Um vídeo com o desabafo de um adolescente de 12 anos, vítima de
bullying escolar por homofobia, vem ganhando repercussão no Youtube e
nas redes sociais. Talvez pela eloquência e sinceridade de um ser tão
jovem, ou pela angústia que o garoto consegue transmitir em apenas seis
minutos de gravação.
Até esta sexta-feira (17), data em que se comemora o Dia
Internacional contra a Homofobia, o vídeo intitulado “Gay” já tinha
registrado 187.418 visualizações, sendo que a versão legendada em
português foi assistida 36.021 vezes.
No material, postado no dia 6 deste mês, Theo Chen, morador de
Cingapura, relata que os maus-tratos e as brincadeiras maldosas
aumentaram nos últimos dois meses.
“Eu recebi muito ódio online no Ask.FM, Facebook, Youtube (…). Eles
basicamente me chamam de bicha ou gay, boiola, coisas assim”.
O bullying seria praticado por internautas, amigos e colegas de
escola e teria piorado depois que Theo começou sentir o gostinho da fama
por causa do seu canal “Theo Chen”, no Youtube, o tornando uma espécie
de “webcelebrity” – celebridade da internet.
Em outro vídeo mais recente, ele dança, dubla a música “Sweet
Nothing” de Calvin Harris, além de fazer caras e bocas. Com um dia de
postagem, essa publicação havia alcançado 1.076 exibições. Ele também
aparece dublando artistas como P!Nk, Bruno Mars e Nick Minaj, e até
mesmo falando sobre coisas da vida.
Apesar de os comentários serem de cunho homofóbico, Theo afirma, sem pudores, que ainda não sabe afirmar se é gay.
“A verdade é que eu realmente não sei. Vocês pelo menos sabem quantos
anos eu tenho? Eu tenho 12 anos, e vocês me chamam de gay? E o que
importaria se eu fosse gay? Eu achei que este mundo fosse livre. Vocês
não deveriam julgar as pessoas pela sexualidade, mas pela
personalidade”.
Em outro momento, ele afirma que, por enquanto, prefere garotas.
“Agora eu gosto de meninas, não penso que sou gay neste momento. Não que
haja algo errado em ser gay. Ser gay é legal. Não há nada de errado.”
A intenção de Theo ao expor os sentimentos, segundo ele, era fazer
com que as pessoas pensassem sobre o que dizem. O menino ainda lamenta e
diz que gostaria de estar aproveitando a escola, mas não pode, porque
as pessoas o atormentam o tempo inteiro. Assista ao vídeo legendado:
Seguidores da Bíblia, eles se opõem à
violência contra homossexuais, defendem a igualdade entre homens e
mulheres e enfrentam preconceito dentro e fora da comunidade religiosa
Alessandra Oggioni, especial para o iG São Paulo |
Eles são evangélicos, frequentam os cultos, leem a Bíblia
e lutam para defender suas opiniões pessoais – mesmo que elas distoem
do que pensa a maioria de seus irmãos em fé. Patrick, Morgana e Elias
são considerados evangélicos progressistas, que se declaram contra a
violência aos homossexuais, pregam a igualdade de direitos entre homens e
mulheres e adotam uma postura mais questionadora sobre temas polêmicos,
não sem enfrentar preconceitos dentro e fora do grupo ao qual
pertencem. “Infelizmente, a sociedade vê o evangélico como conservador,
limitado intelectualmente e manipulável. Mas esta não é uma imagem
totalmente verdadeira”, afirma o comentarista esportivo Elias Aredes
Junior, evangélico praticante.
A comunidade evangélica no Brasil conta com
mais de 42 milhões de pessoas, de acordo com dados do IBGE. O
crescimento do número de fiéis é expressivo – eram 15,4% da população no
ano 2000 e chegaram a 22,2%, em 2010.
Embora estejam todos “enquadrados” no mesmo grupo, há
denominações bastante distintas. Os ensinamentos são diferentes em uma
igreja da corrente histórica, como a Batista ou a Metodista, em
comparação a uma pentecostal, à qual pertence a Assembleia de Deus, por
exemplo, ou a uma neopentecostal, como a Igreja Universal do Reino de
Deus.
Com doutrinas tão diferentes, alguns evangélicos buscam
comunidades mais abertas a questionamentos e também participam de
movimentos progressistas, para defender interpretações e pontos de vista
nem sempre aceitos nos cultos. Conheça a história de três jovens
cristãos que se incluem neste grupo.
