quinta-feira, 23 de maio de 2013

Garoto de 12 anos desabafa sobre bullying homofóbico e diz não ser gay.

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Um vídeo com o desabafo de um adolescente de 12 anos, vítima de bullying escolar por homofobia, vem ganhando repercussão no Youtube e nas redes sociais. Talvez pela eloquência e sinceridade de um ser tão jovem, ou pela angústia que o garoto consegue transmitir em apenas seis minutos de gravação.
Até esta sexta-feira (17), data em que se comemora o Dia Internacional contra a Homofobia, o vídeo intitulado “Gay” já tinha registrado 187.418 visualizações, sendo que a versão legendada em português foi assistida 36.021 vezes.
No material, postado no dia 6 deste mês, Theo Chen, morador de Cingapura, relata que os maus-tratos e as brincadeiras maldosas aumentaram nos últimos dois meses.
“Eu recebi muito ódio online no Ask.FM, Facebook, Youtube (…). Eles basicamente me chamam de bicha ou gay, boiola, coisas assim”.
O bullying seria praticado por internautas, amigos e colegas de escola e teria piorado depois que Theo começou sentir o gostinho da fama por causa do seu canal “Theo Chen”, no Youtube, o tornando uma espécie de “webcelebrity” – celebridade da internet.
Em outro vídeo mais recente, ele dança, dubla a música “Sweet Nothing” de Calvin Harris, além de fazer caras e bocas. Com um dia de postagem, essa publicação havia alcançado 1.076 exibições. Ele também aparece dublando artistas como P!Nk, Bruno Mars e Nick Minaj, e até mesmo falando sobre coisas da vida.
Apesar de os comentários serem de cunho homofóbico, Theo afirma, sem pudores, que ainda não sabe afirmar se é gay.
“A verdade é que eu realmente não sei. Vocês pelo menos sabem quantos anos eu tenho? Eu tenho 12 anos, e vocês me chamam de gay? E o que importaria se eu fosse gay? Eu achei que este mundo fosse livre. Vocês não deveriam julgar as pessoas pela sexualidade, mas pela personalidade”.
Em outro momento, ele afirma que, por enquanto, prefere garotas. “Agora eu gosto de meninas, não penso que sou gay neste momento. Não que haja algo errado em ser gay. Ser gay é legal. Não há nada de errado.”
A intenção de Theo ao expor os sentimentos, segundo ele, era fazer com que as pessoas pensassem sobre o que dizem. O menino ainda lamenta e diz que gostaria de estar aproveitando a escola, mas não pode, porque as pessoas o atormentam o tempo inteiro.
Assista ao vídeo legendado:



Fonte:

IX Feira Cultural - CIS Guanabara

Os evangélicos progressistas

Seguidores da Bíblia, eles se opõem à violência contra homossexuais, defendem a igualdade entre homens e mulheres e enfrentam preconceito dentro e fora da comunidade religiosa

Alessandra Oggioni , especial para o iG São Paulo |
Eles são evangélicos, frequentam os cultos, leem a Bíblia e lutam para defender suas opiniões pessoais – mesmo que elas distoem do que pensa a maioria de seus irmãos em fé. Patrick, Morgana e Elias são considerados evangélicos progressistas, que se declaram contra a violência aos homossexuais, pregam a igualdade de direitos entre homens e mulheres e adotam uma postura mais questionadora sobre temas polêmicos, não sem enfrentar preconceitos dentro e fora do grupo ao qual pertencem. “Infelizmente, a sociedade vê o evangélico como conservador, limitado intelectualmente e manipulável. Mas esta não é uma imagem totalmente verdadeira”, afirma o comentarista esportivo Elias Aredes Junior, evangélico praticante.
Edu Cesar
Patrick, da Aliança Bíblica: "Para mim, ser progressista é não ter uma relação de submissão incondicional com a figura do pastor ou do líder religioso"

