de 2013
Porto Alegre
Curitiba
Florianópolis
Novo Hamburgo
Em datas posteriores:
Salvador
Vitoria
Recife
Belo Horizonte

Fonte:

quarta-feira, 15 de maio de 2013

ATO SOLENE EM COMEMORAÇÃO A "SEMANA DE SOLIDARIEDADE AOS POVOS AFRICANOS" - LEI 10.196/1999

“Preservar a Memória é uma das formas de construir a história e o elo entre Brasil e Continente Africano, o berço da humanidade. Os Povos Africanos tiveram um papel fundamental na construção do nosso País, tanto na formação étnica, quanto na produção das riquezas, com especial contribuição na cultura, em questões como a música, dança, costumes e culinária”.


Local:
Plenário "José Maria Matosinho" - Av. Roberto Mange, 66 - Ponte Preta.
TERÇA - FEIRA 21 DE Maio de 2013 ás 20:00

Especial: Entrevista com Luciana Zaffalon Leme Cardoso, Ouvidora-Geral da Defensoria Pública de São Paulo

luciana zaffalon 1
“… a forma de elaboração da lista tríplice se constitui como primeiro desafio para as Defensorias que se vêem diante da bem vinda empreitada de criação de suas Ouvidorias. Este é também o principal espaço de violação por parte dos estados que optaram por atuar ilegalmente, afrontando os termos da Lei em nome da manutenção de uma gestão opaca”.
Tania Pacheco – Combate Racismo Ambiental
Sexta-feira passada, 10 de maio, publicamos matéria sobre o Relatório da Pesquisa realizada pela Ouvidoria-Geral da Defensoria Pública de São Paulo, divulgado na véspera pela Ouvidora-Geral Luciana Zaffalon Leme Cardoso. Com gráficos e análises que podem ser baixados na íntegra, a pesquisa teve como objetivo principal estabelecer quem é o/a Usuário/a da Defensoria e quais suas opiniões sobre o atendimento e os serviços prestados, obviamente no sentido de aprimorá-los.
Nesta entrevista por e-mail a Combate Racismo Ambiental, Luciana Zaffalon fala um pouco sobre os desafios que a pesquisa aponta. Dentre eles, destaca a escalada alarmante de assassinatos de negros (“comumente identificado como massacre da população pobre, preta e periférica”) e a violência contra as mulheres como questões fundamentais a serem tratadas pela Defensoria Pública.
A entrevista não se limita à pesquisa e à situação de São Paulo, entretanto. Luciana, que até 27 de fevereiro era também Presidente do Colégio Nacional de Ouvidorias Gerais das Defensorias Públicas (e continua colaborando com a nova gestão, agora como Diretora de Assuntos Legislativos), fala também sobre a importância das Ouvidorias já criadas em outros estados. E, a nosso pedido, comenta o caso de Defensorias como a do Rio de Janeiro, que se nega a cumprir as leis e a criar sua Ouvidoria Geral Externa. Atitude ilegal e corporativista que, na opinião deste Blog, constitui também uma violência contra a sociedade civil e a democratização do sistema de Justiça.
Combate: Ficou claro, na pesquisa, que há resultados ultra gratificantes, mas há também pendências a corrigir. Quais você destacaria e por qual motivo, de um lado e de outro?
Luciana Zaffalon - Os resultados da Pesquisa nos apontam alguns desafios estruturantes, que precisam ser encarados com seriedade, e como prioridades, para que os direitos dos Usuários e Usuárias possam ser garantidos.
A criação de uma política institucional de informação ativa sobre o andamento dos casos se mostra essencial à gestão do fluxo de pessoas e se alinha à necessária garantia do direito do Usuário, fator primeiro que deve balizar a priorização institucional.
A Lei de Acesso à Informação deve ser pensada com relação ao atendimento do Usuário direto do serviço, e eles e elas nos dizem o que vêm buscar na Defensoria: 68,5% voltam para receber informações sobre os processos; 57% dos Usuários também não sabem o nome do Defensor que cuida do seu caso.
Importante destacar que não há hoje, na Defensoria de São Paulo, políticas institucionais pautadas pelos recortes de gênero e raça, e isso precisa ser mudado. A adoção de políticas específicas é um imperativo diante da verificação de uma maior procura pelo acesso à justiça por mulheres (73%), e da marcante presença de negros e pardos (47%).
