Em um salão de beleza
no DF, mulher não quis ser atendida por uma manicure negra e disse que
não queria ser tocada por uma “raça ruim”; a PM foi acionada e a mulher
presa por racismo
Por Geledés
Uma australiana foi presa em Brasília na noite desta sexta-feira (14) suspeita de agredir e ofender duas funcionárias e uma cliente negras de um salão de beleza da superquadra 115 Sul, além de desacatar o policial
militar, também negro, que a conduziu à delegacia. Na delegacia, ela
também ofendeu o agente responsável por atender a ocorrência. Parte da
situação foi gravada pela recepcionista do local. O caso é investigado
pela 1ª DP.
Segundo
testemunhas, a suposta agressora tem cerca de 30 anos e entrou no
estabelecimento para fazer as unhas do pé. A primeira pessoa que ela
ofendeu foi uma manicure, que preferiu não se identificar por se sentir envergonhada. A profissional foi contratada pelo salão há uma semana.
A suposta agressora foi levada para a delegacia e foi transferida neste sábado
(15) para a Penitenciária Feminina do Gama (Colmeia). Segundo a Polícia
Civil, ela vive regularmente no Brasil há cinco anos e já foi detida
por dirigir sob efeito de álcool.
A Polícia Civil informou que mulher foi presa por racismo e não por
injúria racial porque disse que não poderia ser atendida pela
funcionária negra. Ela cometeu segregação racial ao afirmar que a profissional não poderia executar o serviço por ser de “raça ruim”.
O encaminhamento para a
penitenciária da Colmeia comprova que ela foi enquadrada por racismo,
segundo a polícia. Se fosse por injúria, ela teria assinado um termo de comparecimento à Justiça e deixaria a delegacia. O crime de racismo é inafiançável. A suspeita pode permanecer presa por até um ano.
“Ela chegou e perguntou se havia alguém que pudesse fazer o pé dela. A
recepcionista disse que sim, então ela sentou. Quando ela viu que seria
eu, disse que não queria”, lembra
a manicure. “Fiquei sem graça. Aí a menina disse que tinha então outra
pessoa, e ela respondeu que podia ser a outra, porque ela era um pouco mais clara. Ela disse que eu era escura demais para fazer a unha dela.”
Minutos depois, a suposta agressora teria se incomodado com a presença da manicure e pedido
que ela se retirasse. “Ela disse: ‘dá para você se retirar? Sua
presença está me incomodando. Eu não quero que você fique perto de mim’.
Subi na hora, não conseguia parar de chorar”, conta a profissional.
Dona do salão, Eliete Lima de
Carvalho cuidava do cabelo de uma cliente e só percebeu o problema
quando viu a manicure chorando. A proprietária subiu as escadas para o banheiro atrás dela para saber o que havia acontecido e, depois, voltou ao salão para exigir que a cliente se desculpasse.
“Ela disse que não ia se desculpar, que não tinha feito nada de
errado. E aí começou a falar do trabalho da outra manicure, dizendo que
ficou uma porcaria, que não ia pagar. Outra cliente, que é morena, ficou
irritada e pediu para ela abaixar o tom, então ela disse ‘eu não sei
por que essas pessoas de raça ruim insistem em falar comigo’. Precisei
segurar a menina, que queria bater nela”, conta Eliete.
A discussão evoluiu para bate-boca e gritaria. A dona do salão acionou a
Polícia Militar, mas a suposta agressora tentou fugir. Eliete afirma
que pediu mais uma vez que ela se desculpasse, que a situação poderia
ser contornada se ela reconhecesse que errou. “Ela disse que queria ver
quem iria prendê-la por isso”, diz a proprietária.
Abordada por um PM negro, a australiana ainda teria gritado para que
ele não dirigisse a palavra a ela. A cliente ofendida, as funcionárias, a
dona do salão e a cliente de quem ela cuidava, que é advogada, foram
para a delegacia prestar depoimento.
Assustada e desconfortável, a manicure que não quis se identificar
disse que nunca passou por isso antes. “Ela insistiu que não queria
nenhum de nós, pretos, falando com ela. Disse que éramos raça ruim”,
conta.
De acordo com os dados mais atualizados disponíveis no site da
Secretaria de Segurança Pública, houve 409 crimes raciais em 2012 no DF.
Protesto
Indignada com a situação, Eliete decidiu trabalhar com o cabelo o mais
volumoso possível neste sábado. “Não admito funcionário tratar mal
cliente, nem cliente tratar mal funcionário. E não admito preconceito,
de forma alguma”, afirmou. “Ela me machucou profundamente. Agiu como se
fosse melhor por não ser negra ou porque acha que ser manicure é ser
inferior. Não aceito.”
No momento da confusão, havia cinco clientes e nove funcionárias no
salão – quatro delas, negras. O estabelecimento funciona há dez anos.
Eliete disse ainda que, pela manhã, comentou com as funcionárias que
achou absurdo o ocorrido com o jogador Tinga, do Cruzeiro, vítima de
racismo durante partida contra o Real Garcilaso, pela Taça Libertadores,
no Peru. “Ainda falei que era inadmissível, que esse era o tipo de
coisa que eu não conseguia acreditar que ainda existia.”
O episódio de racismo contra o jogador ocorreu na cidade peruana de
Huancayo. Tinga, que é negro, entrou no segundo tempo. Sempre que ele
tocava na bola, a torcida do time da casa, fazia sons que imitavam um
macaco.
Fonte: http://revistaforum.com.br/blog/2014/02/nao-vou-sujar-minha-mao-com-uma-raca-ruim-disse-australiana-presa-por-racismo-em-brasilia/
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