Abaixo a submissão incondicional
Formado em ciências sociais, Patrick Timmer, 27
anos, trabalha como secretário-geral na Aliança Bíblica Universitária
do Brasil, em São Paulo. De família evangélica, é membro da igreja
Comunidade de Jesus, e se considera um “progressista”. “O termo
progressista pode significar muita coisa. Para mim, é não ter uma
relação de submissão incondicional com a figura do pastor ou do líder
religioso”, define.
Para Patrick, tudo o que é ouvido no culto
precisa “passar pelo crivo das escrituras e ganhar uma interpretação
coerente”. Ele acredita que todo evangélico deve ter uma postura crítica
e saber buscar respaldo na própria Bíblia. “É preciso analisar o
contexto, procurar literaturas de apoio, conversar com outras pessoas. O
diálogo e o debate sempre ajudam na construção de uma democracia
saudável”, afirma.
“
A submissão para justificar a violência não tem base bíblica”
Ele explica que, em muitos casos, trechos da
Bíblia são usados para justificar atos de opressão ou abuso,
especialmente contra as mulheres. “Certas leituras podem levar a uma
interpretação equivocada de superioridade de gênero. Mas a submissão
para justificar a violência não tem base bíblica”, defende Patrick.
Sobre o homossexualismo, comumente alvo de
críticas de líderes religiosos e dos políticos da bancada evangélica,
Patrick diz que é preciso mudar esta polarização de “evangélicos versus
gays”. Para ele, violência e intolerância são inaceitáveis, sejam por
racismo, machismo, xenofobia ou homofobia.
“Todos devem ter os direitos garantidos, independentemente da sua história ou trajetória familiar”, defende.
Evangélica desde criança, ela já frequentou a
igreja Batista e hoje é membro da Comunidade Anglicana Neemias, na
cidade de Vitória (ES). Morgana defende fervorosamente a liberdade de
crença e se mostra contrária à intervenção da Igreja em ações do
governo. “Estado laico não é a ausência de elementos de fé, mas a
possibilidade de expressá-la da forma que cada um considere importante”.
“
Estado laico não é a ausência de elementos de fé, mas a possibilidade de expressá-la da forma que cada um considere importante”
Para ela, assim como a opção religiosa, todas
as escolhas devem ser respeitadas. Cada um é responsável por decidir o
que achar melhor para a própria vida, até mesmo quando se trata de
questões sexuais. “É inadimissível qualquer tipo de violência contra
homossexuais. Isso inclui o preconceito, pois [o preconceito]
incita a violência”.
A
igreja não consegue lidar com este cenário multifacetado. (...) Quem
não estiver dentro de um modelo preestabelecido fica de fora"
O comentarista esportivo Elias Aredes Junior,
40 anos, sempre foi de família evangélica. Ainda adolescente, aprendeu
com os tios a questionar os valores pregados nas igrejas que sempre
frequentou. “Comecei a despertar para temas de justiça social e
igualdade, o que me levou a participar ativamente de movimentos
estudantis”, conta ele, que hoje também frequenta reuniões e encontros
do Movimento Evangélico Progressista.
Elias, que faz parte de uma igreja na cidade de Campinas
(SP), considera boa parte da comunidade evangélica bastante
conservadora. “Muitas vezes, a igreja não consegue lidar com este
cenário multifacetado. E isso não é bom porque não contempla a
diversidade. Quem não estiver dentro de um modelo preestabelecido fica
de fora”, diz.
Ele cita um exemplo que ouviu de um pastor em outra
denominação religiosa, que frequentava anteriormente. Durante um culto, o
líder disse que, ao ver uma passeata gay, teve vontade de jogar o carro
contra a multidão. “Achei aquilo horrível. Posso não concordar com a
conduta gay, mas o Estado tem a obrigação de assegurar-lhes todos os
direitos, inclusive o de manifestação”, opina.
Para Elias, o problema de lidar com a diversidade vai
além da questão gay, incluindo também as novas formações familiares. “Vi
vários casos de preconceito contra mães solteiras. Então, quando uma
mulher é solteira ou separada, ela não pode ser considerada família pela
igreja?”, questiona.
Para mudar este cenário e promover a inclusão, Elias
acredita que cabe aos próprios evangélicos lutar pelo que acreditam e
“adotar” líderes e representantes que estejam mais de acordo com o
perfil de cada um. “O pastor da igreja que frenquento é aberto ao
diálogo e respeita o que eu penso. Uma nobre e gratíssima exceção neste
cinturão ditadorial existente na comunidade evangélica brasileira”,
afirma.