A comunidade evangélica no Brasil conta com mais de 42 milhões de pessoas, de acordo com dados do IBGE. O crescimento do número de fiéis é expressivo – eram 15,4% da população no ano 2000 e chegaram a 22,2%, em 2010.
Embora estejam todos “enquadrados” no mesmo grupo, há denominações bastante distintas. Os ensinamentos são diferentes em uma igreja da corrente histórica, como a Batista ou a Metodista, em comparação a uma pentecostal, à qual pertence a Assembleia de Deus, por exemplo, ou a uma neopentecostal, como a Igreja Universal do Reino de Deus.
Com doutrinas tão diferentes, alguns evangélicos buscam comunidades mais abertas a questionamentos e também participam de movimentos progressistas, para defender interpretações e pontos de vista nem sempre aceitos nos cultos. Conheça a história de três jovens cristãos que se incluem neste grupo.
Edu Cesar
Para Patrick, a polarização "evangélicos versus gays" precisa ser superada
Abaixo a submissão incondicional
Formado em ciências sociais, Patrick Timmer, 27 anos, trabalha como secretário-geral na Aliança Bíblica Universitária do Brasil, em São Paulo. De família evangélica, é membro da igreja Comunidade de Jesus, e se considera um “progressista”. “O termo progressista pode significar muita coisa. Para mim, é não ter uma relação de submissão incondicional com a figura do pastor ou do líder religioso”, define.
Para Patrick, tudo o que é ouvido no culto precisa “passar pelo crivo das escrituras e ganhar uma interpretação coerente”. Ele acredita que todo evangélico deve ter uma postura crítica e saber buscar respaldo na própria Bíblia. “É preciso analisar o contexto, procurar literaturas de apoio, conversar com outras pessoas. O diálogo e o debate sempre ajudam na construção de uma democracia saudável”, afirma.
A submissão para justificar a violência não tem base bíblica”
Ele explica que, em muitos casos, trechos da Bíblia são usados para justificar atos de opressão ou abuso, especialmente contra as mulheres. “Certas leituras podem levar a uma interpretação equivocada de superioridade de gênero. Mas a submissão para justificar a violência não tem base bíblica”, defende Patrick.
Sobre o homossexualismo, comumente alvo de críticas de líderes religiosos e dos políticos da bancada evangélica, Patrick diz que é preciso mudar esta polarização de “evangélicos versus gays”. Para ele, violência e intolerância são inaceitáveis, sejam por racismo, machismo, xenofobia ou homofobia.
Arquivo pessoal
Morgana é secretária-executiva da rede Fale, união de grupos evangélicos que promove a justiça social
A favor de um Estado laico
A missionária Morgana Boostel, 26 anos, também se considera uma evangélica progressista. Ela é secretária-executiva da Rede Fale, uma organização internacional ligada a várias congregações evangélicas, que atua em campanhas contra injustiças sociais. Em março deste ano, a Rede publicou uma carta aberta, assinada por 173 pastores e líderes evangélicos, se posicionando contra a permanência de Marco Feliciano na presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM). Dezenas de comentários na própria página da rede rechaçaram a opinião dos pastores.
“Todos devem ter os direitos garantidos, independentemente da sua história ou trajetória familiar”, defende.
Evangélica desde criança, ela já frequentou a igreja Batista e hoje é membro da Comunidade Anglicana Neemias, na cidade de Vitória (ES). Morgana defende fervorosamente a liberdade de crença e se mostra contrária à intervenção da Igreja em ações do governo. “Estado laico não é a ausência de elementos de fé, mas a possibilidade de expressá-la da forma que cada um considere importante”.
Estado laico não é a ausência de elementos de fé, mas a possibilidade de expressá-la da forma que cada um considere importante”
Para ela, assim como a opção religiosa, todas as escolhas devem ser respeitadas. Cada um é responsável por decidir o que achar melhor para a própria vida, até mesmo quando se trata de questões sexuais. “É inadimissível qualquer tipo de violência contra homossexuais. Isso inclui o preconceito, pois [o preconceito] incita a violência”.
Arquivo pessoal
Elias, comentarista esportivo, é ligado a movimentos progressistas desde a adolescência
Em defesa da diversidade
A igreja não consegue lidar com este cenário multifacetado. (...) Quem não estiver dentro de um modelo preestabelecido fica de fora"
O comentarista esportivo Elias Aredes Junior, 40 anos, sempre foi de família evangélica. Ainda adolescente, aprendeu com os tios a questionar os valores pregados nas igrejas que sempre frequentou. “Comecei a despertar para temas de justiça social e igualdade, o que me levou a participar ativamente de movimentos estudantis”, conta ele, que hoje também frequenta reuniões e encontros do Movimento Evangélico Progressista.
Elias, que faz parte de uma igreja na cidade de Campinas (SP), considera boa parte da comunidade evangélica bastante conservadora. “Muitas vezes, a igreja não consegue lidar com este cenário multifacetado. E isso não é bom porque não contempla a diversidade. Quem não estiver dentro de um modelo preestabelecido fica de fora”, diz.
Ele cita um exemplo que ouviu de um pastor em outra denominação religiosa, que frequentava anteriormente. Durante um culto, o líder disse que, ao ver uma passeata gay, teve vontade de jogar o carro contra a multidão. “Achei aquilo horrível. Posso não concordar com a conduta gay, mas o Estado tem a obrigação de assegurar-lhes todos os direitos, inclusive o de manifestação”, opina.
Para Elias, o problema de lidar com a diversidade vai além da questão gay, incluindo também as novas formações familiares. “Vi vários casos de preconceito contra mães solteiras. Então, quando uma mulher é solteira ou separada, ela não pode ser considerada família pela igreja?”, questiona.
Para mudar este cenário e promover a inclusão, Elias acredita que cabe aos próprios evangélicos lutar pelo que acreditam e “adotar” líderes e representantes que estejam mais de acordo com o perfil de cada um. “O pastor da igreja que frenquento é aberto ao diálogo e respeita o que eu penso. Uma nobre e gratíssima exceção neste cinturão ditadorial existente na comunidade evangélica brasileira”, afirma.