A responsabilidade de identificar e promover maior aproximação entre as necessidades das pessoas empobrecidas e o Sistema de Justiça restou, de acordo com a Constituição Federal, a cargo da Defensoria Pública.
O alarmante número de mortes de negros (retratado em diversas publicações, a exemplo do Mapa da Violência 2012: A Cor dos Homicídios no Brasil[1]), por sua notória escalada no Estado de São Paulo, tem sido aqui comumente identificado como massacre da população pobre, preta e periférica e também se configura como elemento caro à nossa análise: a verificação da expressiva presença de pretos e pardos no grupo de entrevistados se configura como uma singular oportunidade para a reafirmação do diferenciado papel institucional que a Constituição atribuiu à Defensoria.
O mesmo se diz com relação às mulheres: a proposta mais votada no III Ciclo de Conferências da Defensoria de SP traz o seguinte enunciado: a mulher vítima de violência doméstica, por se encontrar em situação de vulnerabilidade, será sempre atendida pela Defensoria Pública, independente da renda, conforme prevê o artigo 28 da Lei Federal nº 11.340/2006, inclusive na fase policial.
Os desafios estão postos e se configuram como a principal contribuição do Relatório da pesquisa.
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Combate: Embora a predominância de gênero me pareça explicável (mas gostaria que falasse sobre isso), para mim foi inesperada a divisão quase por igual entre brancos e negros (autodenominados pretos ou pardos). A quê você atribui esse resultado?
Luciana Zaffalon - Acho que acabei me empolgando na resposta anterior e já falei sobre isso…
Combate: A DP não está presente em outros municípios de São Paulo? Se está, por que a pesquisa ficou restrita a esses quatro? Os ótimos Defensores que atuam no Vale do Ribeira, por exemplo, não estão inseridos na DP de Registro? Ou estou enganada?
Luciana Zaffalon - Idealmente a pesquisa deveria ser aplicada em todas as Unidades da Defensoria, o que só não conseguimos efetivar por falta de estrutura na Ouvidoria. O Projeto como um todo só foi possível porque pudemos contar com valiosos parceiros voluntários que nos deram suporte e trabalharam conosco em todas as fases da Pesquisa, fazendo desta empreitada uma construção rigorosamente coletiva.
Duas premissas foram delineadas: 1) para sua plena validade a pesquisa não poderia ser aplicada por integrantes dos quadros da Defensoria Pública; e 2) deveria evitar-se o deslocamento de membros da já sobrecarregada equipe da Ouvidoria para a aplicação dos questionários locais, na perspectiva de não impactar a rotina diária do órgão.
A primeira premissa foi rigorosamente efetivada. A ideia de não deslocar membros da equipe da Ouvidoria para este trabalho, contudo, não pôde ser contemplada. O então Assistente Técnico II da Ouvidoria, Aristeu Bertelli, esteve, durante a fase de aplicação dos questionários, integralmente empenhado nesta construção, e o resultado final só foi possível porque a equipe da Ouvidoria como um todo se comprometeu com o projeto e se desdobrou para dar conta da demanda em geral.
Os parceiros e parceiras, que trabalharam voluntariamente, viabilizaram a concretização da Pesquisa: da aplicação do questionário à sistematização de dados. Este cenário demonstra a necessidade de investimento institucional na Ouvidoria, mas também explicita o largo apoio social ao projeto, o que celebramos!
Combate: Como está, atualmente, a proporcionalidade DPs x advogados da OAB? Soube que a DP vai poder contratar um bom número de novos Defensores. Isso vai significar o quê, em termos de resultados e considerando a pesquisa?
Luciana Zaffalon - O cenário do Estado de São Paulo, em resumo, se configura hoje da seguinte forma: temos, atuando no Sistema de Justiça, cerca de 2.000 juízes, 1.800 promotores e 600 defensores – quadro que chegará a 900 Defensores quando os cargos já criados forem todos providos.
O patamar de advogados conveniados, que atuam complementarmente na prestação de assistência jurídica por força do convênio mantido pela Defensoria com a OAB, é de cerca de 50.000 advogados. Apesar de a exclusividade deste convênio ter sido superada, com o julgamento da ADIN pelo STF no ano passado, a dificuldade de equacionamento dos problemas vinculados à garantia de acesso à justiça aqui está longe de ser passado.