O final da novela "Salve Jorge" apresentou uma cena absurda. Russo,
personagem mau, agressivo, violento, desumano e perigoso, foi preso e
torturado.
Quando vi que uma das policiais chamou as garotas que ele agrediu e
ameaçou durante toda a novela para ir ao quarto onde ele estava algemado
só de cueca nas grades da cama, logo imaginei: irão zombar dele!
Ingenuamente cheguei a pensar que ela tinha trocado as roupas dela com
as dele. Mas não imaginei que de hilário nada teria.
O que se viu quando as garotas entraram no quarto é algo bastante comum
no Brasil, mas que deveria ser inaceitável. A policial,
contraditoriamente, avisou que a polícia não poderia saber o que se
passaria ali, e sugeriu que as garotas devolvessem toda a agressão
sofrida. A cena de tortura começou com a protagonista da trama dando a
primeira bofetada. Na sequência foi a vez das outras darem tapas, socos e
murros no imobilizado.
Fazer justiça com as próprias mãos não parece nada ameaçador no horário
nobre. Os gestos de violência foram cometidos entre risos e gargalhadas
das personagens. A imposição da dor física simplesmente por prazer da
pessoa que tortura pareceu agradar os fãs da novela, afinal, não vi nas
redes sociais ninguém reclamando que se sentiu ofendido com as imagens,
pelo contrário. Alguns comentários referiram-se a cena como algo que
"todos" queriam participar.
Criticar e combater a tortura não é o mesmo que salvar as pessoas más
ou culpadas. Responsabilizar com justiça e discernimento é preciso, não
se trata de livrar ninguém da culpa que tem. Mesmo porque, o importante a
ser entendido é que nada há de seguro que a tortura de hoje (que aflige
o outro) em um momento seguinte não pode cair sobre nós mesmos.
Se vencer o mau reproduzindo o mau é agradável aos olhos da maioria dos
telespectadores, como podemos pensar em um mundo em que as pessoas
sofram menos ou sejam menos violentas? A ficção tem poder e por mais que
alguns possam afirmar, "ah, mas é uma obra inocente, com o objetivo de
entretenimento", ela produz e reproduz verdades, está em um espaço de
disputas e defesas de valores que em nada são ingênuos.
Se isso não fosse verdade, não escutaríamos: "Ninguém quer ver um beijo
gay na novela". Em uma sociedade em que a violência está naturalizada é
mesmo mais difícil de valorizar as múltiplas expressões de afetos e
desejos. Tampouco é fácil de compreender que a novela escolhe reproduzir
uma cultura absurda e perigosa, em detrimento de expressões menos
autoritárias e agressivas.
A surra que Russo recebeu das mulheres não foi justa, porque justiça se
faz de outra forma. Não é justo defendermos que a agressão é legítima
quando se trata de culpados serem as vítimas, assim como também não é
justo que a expressão de amor (como um beijo) seja compreendida como
ilegítima quando se trata de viados.
Parece-me ainda mais grave o fato de mulheres policiais chegarem a
posições de poder, como a delegada e as policiais investigadoras da
trama, e reproduzirem o mesmo padrão ilegal e violento de alguns homens
policiais. Evidentemente que não se pode, de forma essencialista,
esperar que agissem de forma diferente por simplesmente serem mulheres,
mas isso mostra que não basta chegar lá. As mulheres em posições de
poder como essas devem assumir o mesmo desafio que os homens que estão
lá há mais tempo: cumprir a lei, respeitar os direitos humanos de todos,
e fazer valer a justiça da maneira que se estabeleceu juridicamente.
Segundo uma matéria jornalística da revista Isto é,
"Não existem números confiáveis sobre tortura no País. Como se trata de
um crime praticado, em geral, por policiais ou carcereiros, as vítimas
têm medo de denunciar".
Nesta mesma matéria, a verdade sobre a realidade desse tipo de
violência no Brasil foi dita por Margarida Pressburger, integrante da
ONU: "A tortura no País é cultural, generalizada e sistemática. Começou
no período da escravidão e se mantém até hoje". Ela, afirmou ainda: "A
vocação brasileira para a tortura se solidificou porque os torturadores
não são punidos."