Fonte:

Disparatada: Beijo gay não pode, mas tortura pode?

Por Tiago Duque* em 23/05/2013 às 18h18
Disparatada: Beijo gay não pode, mas tortura pode? O final da novela "Salve Jorge" apresentou uma cena absurda. Russo, personagem mau, agressivo, violento, desumano e perigoso, foi preso e torturado.
Quando vi que uma das policiais chamou as garotas que ele agrediu e ameaçou durante toda a novela para ir ao quarto onde ele estava algemado só de cueca nas grades da cama, logo imaginei: irão zombar dele! Ingenuamente cheguei a pensar que ela tinha trocado as roupas dela com as dele. Mas não imaginei que de hilário nada teria.

O que se viu quando as garotas entraram no quarto é algo bastante comum no Brasil, mas que deveria ser inaceitável. A policial, contraditoriamente, avisou que a polícia não poderia saber o que se passaria ali, e sugeriu que as garotas devolvessem toda a agressão sofrida. A cena de tortura começou com a protagonista da trama dando a primeira bofetada. Na sequência foi a vez das outras darem tapas, socos e murros no imobilizado.

Fazer justiça com as próprias mãos não parece nada ameaçador no horário nobre. Os gestos de violência foram cometidos entre risos e gargalhadas das personagens. A imposição da dor física simplesmente por prazer da pessoa que tortura pareceu agradar os fãs da novela, afinal, não vi nas redes sociais ninguém reclamando que se sentiu ofendido com as imagens, pelo contrário. Alguns comentários referiram-se a cena como algo que "todos" queriam participar.

Criticar e combater a tortura não é o mesmo que salvar as pessoas más ou culpadas. Responsabilizar com justiça e discernimento é preciso, não se trata de livrar ninguém da culpa que tem. Mesmo porque, o importante a ser entendido é que nada há de seguro que a tortura de hoje (que aflige o outro) em um momento seguinte não pode cair sobre nós mesmos.