A Ouvidoria, juntamente com seu Conselho Consultivo, e com diversos movimentos sociais e populares, tem acompanhado de perto o processo participativo de expansão da Defensoria.
Entendemos que a construção do planejamento de fortalecimento e crescimento institucional deve, necessariamente, se pautar pela demanda dos destinatários dos serviços da Defensoria, o que se relaciona diretamente com o Resultado da Pesquisa e também com os resultados dos Ciclos de Conferências da Defensoria.
Creio que a manifestação que apresentamos como subsidio para os debates sobre os 100 primeiros cargos ilustre bem esta construção: Planejamento de expansão da Defensoria Pública de SP.
Combate: Esse tipo de pesquisa, que com certeza é decisivo para a correção de equívocos e a melhoria dos serviços prestados, acontece em todos os estados onde há Ouvidorias Gerais Externas?
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Luciana Zaffalon - A Lei Complementar Federal 132/2009, que criou as Ouvidorias Externas nas Defensorias, prevê que a realização de pesquisas desta natureza é um dever das Ouvidorias, contudo, se mesmo em São Paulo, onde temos a Ouvidoria mais antiga, as dificuldades de estrutura e equipe se colocam como um imperativo, nos outros Estados este desafio é ainda maior, já que a caminhada começa com a construção das próprias Ouvidorias.
Válido fazer um registro necessário a esta análise: o Conselho Consultivo da Ouvidoria da Defensoria de São Paulo foi fundamental para que a Pesquisa acontecesse.
A estruturação de um Conselho Consultivo composto por pessoas que acumulam tanto a vivência social de base, quanto carreguem o conhecimento técnico necessário às prementes intervenções, corrobora o modelo de Ouvidoria Externa. Contudo, algumas Ouvidorias têm enfrentado enorme resistência institucional com relação a criação de seus Conselhos, o que sem dúvida impacta a possibilidade não só de realizar pesquisas, mas de exercer uma gestão plena.
Combate: Saindo do assunto um pouquinho, você deixou há pouco tempo (27 de fevereiro) a presidência do Colégio Nacional de Ouvidorias Gerais das Defensorias Públicas. Algumas ouvidorias foram criadas na sua gestão, não? E você teve uma ótima participação na luta por uma Ouvidoria Externa para a DPU, há exatamente um ano. Como está isso, aliás? Não só em termos de DPU, como em termos de outros estados decidindo cumprir as leis do País?
Luciana Zaffalon - Tive a oportunidade de acompanhar, pelo Colégio de Ouvidorias, os processos vivenciados por alguns estados. Alguns destes já caminharam para a instalação da Ouvidoria, como é o caso do Ceará e do Maranhão, e outros ainda estão construindo seus caminhos, como no caso de Pernambuco e Minas Gerais.
Além do significativo aspecto de adaptação institucional à própria ideia e concepção de incorporação, em já pacificadas estruturas organizacionais, de um novo órgão, as Defensorias também se viram diante de desafios operacionais vinculados à implementação das Ouvidorias, que potencialmente se firmaria como sua ponte permanente com os movimentos e demandas sociais.
O texto legal provisiona os princípios gerais, cabendo aos estados, diante de suas realidades locais, avançar e normatizar sua concretização. Em outras palavras: prevê o artigo 105-B da Lei 132/2009, que “O Ouvidor-Geral será escolhido pelo Conselho Superior, dentre cidadãos de reputação ilibada, não integrante da Carreira, indicados em lista tríplice formada pela sociedade civil, para mandato de 2 (dois) anos, permitida 1 (uma) recondução.”, destacando em seguida que “§ 1º O Conselho Superior editará normas regulamentando a forma de elaboração da lista tríplice.”
Na esfera dos desafios operacionais vivenciados, a forma de elaboração da lista tríplice se constitui como primeiro desafio para as Defensorias que se vêem diante da bem vinda empreitada de criação de suas Ouvidorias. Este é também o principal espaço de violação por parte dos estados que optaram por atuar ilegalmente, afrontando os termos da Lei em nome da manutenção de uma gestão opaca.