Na novela, como na vida real, a tortura policia não foi punida; sequer
denunciada. Assim, enquanto o beijo gay parece ofensivo e impróprio,
vamos engolindo violências consentidas e revestidas de legitimidade,
quando na verdade, deveriam ser reconhecidas como afrontas a nossa forma
de pensar uma sociedade menos violeta e mais justa, para todos.
*Tiago Duque é sociólogo e tem experiência como educador em
diferentes áreas, desde a formação de professores à educação social de
rua. Milita no Identidade - Grupo de Luta Pela Diversidade Sexual. Gosta
de pensar e agir com quem quer fazer algo de novo, em busca de um outro
mundo possível.
Mais da metade das casas de umbanda ou candomblé do estado já sofreu algum tipo de discriminação
RIO — Para o agente de saúde Luiz Paulo, de 26 anos, havia chegado a
hora de um passo importante no candomblé. Decidiu fazer o santo, rito
que significa nascer para o orixá. Por três meses, tinha de vestir
apenas roupas brancas e manter a cabeça coberta. Mas encontrou no
trabalho, uma clínica da família do Rio, os obstáculos. Sua gerente o
proibiu de cumprir seu preceito e exigia que ele usasse seu uniforme.
Luiz Paulo tentou negociar: propôs que usasse um boné branco, reduzindo
ao máximo seus paramentos religiosos. Vieram sucessivas recusas.
Enquanto isso, a gerente, evangélica, reunia sua equipe para orações,
dizendo que o clima no grupo estava “pesado”. Pouco tempo depois, Luiz
Paulo foi demitido. Resultado, acredita ele, de discriminação religiosa e
homofóbica, uma vez que também diz ter sofrido preconceito por ser gay.
No
Rio de dezenas de credos, que receberá o Papa Francisco em julho,
durante a Jornada Mundial da Juventude, casos como o de Luiz Paulo ainda
são frequentes. E atingem sobremaneira seguidores de religiões como
candomblé e umbanda, como revela o Mapeamento das Casas de Religiões de
Matriz Africana do Estado do Rio, feito pelo Núcleo Interdisciplinar de
Reflexão e Memória Afrodescendente (Nirema) da PUC-Rio. Das 847 casas
pesquisadas desde 2008, mais da metade (430 delas) relatou episódios de
intolerância religiosa contra seus centros ou seguidores nos últimos
anos (o levantamento completo será apresentado em novembro, no livro “A
presença do axé”).
Tratado como ovelha negra no trabalho
Realidade
corroborada por um relatório do recém-criado Centro de Promoção da
Liberdade Religiosa e Direitos Humanos (Ceplir, fundado em janeiro e
ligado à Superintendência estadual de Direitos Individuais, Coletivos e
Difusos), que chegou à conclusão de que, de janeiro a maio deste ano,
foi o candomblé o segmento religioso mais vulnerável à violação de seus
direitos no estado.
— Antes de ser demitido, eu era tratado como a
ovelha negra da minha equipe. Os problemas se agravaram quando decidi
fazer o santo. Nem minhas guias eu podia usar aparentes. Tinha de
camuflá-las. Foram meses trabalhando sob pressão e olhares tortos —
afirma o agente de saúde Luiz Paulo, uma das 38 pessoas que já
procuraram o Ceplir, onde 10,53% dos atendimentos foram para adeptos do
candomblé que buscavam orientações sobre seus direitos ou foram vítimas
de intolerância religiosa no ambiente de trabalho, familiar ou na
vizinhança.
Uma das mais respeitadas e conhecidas ialorixás do
candomblé no Rio, Mãe Meninazinha de Oxum conta que um grupo já tentou
invadir seu terreiro, em São João de Meriti, para “tirar o demônio”
dali. Relata que constantemente sua caixa de correio aparece repleta de
panfletos de igrejas evangélicas. Ao andar pelas ruas com suas
vestimentas tradicionais, é repetidas vezes abordada por pessoas
tentando convertê-la a outras religiões.
— Como todos no candomblé
e na umbanda, sofremos principalmente com agressões verbais. Mas também
há relatos de agressões físicas. São filhos de santo impedidos de usar
seus colares, crianças agredidas nas escolas, casas invadidas... — conta
Mãe Meninazinha, que comanda o terreiro Ilê Omolu Oxum desde 1968.