Se vencer o mau reproduzindo o mau é agradável aos olhos da maioria dos telespectadores, como podemos pensar em um mundo em que as pessoas sofram menos ou sejam menos violentas? A ficção tem poder e por mais que alguns possam afirmar, "ah, mas é uma obra inocente, com o objetivo de entretenimento", ela produz e reproduz verdades, está em um espaço de disputas e defesas de valores que em nada são ingênuos.

Se isso não fosse verdade, não escutaríamos: "Ninguém quer ver um beijo gay na novela". Em uma sociedade em que a violência está naturalizada é mesmo mais difícil de valorizar as múltiplas expressões de afetos e desejos. Tampouco é fácil de compreender que a novela escolhe reproduzir uma cultura absurda e perigosa, em detrimento de expressões menos autoritárias e agressivas.

A surra que Russo recebeu das mulheres não foi justa, porque justiça se faz de outra forma. Não é justo defendermos que a agressão é legítima quando se trata de culpados serem as vítimas, assim como também não é justo que a expressão de amor (como um beijo) seja compreendida como ilegítima quando se trata de viados.

Parece-me ainda mais grave o fato de mulheres policiais chegarem a posições de poder, como a delegada e as policiais investigadoras da trama, e reproduzirem o mesmo padrão ilegal e violento de alguns homens policiais. Evidentemente que não se pode, de forma essencialista, esperar que agissem de forma diferente por simplesmente serem mulheres, mas isso mostra que não basta chegar lá. As mulheres em posições de poder como essas devem assumir o mesmo desafio que os homens que estão lá há mais tempo: cumprir a lei, respeitar os direitos humanos de todos, e fazer valer a justiça da maneira que se estabeleceu juridicamente.

Segundo uma matéria jornalística da revista Isto é, "Não existem números confiáveis sobre tortura no País. Como se trata de um crime praticado, em geral, por policiais ou carcereiros, as vítimas têm medo de denunciar".

Nesta mesma matéria, a verdade sobre a realidade desse tipo de violência no Brasil foi dita por Margarida Pressburger, integrante da ONU: "A tortura no País é cultural, generalizada e sistemática. Começou no período da escravidão e se mantém até hoje". Ela, afirmou ainda: "A vocação brasileira para a tortura se solidificou porque os torturadores não são punidos."

Na novela, como na vida real, a tortura policia não foi punida; sequer denunciada. Assim, enquanto o beijo gay parece ofensivo e impróprio, vamos engolindo violências consentidas e revestidas de legitimidade, quando na verdade, deveriam ser reconhecidas como afrontas a nossa forma de pensar uma sociedade menos violeta e mais justa, para todos.

*Tiago Duque é sociólogo e tem experiência como educador em diferentes áreas, desde a formação de professores à educação social de rua. Milita no Identidade - Grupo de Luta Pela Diversidade Sexual. Gosta de pensar e agir com quem quer fazer algo de novo, em busca de um outro mundo possível.

Fonte:

Eu acredito no meu Inkice/orixa

Para encantar nossos ouvidos


Homossexualidade não tem nada haver com Transexualidade



Religiões africanas à mercê da intolerância

Mais da metade das casas de umbanda ou candomblé do estado já sofreu algum tipo de discriminação