Importante ressaltar que, uma vez elaborada e levada a cabo a lista tríplice, caberá, na prática, ao Ouvidor ou Ouvidora eleita (e aos movimentos sociais e populares envolvidos no processo de sua escolha, que comumente se estruturam como primeira composição dos respectivos Conselhos Consultivos), os contornos dos próximos passos do novo órgão, que estará, então, sob sua responsabilidade. À Defensoria importa o desafio de viabilizar esta sujeição, conduzindo um processo atento ao espírito da Lei 132, e o Colégio de Ouvidorias tem se colocado à disposição para que este momento se dê da melhor forma possível, em diálogo com a experiência acumulada.
Contam hoje com Ouvidorias Externas em pleno funcionamento as seguintes Defensorias Públicas, em ordem cronológica de suas implementações: São Paulo, Bahia, Acre, Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Ceará, Maranhão e Distrito Federal.
A Defensoria Pública da União, que pela Lei Complementar 132/2009 não estava obrigada a dar este passo, diante dos avanços democratizantes que o modelo trouxe, por iniciativa própria aprovou uma Deliberação, construída em um rico e participativo processo que tramitou no Conselho Superior da instituição, que cria a Ouvidoria Externa do Órgão. O entrave agora se volta à disponibilização do cargo para que o processo de escolha possa ser deflagrado.
Em breve haverá eleição para Defensoria-Geral da DPU, e creio que o projeto de implementação da Ouvidoria poderia ser um bom debate a ser travado neste momento.
Combate: O que nós, enquanto sociedade civil, podemos esperar de apoio do Colégio na nossa cobrança em estados como o Rio de Janeiro e a Paraíba, que se negam a cumprir a Lei 132/2009 e a LEC 80/1994?
Luciana Zaffalon - Se os desafios operacionais vinculados à criação das ouvidorias externas têm sido tranquilamente superados pelas Defensorias estaduais, inclusive com apoio do Colégio de Ouvidorias de Defensorias Públicas do Brasil, é na atual administração da Defensoria Pública do Rio de Janeiro que se evidencia a máxima expressão dos desafios ideológicos que este novo modelo tem à sua frente.
O atual Defensor Público-Geral do Rio de Janeiro, que está em seu segundo mandato, quando da disputa eleitoral para assunção do cargo, divulgou ilustrativa declaração, constante de seu site de campanha:
“Sou contrário a Ouvidoria Externa. Aliás, esse é o pensamento da maioria esmagadora dos nossos colegas Defensores Públicos. No ano passado, eu e vários outros Defensores Públicos enviamos à categoria um manifesto intitulado ‘Defensores Públicos Independentes’, manifestando nossa recusa a essa bizarra modalidade de controle em desfavor apenas dos Defensores Públicos. Interessante que os colegas que apoiaram a criação da Ouvidoria Externa, hoje se posicionam contrários ou não assumem qualquer posicionamento, quando instados a se manifestarem sobre o tema, mas, em época de eleição, não poderíamos esperar outro comportamento. Teremos que minimizar o dano dessa mal-vinda Ouvidoria Externa e por isso, no Conselho Superior propus, e foi aprovado por maioria, que o Ouvidor Externo poderá ser destituído pelo Conselho Superior e não mais pela ALERJ, como no modelo anterior. Como venho dizendo, a Defensoria Pública ainda não está blindada e não podemos lançar experimentos que poderão ser desastrosos para os Defensores Públicos. Aliás, experiências que, muitas das vezes são criadas e decididas sem o amplo debate com toda a categoria. Agora, que se apresentem os responsáveis pela criação da Ouvidoria Externa. Penso que a nossa Ouvidoria deve ser mantida no modelo atual – evidentemente com uma melhor estruturação – com um aposentado a frente da mesma. Com uma pessoa estranha à carreira e que não conhece a dinâmica do nosso trabalho muita coisa ruim estará por vir e estaremos expondo a nossa Instituição à mídia sensacionalista”. [2]