Em
2009, o terreiro de umbanda Centro Espírita Vovô Cipriano de Aruanda,
em Caxias, teve o altar, as paredes de quartos de santo e vários objetos
religiosos quebrados com uma marreta por um homem. Um ano antes, jovens
invadiram e depredaram o Centro Cruz de Oxalá, no Catete. Já no
barracão do sacerdote Alexandre Nunes Feijó, no Largo do Pechincha, na
Zona Oeste, ele conta que voltava do Mercadão de Madureira, quando
encontrou a frente de seu terreiro cercada por um grupo de parentes de
um adolescente de 14 anos que fazia sua iniciação no candomblé — quando
há um período de reclusão de duas a três semanas.
— A mãe, filha
de santo, tinha autorizado. Também era uma vontade do menino. Cheguei,
expliquei o que estava acontecendo, mas não houve conversa. Eles me
acusaram de cárcere privado e chamaram a polícia — diz Alexandre.
A
polícia também já foi chamada algumas vezes por vizinhos do Templo A
Caminho da Paz, conta Amélia Martins, diretora de estudos do centro, no
Cachambi. Todas as vezes, foram reclamações sobre o barulho. Só um dos
muitos exemplos, segundo ela, de resistência à religião, que tem suas
origens no Estado do Rio e cujo primeiro templo foi a Tenda Espírita
Nossa Senhora da Piedade, de 1908, em São Gonçalo.
— Existe uma
guerra silenciosa contra a umbanda. Isso tem feito alguns terreiros
desaparecerem — afirma Amélia, revelando outra consequência da
discriminação. — Muitos de nossos médiuns, por receio, escondem a
religião no trabalho, no ambiente escolar e até mesmo familiar.
Sem coragem de contar para a mãe
É
o caso do jovem Rodrigo D’Oxum, de 26 anos, frequentador do Centro
Espírita Cabana das Almas, em Nova Iguaçu. Aos 18 anos, ele ingressou na
umbanda. Mas ainda hoje não contou à família, cuja mãe, é “católica
fervorosa”.
— Quando decidi pela umbanda, ainda morava com ela. E
tenho certeza de que se criaria uma situação muito chata em casa — diz
Rodrigo, que conta ainda ter medo de ser agredido ao fazer trabalhos em
encruzilhadas à noite.
Cerca de 80% dos ataques contra religiões
de matriz africana acontecem em ruas e parques. A professora do
Departamento de Ciência Social da PUC-Rio e coordenadora geral do
Nirema, Sonia Giacomino, destaca que, na maior parte dos casos, os
adeptos dessas religiões são os alvos. Mas há também casos de terreiros
apedrejados. Mais de 80% dos agressores, ainda segundo o mapeamento, são
vizinhos dos centros e grupos evangélicos. Mas Sonia alerta que não se
pode generalizar, porque eles não representam o conjunto dos
evangélicos.
Superintendente estadual de Direitos Individuais,
Coletivos e Difusos, órgão ligado à Secretaria estadual de Assistência
Social e Direitos Humanos, Cláudio Nascimento observa ainda que a
discriminação atinge outros grupos:
— Há, por exemplo, crianças
muçulmanas perseguidas dentro da escola. Ou perseguição a integrantes de
movimentos agnóstico e ateísta.
O Ceplir faz atendimento inicial
pelo telefone 2334-9550 ou em sua sede, na Central do Brasil. Um grupo
de 20 pessoas de credos diferentes trabalha agora em propostas de
políticas públicas contra a intolerância religiosa. No dia 30 de maio,
será apresentado à consulta pública o Plano Estadual de Enfrentamento da
Intolerância Religiosa, o primeiro em âmbito estadual no país.
Vizinhos já chamaram a polícia, reclamando do barulho nas celebrações de templo no Cachambi
Marcelo Carnaval / O Globo
Campo Grande (MS) – O Governo do Estado realiza no mês de agosto, por
meio da Subsecretaria da Mulher e da Promoção da Cidadania e da
Coordenadoria de Política de Promoção da Igualdade Racial (integrantes
da Secretaria de Governo) e da Secretaria de Estado de Trabalho e
Assistência Social, a 3ª Conferência Estadual de Promoção da Igualdade
Racial, entre os dias 14 e 16, em Campo Grande.
O evento, que terá como tema a “Democracia e Desenvolvimento por um
Brasil Afirmativo sem Racismo”, terá os objetivos de reafirmar e ampliar
o compromisso governamental e da sociedade civil com políticas de
enfrentamento ao racismo e de promoção da igualdade como fatores
essenciais à democracia plena e ao desenvolvimento com justiça social.