RIO — Para o agente de saúde Luiz Paulo, de 26 anos, havia chegado a hora de um passo importante no candomblé. Decidiu fazer o santo, rito que significa nascer para o orixá. Por três meses, tinha de vestir apenas roupas brancas e manter a cabeça coberta. Mas encontrou no trabalho, uma clínica da família do Rio, os obstáculos. Sua gerente o proibiu de cumprir seu preceito e exigia que ele usasse seu uniforme. Luiz Paulo tentou negociar: propôs que usasse um boné branco, reduzindo ao máximo seus paramentos religiosos. Vieram sucessivas recusas. Enquanto isso, a gerente, evangélica, reunia sua equipe para orações, dizendo que o clima no grupo estava “pesado”. Pouco tempo depois, Luiz Paulo foi demitido. Resultado, acredita ele, de discriminação religiosa e homofóbica, uma vez que também diz ter sofrido preconceito por ser gay.
No Rio de dezenas de credos, que receberá o Papa Francisco em julho, durante a Jornada Mundial da Juventude, casos como o de Luiz Paulo ainda são frequentes. E atingem sobremaneira seguidores de religiões como candomblé e umbanda, como revela o Mapeamento das Casas de Religiões de Matriz Africana do Estado do Rio, feito pelo Núcleo Interdisciplinar de Reflexão e Memória Afrodescendente (Nirema) da PUC-Rio. Das 847 casas pesquisadas desde 2008, mais da metade (430 delas) relatou episódios de intolerância religiosa contra seus centros ou seguidores nos últimos anos (o levantamento completo será apresentado em novembro, no livro “A presença do axé”).

Tratado como ovelha negra no trabalho
Realidade corroborada por um relatório do recém-criado Centro de Promoção da Liberdade Religiosa e Direitos Humanos (Ceplir, fundado em janeiro e ligado à Superintendência estadual de Direitos Individuais, Coletivos e Difusos), que chegou à conclusão de que, de janeiro a maio deste ano, foi o candomblé o segmento religioso mais vulnerável à violação de seus direitos no estado.

— Antes de ser demitido, eu era tratado como a ovelha negra da minha equipe. Os problemas se agravaram quando decidi fazer o santo. Nem minhas guias eu podia usar aparentes. Tinha de camuflá-las. Foram meses trabalhando sob pressão e olhares tortos — afirma o agente de saúde Luiz Paulo, uma das 38 pessoas que já procuraram o Ceplir, onde 10,53% dos atendimentos foram para adeptos do candomblé que buscavam orientações sobre seus direitos ou foram vítimas de intolerância religiosa no ambiente de trabalho, familiar ou na vizinhança.

Uma das mais respeitadas e conhecidas ialorixás do candomblé no Rio, Mãe Meninazinha de Oxum conta que um grupo já tentou invadir seu terreiro, em São João de Meriti, para “tirar o demônio” dali. Relata que constantemente sua caixa de correio aparece repleta de panfletos de igrejas evangélicas. Ao andar pelas ruas com suas vestimentas tradicionais, é repetidas vezes abordada por pessoas tentando convertê-la a outras religiões.

— Como todos no candomblé e na umbanda, sofremos principalmente com agressões verbais. Mas também há relatos de agressões físicas. São filhos de santo impedidos de usar seus colares, crianças agredidas nas escolas, casas invadidas... — conta Mãe Meninazinha, que comanda o terreiro Ilê Omolu Oxum desde 1968.
Em 2009, o terreiro de umbanda Centro Espírita Vovô Cipriano de Aruanda, em Caxias, teve o altar, as paredes de quartos de santo e vários objetos religiosos quebrados com uma marreta por um homem. Um ano antes, jovens invadiram e depredaram o Centro Cruz de Oxalá, no Catete. Já no barracão do sacerdote Alexandre Nunes Feijó, no Largo do Pechincha, na Zona Oeste, ele conta que voltava do Mercadão de Madureira, quando encontrou a frente de seu terreiro cercada por um grupo de parentes de um adolescente de 14 anos que fazia sua iniciação no candomblé — quando há um período de reclusão de duas a três semanas.

— A mãe, filha de santo, tinha autorizado. Também era uma vontade do menino. Cheguei, expliquei o que estava acontecendo, mas não houve conversa. Eles me acusaram de cárcere privado e chamaram a polícia — diz Alexandre.
A polícia também já foi chamada algumas vezes por vizinhos do Templo A Caminho da Paz, conta Amélia Martins, diretora de estudos do centro, no Cachambi. Todas as vezes, foram reclamações sobre o barulho. Só um dos muitos exemplos, segundo ela, de resistência à religião, que tem suas origens no Estado do Rio e cujo primeiro templo foi a Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade, de 1908, em São Gonçalo.
— Existe uma guerra silenciosa contra a umbanda. Isso tem feito alguns terreiros desaparecerem — afirma Amélia, revelando outra consequência da discriminação. — Muitos de nossos médiuns, por receio, escondem a religião no trabalho, no ambiente escolar e até mesmo familiar.