Também tem origem no Rio de Janeiro a Ação Direta de Inconstitucionalidade – ADI nº 4608/2011, iniciada pelo Partido Social Liberal – PSL, que questiona o modelo externo de Ouvidoria, reforçada, no mesmo ano, pela Associação dos Defensores Públicos do Estado do Rio de Janeiro – ADPERJ, que, na qualidade de amigo da corte, buscou se manifestar no processo reforçando os argumentos de referido Partido, advogando contrariamente ao modelo externo de Ouvidoria. Em 2012 ocorre renovação da Direção da ADPERJ e a nova gestão, depois de amplo debate sobre o tema, recorre ao STF para retirar o apoio da Associação à ADI.
A despeito do cenário do Rio de Janeiro, novo modelo de Ouvidoria tem sido larga e abertamente defendido pela sociedade civil organizada de forma geral e por importante parte da carreira de Defensores Público. É neste sentido que também requereram admissão, na qualidade de amigos da corte, na ADI nº 4608/2011, em ordem cronológica: o Instituto de Defesa do Direito de Defesa – IDDD; a Ouvidoria-Geral da Defensoria Pública de São Paulo, amparada pelo Núcleo de Justiça e Constituição da Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas; os seguintes estados, na qualidade de membros do Colégio Nacional de Defensores Públicos-Gerais: Acre, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Sul, Roraima, São Paulo e Sergipe; além do Instituto Pro Bono e Conectas Direitos Humanos e, por fim, a Associação Nacional de Defensores Públicos.
O Colégio de Ouvidorias de Defensorias Públicas do Brasil, reafirmando seus princípios e buscando ver implementado o modelo efetivamente externo de Ouvidoria, declarou-se contrário à opção adotada pela Defensoria do Rio de Janeiro, não reconhecendo, assim, o Ouvidor-Defensor aposentado como seu integrante com legítimo direito a voto, direito que se restringe aos Ouvidores não integrantes da carreira, eleitos através de lista tríplice rigorosamente composta pela sociedade civil.
Importante notar também que, em contrapartida ao ilustrado movimento de recrudescimento desta que é a mais antiga Defensoria Pública do Brasil, se viu nascer, no ano de 2011, em solo carioca, o movimento chamado Fórum Justiça – reconhecimento, redistribuição e participação popular: por uma política judicial integradora.
O Fórum congrega Defensores Públicos, movimentos sociais e populares, acadêmicos, estudantes e operadores do direito de forma geral, e busca fomentar o debate e a construção política em torno de temas como a Ouvidoria Externa e outras formas de construção participativa dos rumos do Sistema de Justiça.
Em dezembro de 2011 se realizou a primeira reunião geral do Fórum Justiça, que resultou no “Pacto Fórum Justiça – Rio de Janeiro”, documento que apresenta o conjunto de caminhos e propostas formuladas a partir do compromisso com a inclusão de uma pauta popular, cidadã e substantiva para o sistema de justiça, destacando, dentre outros temas fundamentais, a proposta de Ouvidoria externa em todos os órgãos do sistema de justiça, não só reforçando, mas alargando o projeto de ouvidorias independentes.
A oposição capitaneada pela atual gestão da Defensoria do Rio de Janeiro foi reforçada pelo processo de escolha do primeiro ouvidor da Defensoria Pública do Estado da Paraíba, que, em processo iniciado em dezembro de 2012, seguindo a ilegalidade perpetrada pela Defensoria carioca, não garantiu à sociedade civil a prerrogativa que lhe é exclusiva de composição da lista tríplice, que restou elaborada por uma Comissão Julgadora integrada apenas por Defensores Públicos. Também lá restou eleito para o cargo um defensor aposentado, o que representa burla ao modelo que busca oxigenar e democratizar a instituição. Também uma taxa de R$ 80,00 (oitenta reais) foi indistintamente prevista como condição à candidatura ao cargo.
As distorções verificadas no Rio de Janeiro e na Paraíba estão na pauta de trabalho do Colégio de Ouvidorias, que busca a melhor forma de lidar com o tema e tem buscado parceiros locais para que as estratégias possam ser construídas conjuntamente. Ficamos, hoje e sempre, à disposição para aprofundar os debates.
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[2] Trecho de matéria veiculada sob o título “Nilson Bruno, desta vez, fala sobre a pauta institucional e corporativa, além da ouvidoria externa, dentre outros temas”, disponível em www.nilsonbruno.com.br/?p=190, endereço acessado pela última vez em 26 de fevereiro de 2012. Grifos originais.