Será proposto também, um conjunto de recomendações para o
fortalecimento do enfrentamento ao racismo e para a promoção da
igualdade racial no âmbito estadual e municipal, além de avaliar os
avanços obtidos e os desafios a serem enfrentados após dez anos de
implantação da Política Nacional de Promoção da Igualdade Racial.
A discussão sobre os mecanismos de institucionalização da promoção da
igualdade racial, tendo em vista a implantação do Sistema Nacional de
Promoção da Igualdade Racial (Sinapir), também será amplamente abordada,
para que o assunto seja levado a 3ª Conferência Nacional de Promoção da
Igualdade Racial (Conapir) que acontece em Brasília, no mês de
novembro.
Reunião
Para tratar dos assuntos referentes à conferência estadual, a
secretária de Estado de Governo e vice governadora, Simone Tebet, se
reuniu na tarde de hoje com a secretária de Estado de Assistência
Social, Tania Mara Garib, e a coordenadora de Promoção da Igualdade
Racial, Raimunda Luzia de Brito. Também participou do encontro a
subsecretária da Mulher e da Promoção da Cidadania, Tai Loschi.
O
decreto convocatório da Conferência já está pronto e será assinado
pelas duas secretárias e o governador André Puccinelli.
Simone Tebet destacou a importância da realização da conferência para
que sejam levantados debates e ideias do que precisa ser mudado nessas
políticas, para que o Executivo possa implementar. “Este é um momento de
fiscalizar, um foro para o debate de políticas públicas e,
principalmente, o surgimento de novas ideias”, destacou.
Para a secretária Tania Garib, o evento é uma excelente oportunidade
para a sociedade avaliar e discutir a implantação de ações, seja qual
for a temática. “Este é um momento de conferir ações. Em Mato Grosso do
Sul temos muita coisa para ser avaliada e assuntos a serem ponderados.
Temos aqui no Estado 14 comunidades quilombolas reconhecidas e isso
servirá para elaboração de ações organizadas nessas comunidades”,
reforça.
Raimunda de Brito, coordenadora de Promoção da Igualdade Racial, afirma
que o principal motivo da conferencia estadual e da nacional é discutir
assuntos para uma maior inserção do negro na sociedade como um todo.
“Somos 50,7% da população do Brasil e, do mesmo jeito que existem muitas
políticas para índios e para a mulher, trabalhamos para conseguir
ampliar a participação do negro na sociedade”, conclui.
O Incra
assegurou, na manhã desta quinta-feira (23), a posse de quatro novos
imóveis, que serão destinados à criação de um território quilombola no
Baixo São Francisco, em Sergipe. Os sítios Faveira, Saco da Faveira,
Serraria e Serraria I, localizados no município de Amparo do São
Francisco, tiveram sua posse imitida em favor da autarquia federal e
serão incorporados ao território da comunidade quilombola de Lagoa dos
Campinhos.
Fruto de um decreto assinado em 2009 pelo então
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a área que compõe o futuro
território quilombola era ocupada por 21 imóveis particulares. Dentre
esses, 13 tiveram sua posse revertida ao Incra e outros oito aguardam
decisões de ações já ajuizadas pela autarquia.
“Com a conquista
desses novos imóveis, asseguramos a posse de cerca de 85% da área total
do território. É uma marca importante, que demonstra o empenho do Incra
em consolidar uma área para o desenvolvimento da comunidade”, afirmou a
chefe da Divisão de Ordenamento da Estrutura Fundiária do Incra/SE,
Tânia Aciole Bomfim.
Com uma área total prevista de 1.263
hectares, o território de Lagoa dos Campinhos encontra-se em fase de
desintrusão e titulação. “Sabemos da importância de promover o acesso à
terra, definindo um território para o desenvolvimento das famílias
quilombolas. Por isso, seguiremos trabalhando muito para garantir novos
avanços como esses em Lagoa dos Campinhos”, enfatizou o superintendente
do Incra em Sergipe, Leonardo Góes.
Atividades produtivas
Localizada
às margens do Rio São Francisco, a comunidade de Lagoa dos Campinhos
vive por meio da manutenção de atividades como o cultivo de milho,
feijão e mandioca, da criação de peixes e pequenos animais, além do
desenvolvimento das pecuárias de corte e leiteira (com um rebanho de
cerca de 600 cabeças).
Composta por 103 famílias
autorreconhecidas como remanescentes dos antigos quilombos, a comunidade
foi, ao lado de Mocambo, a primeira em todo o estado de Sergipe a ter a
área do seu território reconhecida e definida em decreto presidencial.