Sem coragem de contar para a mãe
É o caso do jovem Rodrigo D’Oxum, de 26 anos, frequentador do Centro Espírita Cabana das Almas, em Nova Iguaçu. Aos 18 anos, ele ingressou na umbanda. Mas ainda hoje não contou à família, cuja mãe, é “católica fervorosa”.
— Quando decidi pela umbanda, ainda morava com ela. E tenho certeza de que se criaria uma situação muito chata em casa — diz Rodrigo, que conta ainda ter medo de ser agredido ao fazer trabalhos em encruzilhadas à noite.
Cerca de 80% dos ataques contra religiões de matriz africana acontecem em ruas e parques. A professora do Departamento de Ciência Social da PUC-Rio e coordenadora geral do Nirema, Sonia Giacomino, destaca que, na maior parte dos casos, os adeptos dessas religiões são os alvos. Mas há também casos de terreiros apedrejados. Mais de 80% dos agressores, ainda segundo o mapeamento, são vizinhos dos centros e grupos evangélicos. Mas Sonia alerta que não se pode generalizar, porque eles não representam o conjunto dos evangélicos.

Superintendente estadual de Direitos Individuais, Coletivos e Difusos, órgão ligado à Secretaria estadual de Assistência Social e Direitos Humanos, Cláudio Nascimento observa ainda que a discriminação atinge outros grupos:
— Há, por exemplo, crianças muçulmanas perseguidas dentro da escola. Ou perseguição a integrantes de movimentos agnóstico e ateísta.
O Ceplir faz atendimento inicial pelo telefone 2334-9550 ou em sua sede, na Central do Brasil. Um grupo de 20 pessoas de credos diferentes trabalha agora em propostas de políticas públicas contra a intolerância religiosa. No dia 30 de maio, será apresentado à consulta pública o Plano Estadual de Enfrentamento da Intolerância Religiosa, o primeiro em âmbito estadual no país.


Vizinhos já chamaram a polícia, reclamando do barulho nas celebrações de templo no Cachambi
Foto: Marcelo Carnaval / O Globo
Vizinhos já chamaram a polícia, reclamando do barulho nas celebrações de templo no Cachambi Marcelo Carnaval / O Globo
 
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/rio/religioes-africanas-merce-da-intolerancia-8471972#ixzz2U9Zx8PW9
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Governo realiza 3ª Conferência Estadual de Promoção da Igualdade Racial no mês de agosto