Fonte: http://racismoambiental.net.br/2013/05/especial-entrevista-com-luciana-zaffalon-leme-cardoso-ouvidora-geral-da-defensoria-publica-de-sao-paulo/#.UZOaljTZsXA.facebook

terça-feira, 14 de maio de 2013

Na ditadura, presa política criava “ambiente lúdico” no cárcere para poupar os filhos

A luta pelos ideais causou a violação do corpo e da alma dos militantes políticos contrários ao golpe militar de 1964. Não bastasse o estresse emocional e de resistência, os perseguidos tinham de lidar com a situação no âmbito familiar, já que muitos filhos, parentes e cônjuges foram detidos para desestabilizar emocionalmente os militantes.
Militante da Ação Popular, organização comunista, a psicanalista Maria Auxiliadora ‘Dodora’ Arantes vivenciou essa experiência.  Em 13 de dezembro de 1968, dia em que passou a vigorar o AI-5 (Ato Institucional 5), ela foi sequestrada pelos militares junto de seus dois filhos pequenos. Na casa onde morava, numa cidade do interior de Alagoas, também estavam uma companheira de militância e sua filha, de sete anos.


“Meus filhos, a Priscila e o André, tinham dois e três anos de idade. Nós ficamos presos quatro meses e meio. Ficamos numa situação de constrangimento absoluta. Ficamos submetidos à situação de maus tratos e houve um evento em que éramos mudados de local de prisão a cada momento, primeiro numa de delegacia de bairro, passando por outros locais até chegar a uma escola, por exemplo”.
Dodora relata que, durante o cárcere, ela teve uma doença infectocontagiosa e seus filhos tiveram furúnculos. Assim como o personagem Guido Orefice vivido por Roberto Benigni, de “A vida é bela” - que cria um ambiente lúdico dentro de um campo de concentração para poupar o filho da realidade nazista – a psicanalista fez o que pôde para proteger as crianças do ambiente de tortura.
“Eu fazia ginástica, joguinho, aulinhas de alfabetização para a filha da Rosa, que era maior... Como os carcereiros permitiam, eles ficavam o dia todo brincando. Fiz coisas que qualquer mãe faria para proteger os filhos de uma situação adversa”.


Segundo ela, seus filhos, que estão na faixa dos 40 anos, pouco se lembram daquela ocasião, “só quando contam para eles”.
“Os presos eram ameaçados pelos ditadores, que diziam que seus filhos seriam prejudicados. Eu tive um gesto materno, quando a mãe tem de proteger uma criança, gesto totalmente oposto dos ditadores, que estavam sequestrando crianças. O que uma criança poderia oferecer de ameaça para alguém?”

Medo como herança

Um dos casos emblemáticos que veio a conhecimento público recentemente foi o de Carlos Alexandre Azevedo, filho do jornalista e preso político Dermi Azevedo. Torturado com apenas 1 ano e oito meses de idade, Carlos cometeu suicídio em fevereiro deste ano, aos 37 anos.  Ele tinha um longo histórico de problemas de sociabilidade e fobias.

Ao analisar a experiência de Carlos, o psicanalista Moises Rodrigues da Silva Junior, do Instituto Projetos Terapêuticos, afirma que uma violência como a sofrida pelas vítimas da ditadura pode ter consequências ao longo da vida - mesmo que a violação tenha ocorrido nos primeiros anos de vida.

“A tortura teve um papel muito grande nessa questão do medo. E isso fica na memória do corpo, vem à tona em algum momento. Alguém com dentes quebrados com um ano e meio, carregando, já maior, um problema no maxilar, carrega esse sofrimento. Ele foi uma criança traumatizada muito cedo”.

O trauma da violência sofrida, além de atingir as vítimas diretas, pode ser passado por herança. Em um dos casos do qual teve acesso, Silva relembrou o de uma mulher cujo pai foi assassinado pelos torturadores. À época, ela era criança, mas o pavor que tinha em relação à morte de seu pai foi passado para as suas filhas, que hoje são adolescentes.

“Ela tem um medo que pensou que fosse normal, que é um medo de estar no mundo. As filhas dela, adolescentes, também dizem possuir um medo que não conseguem determinar de onde vem. É uma dificuldade grande de incerteza de situações frente à morte.”

Segundo ele, a partir do testemunho da mãe durante tratamento terapêutico, a ligação do sofrimento atual com o temor do passado passou a fazer sentido para ela – e para as filhas também.
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