Foto DenilsonSecreta

        Campo Grande (MS) – O Governo do Estado realiza no mês de agosto, por meio da Subsecretaria da Mulher e da Promoção da Cidadania e da Coordenadoria de Política de Promoção da Igualdade Racial (integrantes da Secretaria de Governo) e da Secretaria de Estado de Trabalho e Assistência Social, a 3ª Conferência Estadual de Promoção da Igualdade Racial, entre os dias 14 e 16, em Campo Grande.
        O evento, que terá como tema a “Democracia e Desenvolvimento por um Brasil Afirmativo sem Racismo”, terá os objetivos de reafirmar e ampliar o compromisso governamental e da sociedade civil com políticas de enfrentamento ao racismo e de promoção da igualdade como fatores essenciais à democracia plena e ao desenvolvimento com justiça social.
        Será proposto também, um conjunto de recomendações para o fortalecimento do enfrentamento ao racismo e para a promoção da igualdade racial no âmbito estadual e municipal, além de avaliar os avanços obtidos e os desafios a serem enfrentados após dez anos de implantação da Política Nacional de Promoção da Igualdade Racial.
        A discussão sobre os mecanismos de institucionalização da promoção da igualdade racial, tendo em vista a implantação do Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Sinapir), também será amplamente abordada, para que o assunto seja levado a 3ª Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Conapir) que acontece em Brasília, no mês de novembro.
        Reunião
        Para tratar dos assuntos referentes à conferência estadual, a secretária de Estado de Governo e vice governadora, Simone Tebet, se reuniu na tarde de hoje com a secretária de Estado de Assistência Social, Tania Mara Garib, e a coordenadora de Promoção da Igualdade Racial, Raimunda Luzia de Brito. Também participou do encontro a subsecretária da Mulher e da Promoção da Cidadania, Tai Loschi.
       O decreto convocatório da Conferência já está pronto e será assinado pelas duas secretárias e o governador André Puccinelli.
        Simone Tebet destacou a importância da realização da conferência para que sejam levantados debates e ideias do que precisa ser mudado nessas políticas, para que o Executivo possa implementar. “Este é um momento de fiscalizar, um foro para o debate de políticas públicas e, principalmente, o surgimento de novas ideias”, destacou.
        Para a secretária Tania Garib, o evento é uma excelente oportunidade para a sociedade avaliar e discutir a implantação de ações, seja qual for a temática. “Este é um momento de conferir ações. Em Mato Grosso do Sul temos muita coisa para ser avaliada e assuntos a serem ponderados. Temos aqui no Estado 14 comunidades quilombolas reconhecidas e isso servirá para elaboração de ações organizadas nessas comunidades”, reforça.
        Raimunda de Brito, coordenadora de Promoção da Igualdade Racial, afirma que o principal motivo da conferencia estadual e da nacional é discutir assuntos para uma maior inserção do negro na sociedade como um todo. “Somos 50,7% da população do Brasil e, do mesmo jeito que existem muitas políticas para índios e para a mulher, trabalhamos para conseguir ampliar a participação do negro na sociedade”, conclui.
Rodrigo Gordin 

Fonte:

Incra conquista posse de novos imóveis e avança na consolidação de território quilombola em Sergipe

O Incra assegurou, na manhã desta quinta-feira (23), a posse de quatro novos imóveis, que serão destinados à criação de um território quilombola no Baixo São Francisco, em Sergipe. Os sítios Faveira, Saco da Faveira, Serraria e Serraria I, localizados no município de Amparo do São Francisco, tiveram sua posse imitida em favor da autarquia federal e serão incorporados ao território da comunidade quilombola de Lagoa dos Campinhos.

Fruto de um decreto assinado em 2009 pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a área que compõe o futuro território quilombola era ocupada por 21 imóveis particulares. Dentre esses, 13 tiveram sua posse revertida ao Incra e outros oito aguardam decisões de ações já ajuizadas pela autarquia.

“Com a conquista desses novos imóveis, asseguramos a posse de cerca de 85% da área total do território. É uma marca importante, que demonstra o empenho do Incra em consolidar uma área para o desenvolvimento da comunidade”, afirmou a chefe da Divisão de Ordenamento da Estrutura Fundiária do Incra/SE, Tânia Aciole Bomfim.

Com uma área total prevista de 1.263 hectares, o território de Lagoa dos Campinhos encontra-se em fase de desintrusão e titulação. “Sabemos da importância de promover o acesso à terra, definindo um território para o desenvolvimento das famílias quilombolas. Por isso, seguiremos trabalhando muito para garantir novos avanços como esses em Lagoa dos Campinhos”, enfatizou o superintendente do Incra em Sergipe, Leonardo Góes.

Atividades produtivas

Localizada às margens do Rio São Francisco, a comunidade de Lagoa dos Campinhos vive por meio da manutenção de atividades como o cultivo de milho, feijão e mandioca, da criação de peixes e pequenos animais, além do desenvolvimento das pecuárias de corte e leiteira (com um rebanho de cerca de 600 cabeças).

Composta por 103 famílias autorreconhecidas como remanescentes dos antigos quilombos, a comunidade foi, ao lado de Mocambo, a primeira em todo o estado de Sergipe a ter a área do seu território reconhecida e definida em decreto presidencial.

Fonte: